"Neste período não aconteceu nada de novo, as discriminações, as desigualdades, as péssimas condições de vida e violência contra as mulheres já existiam antes, o que a pandemia fez foi torná-las mais evidentes e agravá-las, isso significa que é preciso uma tomada de consciência de que não podemos retroceder", disse a dirigente em declarações à Lusa no final da Manifestação Nacional de Mulheres, que decorreu esta tarde na Praça dos Restauradores, em Lisboa.
Questionada sobre o que é preciso para mudar essa situação, Sandra Benfica disse que "travar as políticas que degradam a nossa vida só acontece se as mulheres exercerem o seu papel e se participarem", visando atingir "o grande sonho" de viver em "igualdade de condições e em segurança".
Convocada pelo MDM sob o lema "Não há desculpa para retrocessos", a manifestação que juntou entre 500 a 600 pessoas, segundo a polícia, ou mais de mil, segundo a organização, vincou as desigualdades e defendeu mais medidas para valorizar o papel das mulheres.
"Falta-nos igualdade na vida, temos igualdade na lei mas essa igualdade ainda não chegou à vida das mulheres, desde logo na desregulação das regras do mundo do trabalho, em que as mulheres são as mais sacrificadas, são o maior número de trabalhadores precários, são as que mais usufruem do Salário Mínimo Nacional, são as que mais recorrem ao Rendimento Social de Inserção, são as mais pobres, as mais vulneráveis, as que têm salário e condições de trabalho mais precário", aponta Sandra Benfica.
Para a dirigente, a questão do confinamento tem de ser vista numa perspetiva mais geral, já que muitas mulheres continuaram a trabalhar presencialmente.
"As mulheres não estão todas confinadas, há teletrabalho para muitos, mas há muitos milhares de mulheres na saúde, na educação, nas fábricas, na agricultura, trabalhadoras de apoios sociais, em todos os setores da sociedade que são considerados essenciais, foram as mulheres que continuaram a trabalhar e a fazer o país caminhar e desenvolver-se", disse Sandra Benfica.
O abrandamento das medidas de confinamento, concluiu, decorre da análise de saúde pública, mas isso não implica para quem está em teletrabalho ou a trabalhar presencialmente que não sejam garantidas as medidas de valorização do trabalho e proteção da saúde e isso não foi devidamente assegurado, como se prova pelos números e pelos testemunhos que aqui trouxemos".
Portugal registou hoje 19 mortes relacionadas com a covid-19 e 564 novos casos de infeção com o novo coronavírus, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).
O boletim da DGS revela que o número de internados baixou dos mil, para 980 doentes (menos 66 do que na sexta-feira), o valor mais baixo desde 14 de outubro, dia em que estavam hospitalizadas 957 pessoas.
O novo coronavírus já infetou em Portugal, pelo menos, 368.368 homens e 445.067 mulheres, referem os dados da DGS, segundo os quais há 281 casos de sexo desconhecido, que se encontram sob investigação, uma vez que estes dados não são fornecidos de forma automática.
Do total de vítimas mortais, 8.740 eram homens e 7.929 mulheres.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.640.635 mortos no mundo, resultantes de mais de 119 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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