"Eu acho que a inteligência artificial é um meio e não um fim. No meio disto tudo tem que estar dimensão humana e o jornalista. Não há máquina que substitua o jornalista", defendeu a diretora de informação da agência Lusa, Luísa Meireles, que participava na sessão, organizada no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.
Conforme defendeu a diretora da Lusa, a inteligência artificial (IA) pode permitir gerir um número infindável de dados, mas é ao jornalista que cabe "ir mais longe" no escrutínio da informação.
Luísa Meireles vincou ainda que o serviço público tem uma responsabilidade acrescida, nomeadamente em Portugal, onde existe "uma crise grande, do ponto de vista da comunicação social".
Luísa Meireles lembrou que a agência de notícias está a desenvolver um conjunto de ferramentas com 'startups' (empresas com rápido potencial de crescimento económico) e outras organizações, por exemplo, em matéria de 'fake news' (desinformação), que vão ser disponibilizadas gratuitamente ao público.
"Em colaboração com o Centro Nacional de Segurança temos no nosso 'site' um curso 'online' do cidadão ciberinformado. A ideia é continuar a fazê-lo em diversas áreas, permitindo que qualquer cidadão possa usar aqueles instrumentos gratuitamente na sua vida normal e ao ler as coisas", apontou.
Presente na mesma sessão, a editora de notícias da BBC News, Rebecca Skippage, lembrou que a IA já é utilizada pelos jornalistas há mais de duas décadas, ressalvando que esta, apesar das oportunidades que introduz, tem que ser monitorizada.
"Na BBC ainda não chegámos ao ponto que gostaríamos, mas esta [IA] é uma área que necessita de uma maior pesquisa e monitorização", referiu.
Questionada sobre a forma como os jornalistas se adaptaram a esta nova realidade, Skippage disse que "há sempre uma preocupação quando se introduzem novas tecnologias" e quando se cria um novo desafio.
"As pessoas sentem o valor que isso introduz. As máquinas são ótimas, mas não são o melhor [...]. Adaptar esta realidade [ao jornalismo] tendo por base uma ideia de diversidade de valores e não apenas os 'clicks' é muito difícil", acrescentou.
Por sua vez, a diretora adjunta de media e diretora de informação da European Broadcasting Union, Liz Corbin, considerou ser necessário desenvolver um trabalho conjunto entre os serviços públicos e a inteligência artificial.
"É importante ter serviços públicos abertos, mas também uma abordagem aberta face à inteligência artificial", vincou.
Liz Corbin adiantou também que a European Broadcasting Union está a desenvolver muitos projetos neste âmbito, sendo um deles ligado à partilha de conteúdo digital através de várias organizações de media na Europa.
Já o diretor de Estratégias e Políticas nas áreas de Comunicação e Informação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Guy Berger, afirmou que já há 20 anos, quando a organização começou a trabalhar na área digital, o objetivo passou por conjugar o "quarto [jornalismo] e o quinto poder [digital]".
Guy Berger notou ainda que o jornalismo hoje está muito dependente da publicidade, o que enfraquece o setor e vai contra o seu propósito.
"Não podemos ser tecnicistas. Precisamos de mais", alertou, lembrando que hoje as informações acabam por ser muito personalizadas e filtradas, levando a que o conteúdo das notícias "não venha à superfície".
Damian Tambini, professor associado da London School of Economics, adiantou que "muito está a mudar" em termos da distribuição, inteligência artificial e da sua respetiva legislação.
"Quem controla a inteligência artificial? Quem decide o que deve ser considerado fiável", questionou, lembrando que a transparência deve ser um fator "muito importante" e que, atualmente, existe um "grande fosso" entre os serviços públicos e as organizações, no que concerne a estas matérias.
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