"A minha avaliação é que a interpretação do sistema [dos `airbags´] foi incorreta. O sistema interpretou mal o tipo de acidente e decidiu mal, não abrir os `airbags´", disse ao tribunal o engenheiro Sérgio Santos, um dos peritos responsáveis pelo relatório de reconstituição do acidente, elaborado pela empresa DEKRA, Peritagem Automóvel, de Leiria.
No processo cível, que começou a correr no Tribunal de Sesimbra, mas que transitou para Setúbal na sequência da reforma judiciária, Eduarda Farias e a filha reclamam uma indemnização de 1,2 milhões de euros e uma pensão anual de 10.000 euros, acrescida de 406,92 euros por mês para medicação.
Segundo a acusação, a jovem Andreia Rocha, na altura com 23 anos, ficou incapacitada e totalmente dependente, devido ao acidente de viação, uma colisão frontal entre o Audi A3 da Andreia e um pesado de mercadorias, que ocorreu em 7 de abril de 2008 na EN378, em Sesimbra, alegadamente, porque não foram acionados os 'airbags', devido a uma "falha ao nível da unidade de comando do sistema dos `airbags´".
Perante a juíza Maria Conceição Miranda, o advogado de defesa da Audi, Miguel Pena Machete, tentou explorar a possibilidade de os `airbags´ não terem sido acionados por, de acordo com os relatórios técnicos e com o testemunho dos dois peritos ouvidos hoje pelo Tribunal de Setúbal, ter havido "dois momentos de desaceleração" quando ocorreu a colisão frontal dos dois veículos.
Miguel Pena Machete questionou a possibilidade de a primeira desaceleração da viatura da Audi não ter sido suficiente para acionar os `airbags´ e de os mesmos não terem sido acionados, não por qualquer deficiência, mas por terem ficado inutilizados devido à violência da colisão.
O perito Sérgio Santos defendeu, no entanto, que não se tratava de dois momentos distintos de desaceleração da viatura (devido à colisão), mas de dois tipos de desaceleração no mesmo momento, em termos frontais e longitudinais, reiterando a convicção de que o acidente em causa deveria ter acionado os `airbags´ da viatura Audi 3.
Em declarações à Lusa no final da audiência, a advogada Susana Garcia, que representa Andreia Rocha, agora com 37 anos, e a mãe, Eduarda Farias, defendeu que houve mesmo uma falha no funcionamento dos `airbags´ da viatura da Audi.
"Quando estamos a comprar um carro, acreditamos que os `airbags´ vão funcionar se tivermos um acidente. Como disse o engenheiro [Sérgio Santos], normalmente, os `airbags´ até pecam por abrir, abrem mesmo às vezes quando o risco não existe. É para isso que existe um sistema de segurança passiva, do qual fazem parte do sistema dos tensores dos cintos de segurança e os `airbags´", afirmou.
Susana Garcia lembrou ainda que, "noutros países do espaço europeu, [a Audi] pura e simplesmente decidiu recolher estas viaturas e substituir o sistema de `airbags´, o que não aconteceu em Portugal".
O advogado que representa a Audi não quis prestar declarações no final da audiência.
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