Ucrânia. Portugal mantém apoio para "não enfraquecer ordem internacional"
O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, sustentou esta quarta-feira que Portugal continuará este ano "a apoiar a Ucrânia, na sua procura de uma paz que seja justa e que reforce e não enfraqueça a ordem internacional".
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País Guerra na Ucrânia
Cravinho, que falava na sessão de abertura do Seminário Diplomático 2023, evento anualmente organizado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) que junta todos os embaixadores e/ou chefes de missões diplomáticas portugueses, sublinhou que, num ano que se inicia "com contornos de grande dificuldade e desordem no sistema internacional", as escolhas de Portugal no que diz respeito ao apoio à Ucrânia, "são claras".
Em simultâneo, afirmou pretender que todo o MNE "esteja mobilizado para a leitura atenta de um mundo em rápida mutação, contribuindo para o posicionamento apropriado" de Portugal.
"A prudência e uma certa dose de pessimismo sobre aquilo que pode correr mal no plano internacional podem e devem ser equilibrados pela confiança nas capacidades da nossa diplomacia em encontrar caminhos possíveis para a paz e o diálogo", defendeu.
Salientou também que "dentro da própria União Europeia (UE)" se vivem "igualmente tempos transformativos", pelo que esta não tem outra opção senão "transformar-se numa potência geoestratégica" -- uma transformação para a qual se apresentam "três prioridades inelutáveis".
A primeira é "ter um caminho claro para o relacionamento com a vizinhança", referindo-se a novas adesões -- que não têm existido e não se anteveem "num horizonte próximo", embora haja novos países candidatos -, e que implicam "importantes transformações institucionais internas", que "também não se vislumbram no horizonte".
"Se é verdade que o alargamento se tornou um imperativo geoestratégico, é igualmente verdade que a reforma institucional e financeira é um fator imprescindível para esse alargamento. Faz-nos falta um mapa para que possamos fazer esse caminho duplo e simultâneo, e é para esse mapa que Portugal deve contribuir", frisou.
A segunda prioridade para que a UE se torne uma potência geoestratégica é "o regresso da Europa ao estatuto de superpotência comercial".
Trata-se, prosseguiu, de "um estatuto que tivemos durante décadas, mas que abandonámos por falta de visão estratégica e pela força de interesses particulares em diferentes países".
"Hoje verificamos uma grande incapacidade na utilização da política comercial para projetar os interesses europeus. Aquilo que era a joia na coroa do relacionamento externo da União Europeia representa hoje um obstáculo anacrónico no aprofundamento de relações com países e regiões que gostariam de ser mais próximos de nós".
Por essa razão, considerou urgente ajudar a Comissão Europeia "a desempenhar plenamente o seu papel, a começar pelos acordos na América Latina, com o Chile, o México e o Mercosul [Mercado Comum do Sul]", agora que existe "uma dinâmica nova no Brasil", vincou, referindo-se ao regresso de Lula da Silva à Presidência naquele país, e acrescentando: "A Índia é outro país com o qual temos de ter visão macroestratégica para romper com o predomínio dos microinteresses e das microideias".
A terceira prioridade, defendeu o chefe da diplomacia portuguesa, é que "a Europa da Defesa é inadiável", o que "significa várias coisas".
"Desde logo, a promoção da capacidade de planeamento e condução de atividades militares no plano europeu (...), um processo de harmonização de aquisições, algo que apenas começou através da Agência Europeia de Defesa, [e] o desenvolvimento rápido e profundo de um ecossistema de indústrias de defesa no espaço europeu, algo que está também a dar os primeiros passos e que precisa de ser assumido pelos governos europeus como prioridade", enumerou.
"Há desenvolvimentos importantes, como é o caso do projeto europeu para o avião de combate, mas precisamos de alargar muito o leque de atividades em comum", prosseguiu, observando: "Tudo isto vai custar dinheiro, mas produzirá também retorno económico e científico e, no contexto que vivemos, temos de compreender esta prioridade".
Salientou ainda que "naturalmente, é importante que este processo seja conduzido de forma sinérgica com a NATO, em complementaridade e tirando proveito das mais-valias de cada instituição".
"Em relação a estas três dinâmicas necessárias na UE, a ligação entre alargamento e reforma institucional, a promoção de uma política comercial ambiciosa, e a consolidação de uma Europa da Defesa, Portugal tem um papel a desempenhar", frisou.
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