O bispo de Beja, D. João Marcos, pediu perdão pelas polémicas declarações que teceu numa recente entrevista, na qual sugeriu que os padres envolvidos nos casos de abuso sexual na Igreja Católica fossem perdoados, defendendo agora que "não há lugar para os abusadores no sacerdócio".
Sublinhe-se que em causa está uma entrevista à SIC Notícias, na qual o bispo de Beja referiu que "todos somos pecadores, todos somos limitados, todos temos falhas", destacando que "na Igreja Católica existe o perdão".
Agora, num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, D. João Marcos pede desculpa por estas declarações e refere que "as suspeitas verosímeis" obrigam a tomar medidas, "incluindo o afastamento" dos sacerdotes "das tarefas pastorais".
"As suspeitas verosímeis obrigam a tomar medidas que evitem todo o perigo sobre menores, incluindo o afastamento das tarefas pastorais. A investigação deve ser rápida e seguir as regras claras definidas pelo Papa Francisco. A colaboração com as autoridades deve ser plena e deve ser cumprida plenamente a lei civil e penal", defende o bispo, que acrescenta que "as pessoas que passaram por uma situação de abuso têm de ser uma prioridade".
D. João Marcos lembra então a polémica entrevista, na qual referiu que "Deus perdoa a todo aquele que se arrepende e repara os danos causados pelo mal que praticou", admitindo que deu a entender que subestima "a enorme gravidade dos abusos sexuais de menores e que o perdão de Deus permite ao abusador retomar a sua vida normal".
"De nenhum modo é esse o meu pensamento. Compreendo a deceção que provoquei dentro e fora da Igreja e a todos peço perdão", clarifica, frisando que "os abusos de menores são da máxima gravidade".
"Os seus efeitos são devastadores. Se praticados por homens dedicados a Deus, são ainda mais graves e são blasfémias", lê-se.
Recorde-se que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'" deste fenómeno.
A comissão entregou aos bispos diocesanos listas de alegados abusadores, alguns ainda no ativo.
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