Uma utente, que se deslocou ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, para realizar um procedimento endoscópico, acabou colostomizada, nunca tendo sido informada do erro médico que levou a esta condição, avança a CNN Portugal. Além disso, o procedimento cirúrgico foi realizado por um médico que não estava autorizado a fazê-lo.
De acordo com a estação televisiva, que teve acesso ao relatório da comissão de inquérito ao incidente, a paciente, com mais de 80 anos, entrou no hospital a 28 de novembro para realizar um procedimento que foi registado como uma colonoscopia total. No entanto, a intervenção, que devia durar 15 minutos segundo Paulo Massinha, o médico responsável, não estava concluída três horas após o seu início.
O processo acabou por ser interrompido, por estar em perigo a vida da mulher e, como consequência dessa intervenção, a utente "sofreu uma perfuração retal, da qual resultou uma fístula retovaginal", indica o relatório.
O documento refere ainda que o procedimento nunca tinha sido realizado pelo Serviço de Gastroenterologia do Garcia de Orta devido à falta da capacidade técnica daquela unidade. A intervenção terá sido, inclusivamente, feita à "revelia" do diretor do Serviço - o responsável explicou que o médico Paulo Massinha pediu um instrumento específico para a realizar, pedido esse que foi negado pelo diretor, que defendeu que não havia condições. Ainda assim, Paulo Massinha avançou com a intervenção.
A paciente acabou internada durante cerca de três semanas após o procedimento e teve de ser colostomizada.
A comissão concluiu que esteve em causa uma "prática médica inoportuna e desautorizada pela direção" do serviço e apresentou várias propostas ao Conselho de Administração do Hospital, nomeadamente que fosse "equacionada a aplicação de uma sanção punitiva na forma de repreensão por escrito" e caso persistisse aquela forma de conduta, "deveria o Conselho de Administração ponderar a hipótese de suspensão/desvinculação do Hospital Garcia de Orta".
O médico em questão não quis ceder qualquer entrevista à CNN Portugal, mas disse que o sucedido foi uma intercorrência normal e confirmou que não recebeu até então qualquer punição por parte do Conselho de Administração - que, por sua vez, explicou que decidiu arquivar o processo a 16 de março, por entender que a prova produzida foi inconclusiva e contraditória, adianta a estação.
No entanto, o relatório não deixa margem para dúvidas e sugere, inclusivamente, que há matéria para participação disciplinar à Ordem dos Médicos. Além disso, o documento aconselha ainda a que seja evitada a "visibilidade pública" do caso, para evitar "consequência nefastas" para a unidade.
Por sua vez, a Ordem dos Médicos disse que teve conhecimento do relatório apenas através da CNN Portugal e pediu esclarecimentos urgentes ao Conselho de Administração: "Constitui uma obrigação ética e moral dos responsáveis das instituições e dos médicos a comunicação imediata à Ordem dos Médicos, de forma objetiva, e com a devida discrição, de situações que tenham posto ou possam por em causa a qualidade dos cuidados de saúde e a segurança dos doentes", cita a estação.
Já a utente nunca tinha sido informada sobre o que levou a que fosse colostomizada e a família vai avançar com um processo-crime para apurar responsabilidades.
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