Garcia de Orta ocultou erro médico que deixou paciente colostomizada

Família não sabia de erro e vai avançar com processo-crime.

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Notícias ao Minuto
08/05/2023 23:20 ‧ 08/05/2023 por Notícias ao Minuto

País

Garcia de Orta

Uma utente, que se deslocou ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, para realizar um procedimento endoscópico, acabou colostomizada, nunca tendo sido informada do erro médico que levou a esta condição, avança a CNN Portugal. Além disso, o procedimento cirúrgico foi realizado por um médico que não estava autorizado a fazê-lo.

De acordo com a estação televisiva, que teve acesso ao relatório da comissão de inquérito ao incidente, a paciente, com mais de 80 anos, entrou no hospital a 28 de novembro para realizar um procedimento que foi registado como uma colonoscopia total. No entanto, a intervenção, que devia durar 15 minutos segundo Paulo Massinha, o médico responsável, não estava concluída três horas após o seu início.

O processo acabou por ser interrompido, por estar em perigo a vida da mulher e, como consequência dessa intervenção, a utente "sofreu uma perfuração retal, da qual resultou uma fístula retovaginal", indica o relatório.

O documento refere ainda que o procedimento nunca tinha sido realizado pelo Serviço de Gastroenterologia do Garcia de Orta devido à falta da capacidade técnica daquela unidade. A intervenção terá sido, inclusivamente, feita à "revelia" do diretor do Serviço - o responsável explicou que o médico Paulo Massinha pediu um instrumento específico para a realizar, pedido esse que foi negado pelo diretor, que defendeu que não havia condições. Ainda assim, Paulo Massinha avançou com a intervenção.

A paciente acabou internada durante cerca de três semanas após o procedimento e teve de ser colostomizada.

A comissão concluiu que esteve em causa uma "prática médica inoportuna e desautorizada pela direção" do serviço e apresentou várias propostas ao Conselho de Administração do Hospital, nomeadamente que fosse "equacionada a aplicação de uma sanção punitiva na forma de repreensão por escrito" e caso persistisse aquela forma de conduta, "deveria o Conselho de Administração ponderar a hipótese de suspensão/desvinculação do Hospital Garcia de Orta".

O médico em questão não quis ceder qualquer entrevista à CNN Portugal, mas disse que o sucedido foi uma intercorrência normal e confirmou que não recebeu até então qualquer punição por parte do Conselho de Administração - que, por sua vez, explicou que decidiu arquivar o processo a 16 de março, por entender que a prova produzida foi inconclusiva e contraditória, adianta a estação.

No entanto, o relatório não deixa margem para dúvidas e sugere, inclusivamente, que há matéria para participação disciplinar à Ordem dos Médicos. Além disso, o documento aconselha ainda a que seja evitada a "visibilidade pública" do caso, para evitar "consequência nefastas" para a unidade. 

Por sua vez, a Ordem dos Médicos disse que teve conhecimento do relatório apenas através da CNN Portugal e pediu esclarecimentos urgentes ao Conselho de Administração: "Constitui uma obrigação ética e moral dos responsáveis das instituições e dos médicos a comunicação imediata à Ordem dos Médicos, de forma objetiva, e com a devida discrição, de situações que tenham posto ou possam por em causa a qualidade dos cuidados de saúde e a segurança dos doentes", cita a estação.

Já a utente nunca tinha sido informada sobre o que levou a que fosse colostomizada e a família vai avançar com um processo-crime para apurar responsabilidades.

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