Fábio Guerra. "Não podemos deixar que emoção destrua vida de dois jovens"

O advogado de Vadym Hrynko, condenado esta sexta-feira a 17 anos de prisão, considerou que se perderam "três vidas".

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Daniela Filipe, Lusa
02/06/2023 13:35 ‧ 02/06/2023 por Daniela Filipe, Lusa

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Fábio Guerra

O advogado de Vadym Hrynko, condenado esta sexta-feira a 17 anos de prisão pela morte do polícia Fábio Guerra, em março de 2022, assegurou, esta sexta-feira, que vai recorrer da sentença, apontando que se perderam "três vidas" neste processo.

"Perdemos aqui três vidas. A mais grave foi a do agente Fábio Guerra, que morreu. É o maior dano de todos, mas não podemos deixar que a emoção destrua a vida de outros dois jovens", disse José Teixeira da Mota, em declarações à imprensa, à saída do Campus de Justiça, em Lisboa.

O advogado assegurou ainda que lerá "o acórdão em sede de recurso, onde as emoções não tomam conta da decisão".

O tribunal decidiu condenar Vadym Hrynko a 15 anos e nove meses de prisão pelo homicídio de Fábio Guerra, a três anos e nove meses pelo homicídio na forma tentada do também agente da PSP João Gonçalves, a nove meses por ofensas à integridade física de Cláudio Pereira e a um ano por ofensas à integridade física de Rafael Lopes, o que resultou num cúmulo jurídico de 17 anos.

"Como podem os arguidos estar a defender-se de quem jaz inerte no chão? Como podem estar a defender-se se as imagens refletem uma euforia agressiva desmedida? As imagens desmentem os arguidos", afirmou a presidente do coletivo de juízes e jurados olhando para Vadym Hrynko e Cláudio Coimbra, sublinhando ser "irrefutável que os arguidos tinham consciência da sua superioridade física".

"Se dúvidas houvesse, e não há de todo, basta proceder à visualização dos vídeos. (...) Foi como se estivessem num ringue de boxe, com uma violência que deixava [os outros] no chão", notou, acrescentando: "Sabiam os arguidos que pontapear com violência a cabeça podia provocar a morte? Se sim, conformaram-se com esse facto? O tribunal analisou com muito cuidado esta questão e a resposta foi convictamente positiva".

À saída, Teixeira da Mota questionou as certezas do tribunal sobre estes factos.

"Quem é que estava inanimado quando ele pontapeou alguém? Quem? Consegue dizer-me? Não consegue, pois não? O tribunal também não", lançou, complementando que se o seu cliente não agiu em "legítima defesa, se calhar está na hora de começar a estudar outra vez direito".

José Teixeira da Mota apontou ainda que esta decisão reflete um "manifesto exagero resultante de uma retórica que durou um ano".

"Volto a lembrar. Este processo começa com toda a gente a dizer que estes senhores eram homicidas, que tinham matado polícias no exercício das suas funções, e que sabiam que eram polícias. Acabou a lançar-se mão da primeira qualificativa que estava mais à mão, cuja identificação jurisprudencial o próprio tribunal admite que é dúbia e que existem várias interpretações", esclareceu.

Ainda assim, o advogado salientou que Vadym Hrynko está "tranquilo", apesar de a família ter demonstrado "preocupação e desânimo" com o veredito.

De notar que os ex-fuzileiros Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko foram esta sexta-feira condenados a penas de 20 e 17 anos de prisão, respetivamente, no julgamento relacionado com a morte do polícia Fábio Guerra.

O agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) morreu aos 26 anos, a 21 de março de 2022, no Hospital de São José, em Lisboa, devido a "graves lesões cerebrais" sofridas na sequência das agressões de que foi alvo no exterior da discoteca Mome, em Alcântara, quando se encontrava fora de serviço.

O Ministério Público acusou os ex-fuzileiros, em setembro, de um crime de homicídio qualificado, três crimes de ofensas à integridade física qualificadas, e um crime de ofensas à integridade física simples.

[Notícia atualizada às 15h25]

Leia Também: Ex-fuzileiros condenados a 20 e 17 anos pela morte de Fábio Guerra

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