"Se não se fizer uma dragagem e a abertura de um canal com urgência, a lagoa corre o risco de fechar e de não se poder pescar", disse hoje à agência Lusa o presidente da Associação de Pescadores e Mariscadores da Lagoa de Óbidos (APMLO), Sérgio Félix.
A preocupação dos mariscadores prende-se com "um enorme desenvolvimento de limos que tem vindo a acontecer nos últimos dois anos, cuja causa pode estar na oxigenação insuficiente da água, devido ao assoreamento de grande parte do corpo da lagoa", explicou o presidente da APMLO.
A oxigenação da água da lagoa, localizada nos concelhos de Óbidos e das Caldas da Rainha, no distrito de Leiria, depende da ligação ao mar, feita através de um canal, a denominada 'aberta', que periodicamente acaba por fechar devido ao assoreamento.
"Neste momento, a 'aberta' não está fechada, mas a água que chega ao leito da lagoa é insuficiente e, na maré baixa, são visíveis muitos bancos de areia que evidenciam a necessidade de ser aberto um canal com mais caudal e que assegure a entrada de maiores quantidades de água do mar", afirmou Sérgio Félix.
Além de a insuficiente renovação de água "pôr em risco a sobrevivência dos bivalves, que têm vindo a diminuir, a exagerada quantidade de limos está a deixar os mariscadores sem locais onde seja possível fazer a apanha, tendo havido já vários casos em que os limos se enrolam no motor do barco rebentando com o motor", acrescentou.
As preocupações dos mariscadores foram, na quinta-feira, expressas à secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, numa reunião realizada no Vau, uma das freguesias ribeirinhas do concelho de Óbidos, confinantes com um dos braços da Lagoa.
Segundo Sérgio Félix, a governante "assumiu o compromisso de agendar nova reunião e solicitar também a presença do secretário de Estado do Ambiente [Hugo Pires] para visitarem a lagoa, de barco, e avaliarem o problema", que no entender dos mariscadores poderá ser atenuado "com a dragagem de um novo canal e o rebaixamento de uma zona de arenito".
A associação alertou ainda que o assoreamento "põe em risco não apenas a apanha de bivalves, mas também as atividades turísticas ligadas à lagoa e o socorro aos veraneantes na época balnear", dada a existência de "zonas em que o caudal é tão baixo que uma embarcação semirrígida que tenha que ir buscar alguém não consegue navegar".
A Lagoa de Óbidos é o sistema lagunar costeiro mais extenso da costa portuguesa, com uma área de 6,9 quilómetros quadrados que fazem fronteira terrestre com o concelho das Caldas da Rainha a norte (freguesias da Foz do Arelho e do Nadadouro) e com o concelho de Óbidos a sul (freguesias de Vau e de Santa Maria).
A lagoa foi, em 2022, alvo de dragagens na Zona Superior, numa empreitada de 14,6 milhões de euros para retirar 875.000 metros cúbicos de areia, ao longo de 4.000 metros de canais e 27 hectares de bacias daquele ecossistema, onde ciclicamente é preciso intervir para manter a ligação ao mar.
De acordo com a associação 160 mariscadores estão registados para a pesca na Lagoa, mas apenas cerca de 80 exercem a atividade.
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