O protesto "pela paz no Médio Oriente" foi organizado pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses -- Intersindical Nacional (CGTP-IN), pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) e pelo Projeto Ruído-Associação Juvenil.
A manifestação começou junto à embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, na zona de Sete Rios, seguindo depois em cortejo para a representação israelita nas Avenidas Novas.
Junto à embaixada norte-americana, os manifestantes deixaram uma grande tarja no viaduto sobre a Avenida dos Estados Unidos da América (EUA) com a inscrição "EUA cúmplice dos crimes de Israel. Cessar-fogo".
No mesmo local, outros traziam mensagens em inglês como "Hands off Iemen" ("Deixem o Iémen"), numa referência ao ataque de quinta-feira conduzido pelos EUA e pelo Reino Unido contra posições do grupo iemenita rebelde Huthis, ou outras frases em português como "Reeleição [do Presidente norte-americano Joe] Biden é a terceira guerra mundial".
Ao longo da manifestação destacava-se uma bandeira palestiniana estendida ao longo de cerca de 20 metros.
Os símbolos palestinianos e mensagens contra "genocídio", "apartheid" ou "crime de guerra" estiveram presentes ao longo de todo cortejo da manifestação, que se alargava por várias centenas de metros e foi acompanhada por um forte dispositivo de segurança.
Joumène Mami, de 24 anos, trazia um cartaz em cartão assinalando os 100 dias da guerra na Faixa de Gaza, desencadeada pelo ataque do movimento islamita palestiniano Hamas contra Israel em 07 de outubro do ano passado, e os 75 anos da ocupação israelita na Palestina.
"Nunca pensei escrever estes números numa manifestação como a de hoje", disse a estudante tunisina em Lisboa que se juntou ao protesto para alertar o mundo que "o genocídio está de volta".
Como tal, segundo afirmou à Lusa, sentiu que tinha de fazer a sua parte e concluiu: "Oxalá que alguma coisa aconteça".
Inês Almeida fez questão de também marcar presença e pedir o fim das hostilidades na Faixa de Gaza, referindo que manifestações como a de hoje, apesar de Portugal ser um país pequeno, "são importantes no seu conjunto".
A opinião pública está a começar a mudar e a ganhar consciência de que "há um genocídio" em curso, referiu Inês Almeida, apelando para um boicote a empresas e produtos que estejam associados à guerra.
"Obviamente a Palestina merece ser independente. Israel é um Estado genocida que ocupa e massacra desde 1948, portanto, já está mais que na altura de tratarmos disso", afirmou também à Lusa a bolseira de 32 anos.
Na manifestação de hoje em Lisboa era visível a presença de muitos estrangeiros, incluindo cidadãos oriundos do mundo árabe e também judeus que exibiam cartazes com a inscrição "Não em nosso nome", ao som de palavras de ordem como "Estados Unidos a vetar, Israel a bombardear", "Contra a violência há sempre resistência", "Hoje e sempre, Palestina independente".
Estiveram presentes no protesto várias estruturas sindicais ligadas a CGTP, cuja secretaria-geral, Isabel Camarinha, esteve no local, além do líder do PCP, Paulo Raimundo, e de Fabian Figueiredo, dirigente nacional do Bloco de Esquerda (BE).
A cessação das hostilidades é, segundo afirmou Paulo Raimundo, "uma exigência por esse mundo fora", como os milhares que hoje se reuniram em Lisboa, "mas também do povo israelita, porque o povo judeu também quer a paz".
Para o secretário-geral do PCP, é urgente travar "esta guerra em curso com o povo da Palestina", ou então o conflito "tenderá a escalar com tudo o que isso implica nas consequências não só para aqueles povos como para todos os povos do mundo".
Nesse sentido, Paulo Raimundo considerou que "esta determinação e esta solidariedade" hoje observada em Lisboa é uma forma de pressionar o Governo de Israel e os líderes de todo o mundo, deixando uma mensagem para a diplomacia portuguesa.
"A primeira coisa que Portugal podia fazer era reconhecer o Estado da Palestina, que é a grande questão, e as fronteiras de 1967 e com capital em Jerusalém", defendeu Paulo Raimundo, acrescentando que "não é preciso esperar por ninguém para fazer isso".
Na mesma linha, o dirigente nacional do BE Fabian Figueiredo sustentou que "a diplomacia portuguesa pode fazer muito mais", nomeadamente deve apoiar a queixa da África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça contra Israel por genocídio na Faixa de Gaza, e "reconhecer imediatamente o Estado da Palestina, porque não basta dizer que apoia uma solução de dois Estados quando hipocritamente só reconhece um só".
O dirigente bloquista destacou os mais de 20 mil mortos na Faixa de Gaza, na maioria mulheres e crianças, segundo as autoridades locais, e lembrou que "nunca uma guerra matou tantos funcionários das Nações Unidas", descrevendo que "o que se passa é um teatro de horrores", que tem de ser parado por todos os meios.
"O Governo israelita tem que ser travado, como foi travado o Governo do 'apartheid' na África do Sul, com boicote, desinvestimento e sanções. O mundo não pode continuar a olhar de forma impávida e serena para a mortandade em Gaza e é por isso que tanta gente hoje saiu à rua", afirmou.
O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita em 07 de outubro, matando cerca de 1.140 pessoas, na maioria civis, segundo números oficiais de Telavive.
Em retaliação, Israel, que prometeu eliminar o movimento palestiniano considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local, já foram mortas mais de 23 mil pessoas, na maioria mulheres, crianças e adolescentes.
O conflito provocou também cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população da Faixa de Gaza), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado numa grave crise humanitária
[Notícia atualizada às 20h33]
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