"Temos o desafio da reconstrução e penso que, em primeiro lugar, é claro que não devemos esperar pelo fim da guerra", sustentou João Gomes Cravinho, na sua intervenção no III Fórum de Reconstrução de Jitomir, região situada a cerca de 150 a oeste da capital ucraniana, com a participação de dezenas de intervenientes ao longo do dia, numa organização tripartida de Portugal, Ucrânia e Estónia.
O chefe da diplomacia portuguesa, que hoje iniciou uma visita de dois dias à Ucrânia com o ministro da Educação, João Costa, afirmou que a melhor forma de apoiar a reconstrução do país não deve passar pela mera recuperação do que foi destruído - "isso seria uma resposta superficial" -, mas construir melhor.
Segundo Gomes Cravinho, é preciso "tirar partido da situação" e usá-la na reconstrução de forma a seguir "as normas, os padrões, as formas de funcionamento, a transparência, os regulamentos que são semelhantes aos que existem na União Europeia". A fazê-lo, prosseguiu, "a reconstrução será acompanhada em simultâneo pelo processo de integração" da Ucrânia ao bloco europeu.
O ministro dos Negócios Estrangeiros disse que Portugal aguarda "com expectativa" pelo plano de recuperação das autoridades da Ucrânia, destacando que este "tem de ser ucraniano, tem de ser propriedade ucraniana e basear-se numa visão coerente" para todo país.
Ao mesmo tempo, mencionou o apoio internacional, defendendo um modelo de multidoadores, numa plataforma que determine a forma como cada país "pode contribuir individualmente da melhor forma possível para esta visão nacional".
A propósito, João Gomes Cravinho apontou como "muito positiva" a sugestão dada pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no sentido de se contactar as autoridades locais e verificar como Portugal poderia dar o seu apoio, na qualidade de um país que não é grande nem rico.
"É bom encontrar a escala certa", frisou o ministro, prevendo um trabalho mais intenso a partir de agora na região de Jitomir, onde Portugal, a par da Estónia, se comprometeu com a reconstrução do setor educativo.
Durante a manhã será assinado o Memorando de Entendimento entre Portugal e a Ucrânia, com vista à reconstrução de estabelecimentos e equipamentos escolares.
O ministro português, que visitou Jitomir em agosto de 2022 e o Liceu 25, que Portugal deverá recuperar após ter sido destruído num ataque aéreo russo nos primeiros dias da invasão russa, justificou ainda as razões que levam a que a Ucrânia receba um apoio expressivo dos portugueses.
Em primeiro lugar, assinalou "o nível emocional", que está associado à presença há três décadas de "uma forte comunidade ucraniana muito integrada em Portugal e que é muito apreciada", que levou, no seguimento da invasão russa, a que o país acolhesse acima de 60 mil refugiados, dos quais "muitos felizmente já regressaram".
Depois, referiu-se ao desafio estratégico que é, para Portugal, "muito claro", face às intenções do Presidente russo.
"O que [Vladimir] Putin está a fazer é tentar negar a existência da Ucrânia. E, ao fazê-lo, está a lançar instabilidade e insegurança para toda a Europa durante gerações", declarou.
Se o líder do Kremlin não for travado, avisou, "as próximas vítimas serão outros membros da nossa comunidade euro, asiática, euro e atlântica", concluindo: "Por isso, fazemo-lo por vós, fazemo-lo por nós e fazemo-lo com profunda convicção".
Os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Educação portugueses chegaram hoje de manhã a Kyiv para uma visita de dois dias, ao longo da qual vão dedicar a agenda de hoje ao setor educativo em Jitomir e, na terça-feira, serão recebidos pelo Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e manterão reuniões com os seus homólogos.
Esta é a quarta visita a Kyiv de João Gomes Cravinho desde a invasão da Ucrânia pelas forças russas há quase dois anos, em 24 de fevereiro de 2022.
Leia Também: Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Educação estão em Kyiv