A ex-ministra da Saúde, Marta Temido, reagiu, esta quinta-feira, às buscas realizadas pela Polícia Judiciária (PJ) no Ministério da Saúde e no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, no âmbito do caso das gémeas luso-brasileiras.
"As polícias e o Ministério Público (MP) têm de fazer o seu trabalho de investigação. Eu não comento 'timings', eu não comento decisões", começou por referir em declarações aos jornalistas, na Figueira da Foz.
A atual cabeça de lista do Partido Socialista (PS) às eleições Europeias recusou também que as buscas tenham um efeito negativo na sua campanha e reiterou a sua "confiança nas instituições".
"Tenho de ter confiança que as diligências que estão a ser feitas têm um propósito e vão conduzir a um apuramento total daquilo que são os factos relacionados com o caso", afirmou.
E acrescentou: "Não tenho nenhuma ligação à situação e insisto nesse aspeto".
Questionada sobre o facto do ex-secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, ter sido constituído arguido, Marta Temido frisou que "a constituição de arguido visa ouvir alguém em processo e, de alguma forma, dar-lhe um conjunto de direitos processuais" e "agora a investigação vai prosseguir".
Marta Temido disse ainda que "as pessoas sabem que a intervenção de um ministro da Saúde - no caso, uma ministra - relativamente à administração de medicamentos não existe", mas mostrou-se "disponível para prestar todos os esclarecimentos".
A ex-ministra "espera" ser "chamada pela Polícia Judiciária", depois de ter prestado declarações à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), garantindo que irá reiterar "aquilo que não fez".
Questionada sobre se estas buscas em período de campanha eleitoral significam uma judicialização da política, Marta Temido foi perentória: "Eu sou candidata, eu sou cabeça de lista de uma candidatura. Obviamente que não me ouvirá dizer rigorosamente nada sobre isso, muito menos relativamente a um tema que poderia ser problematizado, polemizado. Eu não entro nessa disputa".
"Cada um fará as suas escolhas e os portugueses farão as suas escolhas", acrescentou, referindo que até ao momento não foi notificada para prestar qualquer esclarecimento, mas que está disponível para que isso aconteça.
Sublinhe-se que a PJ está a efetuar buscas no Ministério da Saúde e no Hospital de Santa Maria no âmbito da investigação ao caso das gémeas. Segundo um comunicado do MP, em causa estão factos suscetíveis de configurar "crime de prevaricação, em concurso aparente com o de abuso de poderes, crime de abuso de poder na previsão do Código Penal e burla qualificada".
Na mesma nota, o MP confirma que as buscas decorrem em duas unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e em instalações da Segurança Social, assim como num domicílio, visando a recolha de documentação.
Contactada pela Lusa, fonte da Unidade Local de Saúde (ULS) de Santa Maria disse apenas que prestará "toda a colaboração às autoridades".
A informação sobre as buscas foi avançada hoje pelo Correio da Manhã e pela CNN Portugal. Em causa está o tratamento em 2020 de duas gémeas residentes no Brasil, que adquiriram nacionalidade portuguesa, com o medicamento Zolgensma. Com um custo total de quatro milhões de euros (dois milhões de euros por pessoa), este fármaco tem como objetivo controlar a propagação da atrofia muscular espinal, uma doença neurodegenerativa.
[Notícia atualizada às 13h13]
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