Sediada na Casa de Tormes, na freguesia de Santa Cruz do Douro, concelho de Baião, cenário que serviu de inspiração para a obra literária "A Cidade e as Serras", a Fundação Eça de Queiroz vai abrir as portas, nos dias 04 e 05 de janeiro, para homenagear o escritor, como anunciou em comunicado.
Sessões evocativas de Eça de Queiroz, uma oficina de escrita de ficção a partir da obra queirosiana pela escritora Filipa Melo, um jantar-tertúlia com o escritor Mário Cláudio e visitas guiadas gratuitas, em que será possível ver peças raramente mostradas ao público, incluindo desenhos e manuscritos do escritor, fazem parte desta programação especial.
No domingo, dia 05 de janeiro, a urna contendo os restos mortais de Eça de Queiroz ficará em câmara-ardente na Casa de Tormes antes de partir para Lisboa.
No sábado, dia 04 de janeiro, entre as 09:30 e as 16:30, a Casa de Tormes estará em regime aberto, com visitas guiadas gratuitas, de hora a hora, e não precisam de marcação.
Nestas visitas estará incluída uma mostra única do arquivo pessoal de Eça de Queiroz, com documentos e peças raramente mostrados ao público, como desenhos, manuscritos e pequenas recordações pessoais, bem como todas as primeiras edições, patentes no Núcleo Luís Santos Ferro.
Estarão também expostos documentos da carreira diplomática temporariamente cedidos pelo Arquivo Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, acrescenta a fundação.
Às 14:30, terá lugar uma oficina de escrita de ficção a partir da obra queirosiana, dinamizada pela escritora Filipa Melo, cujas inscrições são limitadas a 60 lugares e estão abertas até ao dia 03 de janeiro.
Às 16:00 serão anunciados os escritores selecionados para a terceira temporada das Bolsas de Residência Literária Eça de Queiroz, uma parceria entre a fundação, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda e a Direção-Geral do Livros, dos Arquivos e das Bibliotecas.
Será também feito o anúncio da abertura das candidaturas ao Prémio Literário Fundação Eça de Queiroz / Fundação Millennium bcp, seguindo-se intervenções evocativas de Eça de Queiroz.
À noite, na Casa de Tormes, decorre um jantar-tertúlia com o escritor Mário Cláudio para os alunos do ensino superior vencedores do Concurso de Leitura Ensino Superior do Plano Nacional de Leitura.
No domingo, a urna contendo os restos mortais de Eça de Queiroz estará em câmara-ardente no átrio principal da Casa de Tormes, perto dos objetos que o rodearam em vida, como a secretária onde escrevia e os livros da sua biblioteca.
Segundo a Fundação Eça de Queiroz, este será um "momento simbólico e solene" que representa a "derradeira despedida da Quinta de Vila Nova antes da partida para Lisboa", cuja guarda de honra estará a cargo da Confraria Queirosiana.
Os visitantes poderão prestar homenagem ao escritor das 09:30 às 16:30.
Os restos mortais de Eça de Queiroz vão ser transladados para o Panteão Nacional no dia 08 de janeiro, uma decisão que foi tomada após resolvida a contenda judicial com os familiares do escritor que se opunham a esta possibilidade.
Em janeiro de 2021, a Assembleia da República aprovou por unanimidade um projeto de resolução do PS para "conceder honras de Panteão Nacional aos restos mortais de José Maria Eça de Queiroz, em reconhecimento e homenagem pela obra literária ímpar e determinante na história da literatura portuguesa".
No entanto, a seguir, um grupo de bisnetos de Eça de Queiroz começou por apresentar uma providência cautelar para impedir a trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional. Este grupo de herdeiros acabou por levar esse processo até ao Supremo Tribunal Administrativo.
Dos 22 bisnetos do escritor, 13 concordaram com a trasladação para o Panteão Nacional, havendo ainda três abstenções. Também a Fundação Eça de Queiroz se manifestou favorável à trasladação.
Em 25 de janeiro deste ano, o Supremo Tribunal Administrativo (STA) rejeitou o recurso dos seis bisnetos do escritor Eça de Queiroz, que contestavam a sua trasladação para o Panteão Nacional, permitindo que a homenagem apoiada pela maioria dos descendentes se concretize.
Eça de Queiroz morreu em 16 de agosto de 1900 e foi sepultado em Lisboa. Em setembro de 1989, os seus restos mortais foram transportados do Cemitério do Alto de São João, na capital, para um jazigo de família, no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião.
A resolução aprovada em 2021 surgiu em resposta a um repto lançado pela Fundação Eça de Queiroz, nos termos da lei que define e regula as honras de Panteão Nacional, destinadas a "homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade".
Eça de Queiroz, nascido na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, em 1845, foi autor de contos e romances, entre os quais "Os Maias", que gerações de críticos e investigadores na área da literatura consideram o melhor romance realista português do século XIX.
A sua vasta obra inclui títulos como "O Primo Basílio", "A cidade e as serras", "O Crime do Padre Amaro", "A Relíquia", "A Ilustre Casa de Ramires" e "A Tragédia da Rua das Flores".
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