O destaque foi um carro alegórico em que um folião disfarçado de padre, mas com a cara do presidente do Governo da Madeira, Miguel Albuquerque (PSD), abençoava três noivas com máscaras de Miguel Castro (líder regional do Chega), Élvio Sousa (secretário-geral do JPP) e Paulo Cafôfo (líder regional do PS).
"Tradicionalmente, mesmo no tempo do Estado Novo, o Carnaval era a única maneira de fazer alguma sátira às instituições. Agora, podem fazer todos os dias, graças à democracia", disse o chefe do executivo madeirense aos jornalistas, vincando que aceita bem a troça no Cortejo Trapalhão.
Miguel Albuquerque encontrava-se entre os milhares de pessoas, residentes e turistas, que assistiram à passagem do corso carnavalesco com centenas de participantes, que percorreu as avenidas marginais Sá Carneiro e do Mar, na capital madeirense.
A chuva chegou a ameaçar o desfile, mas não foi suficiente para o impedir, e os foliões avançaram com muita animação, exibindo uma enorme variedade de disfarces, alguns bem elaborados, outros verdadeiramente trapalhões, extravagantes e burlescos, com muita música à mistura, confeites e serpentinas.
Desfilaram personagens da Disney, homens disfarçados de mulheres, mulheres disfarçadas de homens, crianças a fingir que eram velhos, velhos a fingir ser crianças, pessoas com máscara e sem máscara, utentes de centros comunitários, famílias inteiras e até cães.
"A alegria não tem idade", dizia um cartaz transportado por um mascarado, e outros foram surgindo à medida que o cortejo progredia, apontando também para a crítica social e política, como "Agricultura e saúde nas ruas da amargura", "Vou abraçar o desemprego", "A Madeira não precisa de oposição para nada", "Amigo do amigo do amigo".
O Presidente norte-americano Donald Trump também desfilou à frente de um carro alegórico com a inscrição "Trump resolve", ao que se seguia um atrelado com gradeamento onde se encontra Vladimir Putin.
Trump distribuiu dólares e até pousou para a fotografia ao lado de Miguel Albuquerque.
"No dia 23, espero que acabe o Carnaval, esse carnaval político", disse o presidente do Governo Regional, referindo-se às eleições antecipadas regionais de 23 de março. E acrescentou: "Nós precisamos de estabilidade, de um governo para governar. Portanto, espero que estas eleições inesperadas e patéticas e descabidas, provocadas pela oposição, acabem com este período instabilidade na Madeira e também no país."
Na rua, a animação prosseguiu, com o público a presenciar, entre outras tropelias, à fuga de um homem com uma mala na mão e o nome Miguel Arruda (ex-Chega) escrito nas costas, acabando por ser detido por vários seguranças, que eram também mascarados.
O Cortejo Trapalhão, carregado de herança cultural, revive o espírito carnavalesco da primeira metade do século XX na Madeira e é considerado a expressão mais autêntica desta época, embora tenha vindo a perder algum fulgor nos últimos anos, sendo um dos pontos altos das festividades, que terminam em 09 de março.
O secretário regional da Economia, Turismo e Cultura, que também assistiu ao desfile, disse aos jornalistas que o balanço da edição deste ano é, para já, "francamente positivo", destacando a ocupação hoteleira superior a 90%.
O Governo da Madeira investiu este ano 511 mil euros nas festividades de Carnaval.
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