O nome do estadista, cujo cinquentenário da morte se assinala este sábado, é um dos mais evocados no concelho de Câmara de Lobos, a oeste do Funchal, quando se trata de figuras ilustres. As fotografias que o mostram a pintar a baía e o ilhéu tornaram-se uma imagem de marca e o miradouro onde montou o cavalete de pintura tem agora o seu nome.
"A visita de Churchill à Madeira, a convite do Reid's (Palace Hotel), foi uma campanha de marketing, porque os ingleses eram os principais clientes do hotel. A iniciativa teve um grande impacto e o hotel, no decurso dos anos 50 e 60, retorna aos tempos áureos, com a presença de muitos famosos", disse à Lusa o historiador Alberto Vieira, diretor do Centro de Estudos de História do Atlântico.
Para Alberto Vieira, "a história da Madeira é feita não tanto dos indígenas, mas fundamentalmente dos forasteiros, porque são eles, muitas vezes, aqueles que mais contribuem para a afirmação da Madeira no mundo. Churchill é um deles. A sua presença teve grande impacto sobretudo no turismo e (...) deu frutos que ainda hoje continuam a ser um chamariz".
O Reid's Palace Hotel endereçou o convite no verão de 1949, para assinalar a reabertura após a 2.ª Guerra Mundial, e Winston Churchill chegou à ilha no dia 1 de janeiro de 1950, a bordo do navio Durban Castle. Vinha acompanhado da esposa, da filha mais velha, de duas secretárias, um criado pessoal, um guarda-costas e ainda do coronel Frederick Deakin, que o assessorava na escrita das memórias.
"A forma como a Madeira recebeu esta grande figura está bem expressa na publicidade e na divulgação que se fez daquela famosa fotografia do fotógrafo Raul Perestrelo, em que Churchill se encontra sentado num miradouro a pintar a baía de Câmara de Lobos", disse Alberto Vieira, salientando, no entanto, que o objetivo deste era "descansar e passar despercebido".
"Não tenho notícia de que lhe tenha sido propiciada uma receção, em termos oficiais, da parte das autoridades locais, porque acho que ele assim o quis. Caso contrário, é natural que lhe prestassem alguma homenagem", disse o historiador.
A presença de Winston Churchill na Madeira foi, contudo, bastante divulgada na imprensa local. "É óbvio que, mesmo querendo, ele não passou despercebido. Ele era o equivalente a uma 'super-vedeta' da atualidade", adiantou Alberto Vieira.
Winston Churchill foi recebido pelo cônsul de Inglaterra na Madeira e por um dos administradores do Reid's Palace. Dizem os relatos da visita que na viagem até ao hotel terá comentado: "Já fui cumprimentado por muitas pessoas neste mundo por quem fiz alguma coisa, mas nunca, em toda a minha vida, fui tão entusiasticamente recebido por pessoas por quem nunca fiz nada."
Uma vez instalado, permaneceu grande parte da estada no quarto, porque estava mau tempo.
No dia 8 de janeiro de 1950 deslocou-se a Câmara de Lobos, sete quilómetros a oeste do Funchal, num automóvel Rolls Royce da família Leacock. Num recanto, à entrada da vila, montou o cavalete e a tela, sentou-se e pintou a baía e o ilhéu. O fotógrafo Raul Perestrelo imortalizou o momento e, atualmente, o local é designado por Miradouro Winston Churchill.
Winston Churchill deveria permanecer na Madeira até 16 de janeiro de 1950, mas mudou o regresso para o dia 12, por causa da antecipação das eleições gerais em Inglaterra para fevereiro desse ano. Deixou a ilha a bordo de um hidroavião da companhia inglesa Aquila Airways, tendo a esposa e a filha regressado na data inicialmente prevista.
Winston Churchill morreu a 24 de janeiro de 1965, aos 95 anos. Foi primeiro-ministro britânico por duas vezes (1940-1945 e 1951-1955) e entrou para a história como um dos maiores estadistas do século XX. Em 1953, recebeu o Prémio Nobel da Literatura.