Gabriel, de seis anos, corre atrás do pequeno robô, corredor acima, corredor abaixo, até ficar cansado. O menino sorri quando o Gasparzinho lhe sorri, lhe pisca o olho ou lhe estende a mão. E fala com ele, como se de um amigo verdadeiro se tratasse.
"Ele não fala muito. Diz olá e não percebo a outra palavra", disse o menino à Lusa.
No entanto, quando chegou ao IPO, há quase um ano, o robô, que parece saído de uma série de ficção científica, ainda fazia menos coisas e chamava-se MBOT. Foi já no instituto que alguém o humanizou como Gasparzinho e o nome pegou.
Desde então, os técnicos têm estudado a relação do aparelho com as crianças e feito pequenas modificações que melhoraram as suas capacidades sociais.
"A receção aqui no IPO, a todos os níveis, desde as crianças, o 'staff', os próprios pais, tem sido extraordinariamente positiva. A nossa vontade é continuarmos a desenvolver este tipo de atividade, porque o 'feedback' é fantástico", afirmou João Sequeira, do IST, responsável pelo projeto.
João Sequeira realçou que o robô ainda não tem todas as suas capacidades em funcionamento.
No futuro, os técnicos pretendem que possa projetar um tabuleiro no chão e jogar um jogo com duas ou três crianças, além de controlar os meninos que muitas vezes usam o corredor para correr ou andar de triciclo.
Outra vertente "é servir de auxiliar na sala de aulas [o IPO tem uma sala de aulas com três professores], ajudando em pequenas coisas os professores", acrescentou.
Regra geral, as crianças reagem ao aparelho de acordo com o seu grupo etário.
"Há crianças muito pequenas que tendem a humanizá-lo imediatamente, a achar que ele é um de nós, há outros que ficam com dúvidas, portanto, há ali qualquer coisa, por um lado parece que sim, é um de nós, por outro lado não é. E depois há os maiores, que conseguem ter a sua distanciação", explicou Filomena Pereira, diretora da pediatria do IPO.
A responsável destacou que o projeto assume uma grande importância, porque combate o isolamento dos miúdos e estimula a "interação de grupo".
"A importância é, sobretudo, contrariar a tendência do isolamento nos seus próprios jogos, nos seus próprios 'gadgets' individuais, que os miúdos têm e que, quanto a mim, é extremamente preocupante em termos de construção da personalidade da relação interpessoal", salientou.
Filomena Pereira sublinhou que este é "um projeto complexo e muito ambicioso", porque também as relações humanas são complexas.
"Seria fácil se ele estivesse aqui a fazer rigorosamente a mesma coisa e a reagir de forma idêntica com todas as crianças. Mas a ideia é que ele estabeleça uma relação num padrão individual e penso que tem sido isso que tem feito demorar mais a evolução, até à conclusão do projeto", afirmou.
A figura do pequeno robô branco foi criada por designers, com base num inquérito e desenhos de 119 crianças e adolescentes de escolas portuguesas.
O MBOT, que agora é Gasparzinho para os amigos, é uma iniciativa integrada no programa europeu MOnarCH (Multi-Robot Cognitive Systems Operating in Hospitals), que envolve o Instituto de Sistemas e Robótica do IST e oito parceiros portugueses e europeus.