"Claro, estou aberto a receber. E tenho recebido", afirma Marcelo Rebelo de Sousa, numa entrevista à agência Lusa em que considera que já existe atualmente em Portugal "uma oposição inorgânica".
Sobre a existência de "uma alternativa forte" de Governo, responde: "Esse é o grande desafio que se vai colocar".
A propósito dos seus encontros recentes com o presidente do PSD, Rui Rio, e com o social-democrata Luís Montenegro, num momento de agitação interna neste partido, o chefe de Estado argumenta que "saber o que se passa no maior partido português não é propriamente irrelevante".
"A minha orientação é a seguinte: eu sou da proximidade", enquadra, interrogado se teria recebido igualmente o anterior secretário-geral dos socialistas, António José Seguro, e o atual primeiro-ministro, António Costa, quando disputaram a liderança do PS.
Sem responder diretamente à questão, Marcelo Rebelo de Sousa diz que procura, enquanto Presidente da República, ter "proximidade física, estar o mais próximo possível das pessoas", bem como "proximidade comunicacional, estar próximo dos meios de comunicação social" e também "proximidade institucional".
No plano institucional, adianta que tem a preocupação de "acompanhar o que se passa nas instituições existentes, mais antigas ou mais recentes, nas que já existem há mais tempo, nas que são criadas, vão ser criadas, saber o que se passa".
"Portanto, eu tenho recebido, com maior ou menor conhecimento público, dependendo dos próprios - a maioria não quer, mas há quem queira", acrescenta.
Pela sua parte, até prefere que haja publicidade e que seja quem é recebido a relatar, à saída, o que se passou no encontro: "Acho mais claro e mais transparente".
"É a minha orientação. Ficou claro desde a campanha eleitoral. Portanto, tenho recebido. Isto aplica-se a qualquer realidade partidária, mas também económica e social. Recebo os que estão no poder e os que estão na oposição e os que têm sensibilidades diferentes em todas estas organizações", reforça.
Quanto ao seu apelo à criação de alternativas fortes e claras de poder, o chefe de Estado explica que tem insistido nisso porque "uma oposição fraca dá um Governo fraco" e para evitar dar espaço a "uma oposição inorgânica".
"São movimentos sociais, são realidades, reivindicações sociais à margem das grandes centrais sindicais. São movimentos de opinião através dos antigos e novos meios de comunicação social", refere.
No seu entender, isso "já está a acontecer" também em Portugal, é evidente", quando "dizem as estatísticas que, porventura, a maioria das greves são convocadas, não pelos sindicatos clássicos, mas por outros sindicatos".
Marcelo Rebelo de Sousa assinala também os "movimentos de opinião mediaticamente muito fortes que não têm a ver com os debates partidários".
"E os partidos vão correr atrás do prejuízo, e os sindicatos tradicionais vão correr atrás do prejuízo, e o patronato vai correr atrás do prejuízo. Quer dizer, a tentar apanhar comboios em movimento", descreve.
Em resumo: "Em pequenino, mas existe. E existindo isso se percebe por que é que é tão importante haver, em cada momento, por um lado, uma capacidade de regeneração do sistema partidário e do sistema de parceiros sociais e, depois, alternativas de poder".
"Mas há, neste momento, a oposição forte? Esse é o grande desafio que se vai colocar", conclui.
A este respeito, o Presidente da República defende ainda que "é muito difícil ser oposição", mais ainda em conjunturas de "imprevisibilidade económica e política".
"É mais difícil ser oposição do que era quando eu fui líder da oposição. Era mais previsível o mundo, mais previsível na Europa, mais previsível política e economicamente. Essa imprevisibilidade torna muito difícil", sustenta.