"O professor ficará sempre na memória dos democratas portugueses como alguém que aguentou, por vezes debaixo de tiro, a pressão dos ventos revolucionários, para construir um partido que representava a democracia cristã e viria a prevalecer, nas urnas, como um dos principais partidos portugueses", escreveu Paulo Portas, numa nota enviada à agência Lusa.
De acordo com o também antigo vice-primeiro-ministro, Freitas do Amaral foi "um dos pais da democracia representativa em Portugal", tendo fundando "um partido [CDS] não-socialista em 1974".
Paulo Portas recordou também o fundador do CDS como "um dos expoentes da adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia [CEE]".
Para o ex-líder do partido centrista, "a capacidade inspiradora junto das democracias-cristãs" de Freitas do Amaral "foi decisiva para vencer resistências e dificuldades" na adesão de Portugal à CEE.
"Essa adesão, não o esqueçamos, marcou a aceitação definitiva do regime democrático, fundado na legitimidade eleitoral, e do modelo de Estado de Direito e economia social de mercado que orientam a pertença às instituições europeias", realçou.
Na mesma nota, Paulo Portas salientou que Freitas do Amaral foi, "nas revisões constitucionais sucessivas, uma figura intelectual e politicamente relevante".
"Conscientes de que a Constituição de 1976 era ainda tributária da legitimidade revolucionária e de um modelo económico socializante, creio ser justo reconhecer a razão histórica que tiveram o CDS e o seu líder e fundador na decisão de votar contra", adicionou.
O atual mandatário do CDS-PP pelo círculo de Aveiro elogiou "o percurso do professor e do partido que fundou", considerando-o como "determinante para podermos viver em democracia e com pluralismo em Portugal", apresentando condolências à família e amigos.
"O facto de o percurso do professor e do partido que fundou se terem a dado passo, separado, essencialmente pela questão europeia, não impediria, felizmente, a normalização de um relacionamento que teria sempre de se fundar no respeito pelos fundadores", narrou Portas.
Para Paulo Portas, "essa reconciliação fez bem a todos e ao partido em especial".
O também antigo vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros recordou com "emoção" a participação de Freitas do Amaral no 25.º aniversário do CDS e por ter escrito no livro comemorativo do 40.º aniversário do partido: "que todos os que serviram o país e o CDS podem olhar-se e respeitar-se naturalmente, uns mais no centro direita, outros mais no centro esquerda, mas sempre nos parâmetros do humanismo cristão".
O antigo líder do CDS-PP ainda acrescentou que Freitas do Amaral foi "um grande professor de Direito", e que "gerações sucessivas de estudantes leram os seus claríssimos manuais, aprenderam com as suas aulas de notável conhecimento e beneficiaram das muito reconhecidas qualidades de pedagogo que tinha".
Em síntese, Paulo Portas descreveu que "sem ação do professor Freitas do Amaral, muitos portugueses não teriam tido a oportunidade de ter um partido onde votar; Portugal teria demorado mais tempo a chegar à CEE, a crítica democrática da Constituição teria sido menos brilhante e a alternância democrática - com a instituição da AD - teria sido muito mais difícil".
O fundador do CDS e ex-ministro Diogo Freitas do Amaral morreu hoje, aos 78 anos. Freitas do Amaral nasceu na Póvoa de Varzim em 21 de julho de 1941. Foi líder do CDS, partido que ajudou a fundar em 19 de julho de 1974, vice-primeiro-ministro e ministro em vários governos.
Freitas do Amaral fez parte de governos da Aliança Democrática (AD), entre 1979 e 1983, e mais tarde do PS, entre 2005 e 2006, após ter saído do CDS em 1992.