"Não houve nem haverá muitos mais como ele e só posso lembrá-lo como um dos homens mais genuínos que tive a sorte de conhecer e de partilhar ideias e projetos", pode ler-se numa publicação de Francisco Louçã na rede social Facebook, intitulada 'José Mário Branco', que morreu hoje aos 77 anos.
"A todos impressionou com a sua energia indomável e com a sua fidelidade a uma esquerda de combate", elogiou, destacando ainda a "obra extraordinária como poeta e como músico" deixada por José Mário Branco.
Francisco Louçã começou por lembrar a "força genial da música popular portuguesa contra a ditadura" da obra de José Mário Branco quando ainda estava exilado em França.
"Soube dele quando regressou e mergulhou na transformação revolucionária que Portugal viveu, ele na UDP e fundador do Grupo de Acção Cultural. Mais tarde, seguiu o seu caminho, nunca esteve sozinho, o seu 'FMI' marcou gerações", lembrou.
Na perspetiva do ex-líder bloquista, "havia exasperação mas não desespero" e "talvez tenha sido até quando o Zé Mário se afirmou ainda mais radical, naqueles anos tristes da reviravolta, quando nos anos oitenta pouca gente sabia para onde ia e, pior, para onde queria ir.
"Foi nesse tempo que nos cruzamos e que nos fizemos amigos, também camaradas de percurso", recordou, numa publicação que é acompanhada por uma foto de José Mário Branco e de Francisco Louçã num ensaio, numa altura em que o compositor "apoiou campanhas e atividades do PSR".
Louçã lembrou ainda que José Mário Branco "foi dos signatários do apelo para a constituição do Bloco e membro da sua primeira Mesa Nacional".
Na rentrée do BE do ano passado, o Socialismo 2018, a presença do músico e compositor José Mário Branco foi um dos destaques daquela edição, num painel intitulado "No canto não há neutralidade".
Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, em particular no período da Revolução de Abril de 1974, cujo trabalho se estende também ao cinema, ao teatro e à ação cultural.
Foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge ou Samuel.
Estudou História nas universidades de Coimbra e do Porto, foi militante do PCP até ao final da década de 60 do século passado e a ditadura forçou-o ao exílio em França, para onde viajou em 1963, só regressando a Portugal em 1974.
Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.