Acordo entre o PSD e o Chega "dá uma grande vantagem à Esquerda"

Francisco Louçã analisou, esta sexta-feira, o acordo do PSD com o Chega nos Açores.

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Natacha Nunes Costa
13/11/2020 23:03 ‧ 13/11/2020 por Natacha Nunes Costa

Política

Francisco Louçã

Um dos temas quentes da semana foi a coligação entre o PSD, o CDS, e o PPM, com acordos com a Iniciativa Liberal e o Chega, nos Açores. A polémica negociação, cuja proposta ainda permanece em segredo, entre o partido liderado por Rui Rio e o partido de André Ventura, já levou a vários esclarecimentos, muitas críticas e até avisos por parte do Presidente da República.

Esta sexta-feira, no seu espaço de comentário semanal na SIC Notícias, Francisco Louçã analisou o tema e sublinhou que este acordo pode trazer várias e "problemáticas" implicações.

Antes de falar acerca do "preço a pagar" por um acordo entre o PSD e o Chega, o bloquista começou por criticar que o documento assinado entre os dois partidos ainda seja secreto. "Todo o acordo é secreto que é uma coisa espantosa, como é que pode acontecer uma coisa destas", atirou, explicando de seguida um dos poucos pontos revelados por André Ventura.

"Sabemos que o PSD Açores, com o compromisso do PSD Nacional, aceitou o compromisso que é preciso reduzir a 'subsidiodependência'. A frase parece-me muito bem, mas não é a promessa de arranjar emprego, não é a promessa de resolver o problema da miséria das pessoas excluídas e que vivem em grandes dificuldades. Em ilhas muito pequenas, a possibilidade de criar emprego é pequena. Em 2019, não estávamos nesta recessão nem nesta crise, o desemprego era bastante maior nos Açores do que no conjunto do País e também a pobreza extrema era quase o dobro. Uma parte destas pessoas, cerca de 20 mil, recebe o rendimento social de inserção", começou por explicar Louçã, relembrando que o Chega já anunciou que quer reduzir este número para metade.

"É tirar 10 mil pessoas do apoio à pobreza, mas não há nenhum plano para criar 10 mil empregos, até porque os Açores têm duas grandes ilhas e as restantes são muito pequenas. Há um problema estrutural numa economia muito dependente e muito vulnerável como o de muitas das ilhas dos Açores", esclareceu o Conselheiro de Estado, afirmando que esta medida é um "insulto" para os açorianos.

"Esta promessa é pura demagogia. Na verdade é só insultar os pobres e a inteligência de todos os açorianos, dizendo que é muito fácil resolver um problema, dizendo que o problema é dos pobres. Não, o problema é da vida social, das dificuldades, da história concreta dos Açores e aqui houve um remendo, um apoio que foi esta política social. O contexto desta proposta prova uma grande crueldade social, um grande desinteresse pelas soluções, uma grande impreparação sobre o rigor que é preciso ter quando é para fazer propostas", atirou Louçã.

Sobre a possibilidade deste acordo à Direita resultar, o fundador do Bloco de Esquerda mostra-se ainda mais desconfiado e reticente.

"Bom o Presidente da República sugeriu ‘pode ter um preço’. Tem um preço. Em primeiro lugar, o PSD e, em particular, Rui Rio muda muito rapidamente de opinião. Rui Rio dizia que nunca iria fazer um acordo com o Chega [...]. Portanto, esta mudança de opinião é problemática para a imagem que Rui Rio construiu e para aquilo que ele diz. Ajustar a política não por princípios e por ideias, mas conveniências e cheiros de poder é problemático", argumentou Francisco Louçã, acrescentando que há ainda outra consequência.

"Este cenário dos Açores e a forma como Rui Rio lhe deu corpo no conjunto do país, não se distanciando como podia ter feito, mostra que já não é possível em Portugal um Bloco Central com esta estrutura política e isso é um grande problema para o PSD, porque fica amarrado à obrigação de um acordo com o Chega, perturba muito um eleitorado de centro, dá alguma vantagem ao PS que dirá: 'Quem vota em Rui Rio está a apoiar André Ventura, vejam a selvajaria política que vem nesse tipo de política'. E, na verdade, dá uma grande vantagem à Esquerda, se esta for muito inteligente neste contexto", concluiu.

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