Fernando Medina, dirigente do PS e presidente da Câmara Municipal de Lisboa, deixou severas críticas ao comportamento de José Sócrates e acusou o antigo primeiro-ministro socialista de ser responsável por uma descrença dos portugueses no sistema político e de correr o "funcionamento da democracia".
No seu espaço de comentário habitual na TVI, o autarca quebrou o silêncio do PS sobre o caso da Operação Marquês e sublinhou que a acusação de Sócrates pelos crimes de branqueamento de capitais e de falsificação de documentos é um "facto da maior gravidade e singularidade".
"É a primeira vez na nossa história conhecida que teremos em julgamento por um crime no exercício de funções um ex-primeiro-ministro e que, independentemente, da natureza mais ou menos extensa do crime, sabemos que é um crime com uma moldura penal significativa de cerca de 12 anos", apontou.
Para Medina, este é "o facto mais importante e fundador de um profundo sentimento de desconfiança na sociedade portuguesa e de descrença na relação entre eleitores e eleitos".
"Alguém que exerce as funções de primeiro-ministro, como outro eleito, tem uma suprema responsabilidade porque também um supremo privilégio que é ser depositário da esperança e da confiança de um país", vincou.
Segundo o comentador, o antigo governante provocou "um rompimento de laços de confiança" com os eleitores quando "há factos fundamentais de que alguém que foi primeiro-ministro recebeu avultadas quantias financeiras", afirmou, recordando que, sobre estas somas de dinheiro, foi usado o argumento de que resultavam de fortuna pessoal ou familiar.
"Sem qualquer justificação aparente, que o próprio [José Sócrates] não dá e entendeu não dar durante todos estes anos, é algo que marca de forma absolutamente negativa o sentimento de bem-estar e de confiança na sociedade portuguesa", considerou.
Mais, para o autarca - que desempenhou o cargo de secretário de Estado nos governos liderados por Sócrates - apesar de maioria dos crimes contra o ex-primeiro-ministro terem 'caído por terra', "o que está em causa já é suficientemente grave".
Ainda que tenha afirmado não querer fazer uma avaliação jurídica do processo, Medina apelou a uma reflexão sobre o funcionamento da justiça no país e rematou: "Este caso é um manual do que está errado no sistema de justiça".
O juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal decidiu levar a julgamento os arguidos José Sócrates, Carlos Santos Silva, pronunciados por três crimes de branqueamento de capitais e outros três de falsificação de documentos cada um; o ex-presidente do BES Ricardo Salgado, por três crimes de abuso de confiança; o ex-ministro Armando Vara, por branqueamento de capitais e João Perna, o ex-motorista do antigo primeiro-ministro, por posse de arma proibida.
A decisão do juiz ficou muito aquém do pedido pelo Ministério Público que tinha acusado 28 arguidos, entre os quais nove empresas, de um total de 188 crimes económicos e financeiros, entre os quais corrupção e fraude fiscal.
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