"Grande parte dos pensionistas está abaixo do limiar da pobreza"
Francisco Louçã considerou que há pacotes de medidas anunciados pelo Governo que não passam do anúncio.
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Política Francisco Louçã
O antigo dirigente do Bloco de Esquerda comentou, esta sexta-feira, as medidas anunciadas pelo Governo nos últimos dias, e apontou que o "grande debate" continua a ser as ajudas para os pensionistas.
"Uma grande parte dos pensionistas está no que Portugal considera abaixo do limiar da pobreza", referiu o comentador da SIC durante a rubrica 'Tabu'.
O comentador lembrou que a pensão média da Segurança Social é de 490 euros, e que o valor do limiar de pobreza estava nos 564 euros. "A média das pensões está 60 euros abaixo", apontou.
"Não há dúvida absolutamente nenhuma de que o patamar de recuperação fica abaixo do nível de inflação. Os pensionistas estão a perder em 2022. E podem perder em 2023", disse Louçã.
Sublinhando que também em 2024 os pensionistas vão "de certeza" perder a atualização destes valores, o ex-líder bloquista afirmou que "o grande problema aqui é um problema de confiança".
Creio que o Governo está muito atrapalhado"
"Quando esta fórmula foi apresentada foi garantida como a estabilidade que protegia as pensões ao longo da vida das pessoas - a inflação vai variando", referiu, defendendo que os governantes nessa altura "não estavam a querer enganar as pessoas". "Mas se a fórmula serve para atualizar em função da inflação, não podem é vir dizer que agora que a inflação é significativa deixa de ser utilizada para que o pensionistas tenham uma perca", acrescentou.
"Ouvir Vieira da Silva, o autor desta fórmula, vir dizer que a fórmula pode ser alterada para que as pensões percam poder de compra é lamentável - e põe em causa esta estabilidade que mais de dois milhões de pensionistas mereciam. É uma questão muito grave. Creio que o Governo está muito atrapalhado", rematou.
E as empresas?
Questionado também sobre se o pacote de medidas anunciado na quinta-feira pelo ministro da Economia ficava aquém, o antigo governante defendeu "quase metade deste pacote são empréstimos" - de acordo com as verbas mostradas por António Costa Silva, o pacote tem o valor de 1.400 milhões de euros. Destes, 600 milhões são uma linha de crédito. "Fica sempre a dúvida do que é anúncio e do que se concretiza", referiu, lembrando que das 847 empresas que ao longo deste ano entraram em insolvência, o programa que procurava recuperar "só abrangeu sete".
"Há muitas promessas, planos, grandes montantes anunciados pelo Governo que nunca têm sido concretizados", notou.
Já quanto ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) que se encontra a poucos dias de ter um CEO - depois da promulgação de um diploma esta sexta-feira -, Louçã quis assinalar os 43 anos da sua existência. "É uma grande vitória da democracia portuguesa", notou.
Serviço Nacional de Saúde
O comentador referiu ainda que o SNS era uma grande ferramenta que servia de barreira contra a pobreza. "Soube-se esta semana que nos anos da pandemia, houve mais 400 mil pobres em Portugal. Se não lhe dermos esta garantia - dos salários das pensões e da saúde -, o seu risco é muito grande", disse.
O ex-governante retratou ainda o que "herdam" os responsáveis pela pasta da Saúde. "Os problemas do Serviço Nacional de Saúde significam que havendo mais despesa, há também um menor peso da contribuição orçamental", o que se irá traduzir no aumento das dívidas deste serviço, de acordo com o especialista.
"Fernando Araújo é dos médicos e administradores que tem criticado esta política salarial, mas nessa o Governo não quer mexer"
"Mas o maior problema é o da capacidade técnica", disse, referindo-se ao número de médicos que têm deixado o SNS, seja porque se reformaram ou porque optaram pelo serviço privado. Louçã não deixou de apontar que um dos problemas que levavam à saída destes profissionais era o dos salários.
"Este é o retrato que temos das dificuldades", referiu, acrescentando que "não há dúvidas nenhumas" de que Fernando Araújo será o novo CEO do SNS. "É dos médicos e administradores que tem criticado esta política salarial, mas nessa o Governo não quer mexer", rematou.
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