Costa em defesa de Marcelo? "Foi uma atitude cínica do primeiro-ministro"
Na ótica de Francisco Louçã, Marcelo Rebelo de Sousa "sentiu o toque de condescendência e o jogo que o primeiro-ministro estava a fazer" no que concerne toda esta polémica.
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Política Francisco Louçã
Francisco Louçã considerou, esta sexta-feira, que a intervenção do primeiro-ministro acerca das declarações polémicas que o Presidente da República fez sobre os 424 depoimentos recebidos pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja (CIEAMI), relacionados com alegados abusos sexuais por membros do clero em Portugal, não pretendeu ser "uma ajuda".
"Foi uma atitude cínica por parte do primeiro-ministro. Uma atitude, no mínimo, condescendente, que reforçou, no segundo dia, o debate político e institucional sobre o assunto, sendo que o próprio Presidente, que se sabe defender, era quem podia estabelecer a leitura de si próprio", referiu o antigo dirigente do Bloco de Esquerda, no seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias.
Algo que, acrescentou o comentador, viria mesmo a fazer "no dia seguinte, agradecendo a pessoas que lhe tinham dado algum apoio, mas nunca dizendo nada sobre o primeiro-ministro, e até recusando-se a fazê-lo".
Na ótica de Francisco Louçã, Marcelo Rebelo de Sousa "sentiu o toque de condescendência e o jogo que o primeiro-ministro estava a fazer" no que concerne toda esta polémica.
No que diz respeito à declaração em si mesma, o economista afirmou que a mesma "pode ser lida de duas formas. Existiram poucos casos: quer isto dizer que são poucos casos, ou que sabemos de poucos casos?", questionou.
"As duas interpretações são completamente diferentes, porque uma é num registo de satisfação, e a outra será num registo de preocupação e de insatisfação. E daí resultaria um apelo e um cuidado com as vítimas que ainda não tiveram coragem, condições ou o contexto para poderem fazer o seu testemunho", elaborou.
Na perspetiva de Louçã, a "ambiguidade da declaração do Presidente é muito reforçada pelo facto de ele próprio ter-se mostrado conivente com os atrasos da Igreja Católica Portuguesa" no desenrolar de todo o processo de investigação - nomeadamente ao fazer "declarações sobre o seu conhecimento pessoal relativamente ao bispo José Policarpo, ou em relação ao Cardeal Manuel Clemente, de que não seriam pessoas" capazes de fazer "ocultações ou atrasos".
Para o antigo deputado, "esse tipo de declarações, agora postas em causa, [...] fragiliza muito a posição do Presidente e, evidentemente, dão contexto a uma interpretação de que ele estaria a tentar tapar o problema".
"Que o Presidente tenha tentado recuperar, simultaneamente, a sua 'gravitas' e um sentido de humanidade, é porque percebeu que tinha perdido muito neste contexto e que não devia ter feito" o que fez, considerou o comentador - recordando que, inicialmente, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que as suas declarações não tinham sido bem compreendidas, mas vindo depois a pedir desculpa pelas suas palavras.
Esta reação de Francisco Louçã surge na sequência de declarações polémicas proferidas pelo próprio Presidente da República na terça-feira. "Não me surpreende. Não há limite de tempo para estas queixas, que vêm de pessoas de 80 ou 90 anos. Estamos perante um universo de milhões ou muitas centenas de milhares de jovens em contacto com a Igreja. Haver 400 casos não me parece particularmente elevado", referiu, na altura.
A reação foi alvo de inúmeras críticas por parte de vários partidos com representação parlamentar. No entanto, o primeiro-ministro, António Costa, veio mais tarde defender Marcelo, considerando que foi feita uma "interpretação inaceitável" das palavras do chefe de Estado.
O Presidente veio depois dizer, no entanto, que não tinha intenção de ofender as vítimas de abusos sexuais na Igreja portuguesa e pediu, ainda, "desculpas", no caso de as suas palavras terem ofendido alguma das vítimas.
No que diz respeito às 424 queixas recebidas pelas pela Comissão responsável pela investigação das acusações de abuso na Igreja Católica em Portugal, Francisco Louçã ressalvou que toda e qualquer "queixa deve ser investigada com muitíssimo cuidado e respeito", visto que "algumas queixas não serão verdadeiras".
Ainda assim, o ex-deputado ressalvou: "Mas há aqui um universo de abuso que emerge nestes 424 casos, nestes 200 padres a serem investigados. É gigantesco". Posto isto, considera que existe ainda "imenso trabalho a fazer na proteção das vítimas" destes crimes.
Fez ainda questão de recordar a partilha na rede social Twitter feita pelo bispo do Porto, D. Manuel Linda, "a comentar a vontade dos casais de terem crianças ou de terem animais de estimação". Na sua perspetiva, "é preciso ter uma insensibilidade" para dar aso a "uma tontice tão arreigada, depois de ele próprio ser um dos centros desta discussão".
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