Louçã: "PSD só se vê a si próprio no espelho do combate com o Chega"
Francisco Louçã citou o artigo de artigo de opinião de Passos Coelho, onde pediu à atual liderança dos sociais-democratas para tomar uma posição efetiva contra a Eutanásia.
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Política Francisco Louçã
O antigo dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, considerou, esta sexta-feira, no seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias, que a "viragem conservadora" do ex-líder do PSD, Pedro Passos Coelho, mostra que o partido "só se vê a si próprio no espelho do combate com o Chega".
A afirmação foi feita na sequência da aprovação, por parte da Assembleia da República, do diploma sobre a sobre a despenalização da morte medicamente assistida.
A propósito deste tema, Francisco Louçã citou o artigo de artigo de opinião de Passos Coelho no Observador, onde o ex-líder do PSD se posicionou contra a realização de um eventual referendo e pediu à atual liderança dos sociais-democratas para tomar uma posição efetiva contra a Eutanásia. "Ao pedir ao PSD que possa rever esta decisão se alguma vez voltar ao Governo, Passos Coelho faz uma declaração muito forte, que tem dois significados", elaborou o professor universitário.
"Foi o recado que ele nos deu hoje, e no PSD isso percebeu-se muitíssimo bem"
Explicando que "Passos Coelho defendeu o direito ao aborto, defendeu o casamento homossexual, e que fazia parte de uma ala mais liberal do PSD", o ex-dirigente bloquista explicou que tal "viragem conservadora quer dizer que o PSD só se vê a si próprio no espelho do combate com o Chega".
Porém, as posições veiculadas pelo antigo presidente do principal partido da oposição demonstram ainda que ele se apresenta "como um líder político e, portanto, como um candidato nas disputas políticas futuras. E disso não há que ter nenhuma ilusão", argumentou Francisco Louçã, que acrescentou: "Foi o recado que ele nos deu hoje, e no PSD isso percebeu-se muitíssimo bem".
Por outro lado, a propósito da votação desta sexta-feira no Parlamento, sobre esta proposta em concreto, o também professor destacou que esta foi aprovada "com 42 votos de diferença" - o que se apresenta como "uma grande maioria".
Recorde-se que o diploma foi aprovado com os votos a favor da maioria da bancada do PS, a IL, o BE, o PAN e o Livre, bem como de seis deputados sociais-democratas - cuja grande parte da bancada parlamentar, à semelhança do Chega, do PCP e de seis socialistas, se posicionou contra o texto. Abstiveram-se, por sua vez, os parlamentares José Carlos Alexandrino (PS), Lina Lopes, Jorge Salgueiro Mendes e Ofélia Ramos (os três do PSD).
O decreto, cuja versão final terá ainda de ser redigida, segue agora para apreciação por parte do chefe de Estado, que pode tomar uma de três decisões: promulgar, vetar ou pedir a fiscalização preventiva do texto ao Tribunal Constitucional.
Cheias em Lisboa? Existiram "reações deficientes"
No 'Tabu' desta semana, Francisco Louçã abordou um outro tema que marcou a atualidade informativa nacional: as "cheias calamitosas" que assolaram a região de Lisboa nos últimos dias, resultado de fortes chuvadas. Na sua ótica, é "evidente" que existiram "reações deficientes" na forma como as autoridades responderam a toda a situação.
E elaborou: "Os túneis deviam ter sido fechados (...), e é preciso que haja um plano de emergência para todos os parques de estacionamento, caves e outras zonas que estão debaixo do nível da rua e que têm menor capacidade de escoamento".
Na perspetiva do antigo deputado do Bloco de Esquerda, é assim "fundamental saber se em Lisboa, como em outras cidades, foram feitas, e não foram, as obras necessárias para canalizar estas águas". Mas não só. É também necessário "saber como o planeamento urbano pode ser corrigido para que não continue a multiplicar-se esta intensidade do alcatrão (…) e da impossibilidade das águas correrem normalmente".
A este propósito, Louçã recordou as declarações, "todas elas bastante concordantes", veiculadas pelas autoridades locais, que destacaram que, de facto, a "impermeabilização do território criou as condições perfeitas para tragédias deste tipo".
Recordando que estas "não são as primeiras" cheias desta natureza "em Lisboa ou em outras partes do país", o professor universitário quis lembrar, no entanto, que este fenómeno agora "acontece depois de um verão que, na Europa, foi dos mais secos das últimas centenas de anos". E concluiu: "A clareza de que vivemos um risco cada vez mais intenso de fenómenos extremos é um dos primeiros grandes problemas das atuais gerações".
Francisco Louçã quis ainda referir que há, neste âmbito, um "problema que se implementou no discurso político". E passou a explicar: "Vejo os responsáveis políticos a tratarem cada um destes casos e a dizerem (…) que há uma relação direta entre a intensificação destes problemas e o acumular da pressão climática. E nós sentimos que é um discurso de incapacidade".
Considerando que, na verdade, "não será" esse o caso, o ex-líder do Bloco de Esquerda deu conta de que o "facto de o discurso político saber identificar os problemas e dizer aos seus povos que não é capaz de fazer nada, cria uma lógica de incapacidade política que corrói a democracia de uma forma muito mais profunda do que se pode imaginar".
Assim, concluiu Francisco Louçã, "um dos problemas mais decisivos" para a atual geração passa por "saber se é possível ou não uma resposta de comunidade que possa mitigar efeitos, corrigi-los, e impedi-los a curto prazo - mas, sobretudo, tornar viável uma sociedade que não se vá autodestruindo, como está a acontecer".
De recordar que o mau tempo registado em Portugal, na noite de quarta para quinta-feira, provocou um total de 1.977 ocorrências durante esse período em todo o país, de acordo com a informação avançada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. O distrito mais afetado foi o de Lisboa, com 913 ocorrências.
Uma mulher, de 75 anos de idade, viria, inclusive, a morrer afogada em Algés, depois da casa onde habitava com o marido, localizada numa cave, ter ficado totalmente inundada. O outro residente no apartamento viria a resistir com vida ao sucedido.
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