Os cinco anos de Iniciativa Liberal face à 1.ª disputa interna
Nos pouco mais de cinco anos da sua história, a IL apresentou-se a todas as eleições e conseguiu o seu melhor resultado nas legislativas antecipadas de 2022, saltando de partido de deputado único para a quarta força política parlamentar.
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Política IL/Convenção
Legalizada formalmente em 13 de dezembro de 2017, a IL elege este fim de semana o seu quarto presidente, umas eleições internas cujo calendário foi antecipado devido à surpresa do anúncio de João Cotrim Figueiredo de que iria sair do cargo.
Esta será a primeira disputa interna em que o vencedor não é conhecido à partida já que se apresentou mais do que uma lista à comissão executiva, algo que nunca tinha acontecido na história dos liberais.
Os deputados e dirigentes Rui Rocha e Carla Castro e o conselheiro nacional José Cardoso são os três nomes que concorrem ao lugar de presidente.
Precisamente João Cotrim Figueiredo, então como independente, foi o primeiro deputado da IL na Assembleia da República, naquela que foi a estreia do partido em legislativas, em outubro de 2019.
Pouco mais de dois anos depois, e na sequência das eleições antecipadas de janeiro de 2022, os liberais saltaram da sua condição de deputado único para um grupo parlamentar com oito deputados, posicionando-se como a quarta força política no parlamento.
Com este resultado, o partido pôde apresentar um nome para a vice-presidência da Assembleia da República no início da legislatura, mas João Cotrim Figueiredo acabou por ser chumbado -- tal como o indicado pelo Chega -- e o partido decidiu retirar-se da eleição, não apresentando qualquer nome.
Em termos eleitorais, a IL tinha conseguido um mandato "à primeira" também nas regionais dos Açores, em outubro de 2020.
Depois de nas regionais da Madeira de 2019 não ter alcançado qualquer mandato, Nuno Barata foi o primeiro deputado regional dos liberais, tendo o partido assinado com o PSD um acordo de incidência parlamentar nos Açores.
Desde a sua fundação, o partido tem apostado numa estratégia de comunicação diferenciadora -- a face mais visível são os cartazes e as redes sociais --, tendo promovido comemorações do 25 de novembro e as suas próprias do 25 de abril.
Fundação e principal história eleitoral
As bases do partido foram lançadas pela Associação Iniciativa Liberal, um grupo de cidadãos constituído em setembro de 2016 que pretendia juntar numa estrutura partidária "todos os liberais portugueses" e que desenhou o 'Manifesto Portugal Mais Liberal', tratou da recolha de assinaturas necessárias e avançou com o processo nas instâncias legais.
O Tribunal Constitucional legalizou formalmente o partido a 13 de dezembro de 2017, duas semanas depois da convenção fundadora, no Porto, que aprovou estatutos, declaração de princípios e elegeu os primeiros órgãos dirigentes dos liberais.
A estreia da IL em atos eleitorais foi nas europeias de 26 de maio de 2019, tendo então alcançado 0,88%, 29.120 votos, uma marca que deixou o partido longe da eleição.
Poucos meses depois, em 22 de setembro de 2019, veio a estreia em regionais, na Madeira, nas quais os liberais voltaram a não conseguir alcançar qualquer mandato, ficando-se pelos 0,53%.
Duas semanas volvidas e a estreia em legislativas ditou a primeira vitória da IL com a eleição de João Cotrim Figueiredo por Lisboa, um ato eleitoral em que, no total, o partido somou 67.681 dos votos, 1,29%, tornando-se na oitava força política.
Em outubro de 2020, as regionais dos Açores trouxeram mais uma noite eleitoral com motivos para sorrir nas hostes liberais com a eleição de Nuno Barata, um resultado que permitiu depois um acordo de incidência parlamentar com o PSD.
Nas presidenciais do ano seguinte, em janeiro deste ano, os liberais decidiram apoiar um candidato próprio e apostaram em Tiago Mayan Gonçalves, que conseguiu 3,22% dos votos.
Já em setembro, as eleições autárquicas foram um teste à implementação nacional da IL, que concorreu em cerca de um sexto dos concelhos, maioritariamente com candidaturas próprias, alcançando 1,30%.
Mas o melhor resultado da história do partido chegou depois da crise política que ditou as eleições antecipadas de janeiro de 2022, uma performance que ultrapassou até os objetivos que haviam sido fixados pelo próprio partido.
Depois dos 67.681 votos (1,29%) alcançados em 2019, em 2022 a IL mais do que quadruplicou este resultado e chegou aos 273.399 votos (4,91 %), deixando a sua condição de deputado único e conseguindo um grupo parlamentar com oito deputados.
Liderança
O primeiro presidente da IL eleito foi, na convenção fundadora de 26 de novembro de 2017, no Porto, Miguel Ferreira da Silva, sucedendo-lhe quase um ano depois, em outubro de 2018, Carlos Guimarães Pinto.
A liderança de Carlos Guimarães também durou pouco mais de um ano uma vez que, em 30 de outubro de 2019, anunciou que iria abandonar o cargo no "dia histórico" em que a IL se estreou com uma intervenção no parlamento, considerando então que a sua missão estava cumprida com a eleição de um deputado nas primeiras legislativas a que concorreram.
Foi precisamente o deputado único João Cotrim Figueiredo que assumiu a presidência em dezembro de 2019, passando a ser a partir de então a principal figura da IL, numa convenção em Pombal em que voltou a não ter concorrente e a sua lista da Comissão Executiva foi única.
Sob o mote "Preparados" e em vésperas de eleições legislativas, Cotrim Figueiredo saiu da convenção de dezembro de 2021 reeleito, de novo em lista única, tendo então alcançado com 94% dos votos, sendo então já o líder liberal que mais tempo tinha ocupado o cargo.
No entanto, e para surpresa geral, em outubro do ano passado chegou o anúncio de que as eleições para a comissão executiva seriam antecipadas cerca de um ano e de que Cotrim Figueiredo não se recandidataria ao cargo por entender não ser a pessoa ideal para presidir ao partido que precisaria "de uma postura distinta" para continuar a crescer.
São agora três os liberais que disputam a presidência da IL, vindo dois da bancada parlamentar e da atual comissão executiva -- Rui Rocha e Carla Castro -- e um outro do conselho nacional do partido, José Cardoso.
Estrutura do partido
A IL tem três órgãos políticos nacionais: Convenção Nacional, Conselho Nacional e Comissão Executiva, bem como dois órgãos técnicos nacionais: Comissão de Jurisdição e Comissão de Fiscalização.
O partido tem ainda como estruturas locais os núcleos (de âmbito territorial) e como estruturas internas o Gabinete de Estudos e o Grupo de Juventude.
Número e distribuição de membros
De acordo com os dados oficiais do partido disponibilizados à agência Lusa, atualmente a IL tem 6.025 membros (na convenção passada eram cerca quatro mil).
Do número atual de militantes, a grande maioria são homens, havendo apenas 18% de mulheres.
Segundo os dados fornecidos, é entre os 41 e os 50 anos que está a maior fatia de membros (28%), seguindo-se o escalão entre os 31 e os 40 anos (27%) e entre os 21 e os 30 anos (20%).
Entre os 51 e os 60 anos estão 15% dos membros, sendo 4,5% a percentagem de militantes quer com menos de 20 anos quer entre 61 e 70 anos. Com mais de 70 anos há apenas 1% do universo de liberais.
Em termos de distribuição geográfica por distritos, dos cerca de seis mil membros, 35% são de Lisboa, 21% do Porto, seguindo-se Braga e Setúbal com 7% e Aveiro com 6%.
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