Pedro Santana Lopes, antigo primeiro-ministro e atual presidente da Câmara da Figueira da Foz, reagiu à decisão de rejeitar a demissão do ministro das Infraestruturas, João Galamba, tomada por António Costa na terça-feira, apontando uma "dificuldade em compreender" - uma vez que o primeiro-ministro tinha apelidado o acontecimento em torno da polémica de "deplorável".
"Sabemos que o Governo tem tido uma sucessão de situações que agravam a crise em que tem vivido na prática desde que conquistou a maioria absoluta, mas este pingue-pongue entre o Presidente da República e o primeiro-ministro é compreensível, é mau demais", argumentou, em comentário na SIC Notícias.
Santana Lopes sublinhou compreender "que António Costa esteja saturado de tudo o que Marcelo Rebelo de Sousa foi dizendo ao longo destes meses", mas assinalou que "não teve razão nenhuma na análise que fez na situação e do que se passou no Ministério das Infraestruturas".
Na ótica do também antigo dirigente do Partido Social Democrata (PSD), "o que António Costa quis fazer foi encostar o Presidente da República à parede". "Isso acho que é óbvio", afincou ainda.
"Portugal vive há 40 anos nesta dialética Belém-São Bento, neste semipresidencialismo absolutamente inédito e insólito que leva a que, com nenhum presidente, tenham deixado de haver conflitos com os primeiros-ministros", sublinhou.
Dirigindo-se aos portugueses, Santana Lopes elucidou que "têm de pensar que isto não acontece noutros países", dando o exemplo de Espanha, onde diz não haver guerra entre o Governo e o chefe de Estado. "Portugal padece deste problema e não faz os devidos balanços sobre o que aconteceu antes", reforçou.
"Isto está a bater no fundo, com toda a franqueza. É preciso cuidado com as Repúblicas porque as Repúblicas acabam", fez ainda questão de salientar na antena da SIC Notícias.
Recorde-se que, na terça-feira, o ministro das Infraestruturas divulgou um comunicado a informar que, "no atual quadro de perceção criado na opinião pública", tinha apresentado o seu pedido de demissão ao primeiro-ministro, "em prol da necessária tranquilidade institucional" - que António Costa recusaria cerca de meia hora depois.
António Costa considerou que a João Galamba não é "imputável pessoalmente qualquer falha" e disse que mantê-lo como ministro é uma decisão que o "responsabiliza integralmente" como primeiro-ministro, tomada provavelmente contra a opinião da maioria dos portugueses e certamente contra os comentadores.
Numa nota publicada na página oficial da Presidência da República, depois de António Costa anunciar a decisão de não aceitar o pedido de demissão de João Galamba, o Presidente da República assumiu uma discordância em relação ao primeiro-ministro "quanto à leitura política dos factos" que o levaram a manter João Galamba "no que respeita ao prestígio das instituições".
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