À saída de um encontro com o Presidente da República - na sequência da sua eleição como coordenadora do BE e que durou quase uma hora e meia - Mariana Mortágua disse aos jornalistas que "o centro da conversa" com Marcelo Rebelo de Sousa foi precisamente sobre as "condições sociais do país", sendo a habitação um dos problemas principais.
"Ainda hoje tivemos a oportunidade de compreender que o pacote Mais Habitação está esburacado. O Governo recuou numa série de medidas, hoje mesmo conhecemos que o PS recuou na medida mais básica que era terminar com os vistos 'gold' e cedeu em toda a linha aos interesses financeiros e imobiliários, mantendo os vistos 'gold'", criticou.
Outros dos recuos criticados pela líder do BE foi sobre o apoio à renda, que não sendo, na sua opinião, uma resposta estrutural ao problema da habitação, são "apoios muito importantes para quem precisa deles".
"Agora deu o dito por não dito e voltou atrás na decisão das regras que tinha estabelecido. E fá-lo por despacho, incumprindo uma lei - porque a lei tinha um critério de rendimentos - e por despacho desmente a própria lei que fez e muda as regras do jogo à última hora", criticou.
Na opinião de Mariana Mortágua, "é inaceitável" que o Governo o faça, que esteja "a defraudar as expectativas de milhares de pessoas que contavam com esse apoio".
"Nós usaremos todos os meios ao nosso dispor para que o Governo cumpra, independentemente das propostas que temos e que são autónomas no processo do pacote Mais Habitação, mas vou-vos ser sincera, um despacho não vai à Assembleia da República e tem essa dificuldade no combate com o Governo", disse.
A bloquista defendeu a importância das "mobilizações pela habitação e a pressão ao Governo para que cumpra com o que disse".
"E o que disse foi que ia haver um apoio tendo em conta os rendimentos das pessoas de acordo com a sua matéria coletável e não de acordo com os rendimentos brutos. Não podemos aceitar que dê o dito por não dito à última da hora", enfatizou.
Em resposta à agência Lusa na quarta-feira, o Governo adiantou que admitia clarificar o decreto-lei que enquadra o apoio às rendas caso persistam dúvidas e "a bem da segurança jurídica" relativamente ao despacho que indicou à AT as regras de aplicação deste apoio.
Em causa está um despacho do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Nuno Santos Félix, datado de 01 de junho, que vem esclarecer "dúvidas sobre o que deveria considerar-se incluído no conceito de rendimento anual e rendimento médio mensal" referido no decreto-lei para efeitos de determinação do apoio.
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