O ministro da Administração Interna e candidato à liderança do Partido Socialista (PS), José Luís Carneiro, deu, esta quarta-feira, uma entrevista durante a qual falou não só acerca da corrida eleitoral, como também da liderança daquele poderá vir a seu o seu antecessor, o primeiro-ministro, António Costa.
Na entrevista, que começou no Jornal Nacional, da TVI, e acabou a ser transmitida pela CNN Portugal, o candidato começou por ser questionado sobre a investigação que levou à saída de Costa - e que resultou na sua candidatura.
A justiça, as reformas e a "especial sensibilidade" para Costa
José Luís Carneiro referiu que, tanto a sociedade civil como os políticos desejam que o processo seja "tão célere quanto possível, na medida em que as pessoas não podem ter a sua vida suspensa indefinidamente sem que a justiça se faça".
José Luís Carneiro foi questionado se falava de uma forma geral, ou do primeiro-ministro, António Costa, cujo nome foi envolvido no comunicado emitido pela Procuradoria-Geral da República. "Falo como princípio, por um lado [...]. No caso em concreto do primeiro-ministro, ganha uma especial sensibilidade precisamente pelo alarme social e prestígio das próprias instituições", notou. O socialista defendeu ainda que tudo o que "possa ser feito tranquilizar a sociedade portuguesa" e salvaguarda das instituições deve ser feito.
"Esta é uma circunstância que tem um impacto político interno e externo e que tem muito que ver com o próprio estatuto e prestígio das instituições e do país - razão pela qual este caso deve merecer da parte das autoridades judiciais toda a ponderação e cuidado, muito particularmente no que respeita ao rigor dos procedimentos, tendo em vista garantir princípios que são fundamentais", começou por dizer, exemplificando com o princípio da presunção de inocência, entre outros.
O socialista referiu ainda que vai propor um "debate alargado" sobre a reforma na justiça, que deve envolver partidos políticos e forças sociais. "Deve responsabilizar os partidos democráticos", começou por dizer, detalhando que estes partidos que "não contribuem para o ataque aos valores constitucionais e aqueles que não contribuem para procurar descredibilizar instituições democráticas". E foi mais além, destacando: "Como é do conhecimento público, o Chega é um partido que tem procurado minar a confiança dos cidadãos na instituições".
Para além da transparência e celeridade, e sublinhando que quer discutir uma "cultura de prestação de contas" no poder judicial, o ministro esclareceu: "A administração da justiça faz-se em nome do povo e faz-se para o povo". "Há contributos que podem ser desenvolvidos para melhorar e aperfeiçoar o nosso sistemas de justiça", referiu ainda.
As 'farpas' entre candidatos à liderança socialista
Esta semana foi também marcada pelas 'farpas' trocadas entre José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos. Confrontado com as diferenças entre os dois, o ministro da Administração Interna colocou 'os pontos nos is': "Não me candidato em oposição ao meu camarada Pedro Nuno. Candidato-me porque entendo ser portador de uma experiência política que pode ser útil ao meu partido e ao meu país", garantiu.
Já durante o segmento transmitido pela CNN, Pedro Nuno Santos 'voltou' a ser trazido para a conversa e, confrontado pela ideia de que o seu "camarada" seria mais carismático, José Luís Carneiro reconheceu-lhe carisma, mas foi assertivo: "O carisma vê-se nos resultados eleitorais".
Costa, o homem "competente, sereno e capaz"
José Luís Carneiro, o primeiro a apresentar a candidatura à liderança do PS, confessou que nunca pensou que poderia ser o sucessor de António Costa, nomeadamente, na hora do discurso do Estado da Nação. "Nem sequer esta questão se colocava e muito longe estaríamos todos de imaginar que íamos ter um desfecho desta natureza em relação a uma legislatura com maioria absoluta", reforçou, defendendo que o "serviço público sempre foi" a sua "grande preocupação".
O ministro foi também confrontando com a possibilidade de o abraço que Costa lhe deu aquando do anúncio da sua candidatura ter sido um gesto de apoio exclusivo. "Vi a expressão de uma relação de grande e profunda lealdade e de uma profunda amizade", considerou. Evocando a liderança de Costa, Carneiro considerou-o um homem "sereno, competente e capaz". E acrescentou: "E que, em Portugal e na Europa, foi capaz de garantir a salvaguarda dos rendimentos das famílias e a proteção das empresas".
"Foi um abraço caloroso e sobretudo fraterno de quem construiu uma relação de lealdade em equipa, sem perder a independência", notou ainda.
O PSD, a falta de resposta sobre uma possível viabilização... e o Chega
Questionado sobre uma eventual viabilização de um Governo minoritário do PSD, Carneiro falou do panorama internacional, nomeadamente das guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, dificuldades económicas e extremismos que procuram minar a confiança nas instituições. "Considero-me ser o candidato que tem condições para garantir segurança, estabilidade e previsibilidade ao país", referiu, notando que a sua candidatura tinha 'na mira' ganhar as eleições com uma "ampla maioria".
Numa outra altura, em que a emissora procurava uma resposta para a eventual 'luz verde' de Carneiro a um governo minoritário do PSD, Carneiro voltou a 'fugir' à questão, mas deixando, desta vez, "garantias". Confrontado com a necessidade desta resposta "para os portugueses", e ouvindo que também o PSD foi 'confrontando' com a situação de uma possível coligação com o Chega - situação que o líder do partido, Luís Montenegro, já afastou -, José Luís Carneiro foi assertivo. "Acaba de falar de um partido que tem, insistentemente, procurado colocar em causa aos valores democráticos. Não estamos a falar da natureza dos outros partidos, que todos eles já deram provas de que estão comprometidos com os valores constitucionais e democracia. Por isso, não colocamos tudo no mesmo saco", defendeu.
Sem responder se viabilizaria ou não um governo com os sociais-democratas, e afastando-se de comparações com o partido liderado por André Ventura, o ministrou apontou: "Estou convencido de que vou ganhar eleições e ser primeiro-ministro".
"A garantia de que dou aos portugueses é que no momento de decidir estaremos do lado dos democratas, humanistas e daqueles que defendem uma economia de mercado, um país europeísta", garantiu.
Numa breve nota sobre a TAP, Carneiro disse que as decisões tomadas pelo Conselho de Ministros são "para respeitar" e que a privatização, tal "como tem dito o primeiro-ministro", deverá ser feita "sem pressa".
[Notícia atualizada às 23h18]
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