"Nós estamos aqui porque temos um Presidente da República que é o maior fator de instabilidade política no nosso país. Nós estamos aqui porque temos no Palácio de Belém alguém que não consegue conter a palavra, alguém que não consegue conter a sua ação, alguém que diariamente intervém na atividade legislativa", afirmou Ascenso Simões no 24.º Congresso do PS, na Feira Internacional de Lisboa (FIL).
O ex-deputado e antigo secretário de Estado criticou a opção do chefe de Estado pela dissolução do parlamento e legislativas antecipadas, na sequência da demissão de António Costa de primeiro-ministro, e admitiu que "o país pode estar a caminho de uma instabilidade que pode não ter fim, ou a ter fim será um fim longo".
"Podemos ter eleições nos Açores, eleições legislativas, eleições europeias, novamente eleições legislativas, eleições autárquicas, eleições presidenciais. Vamos passar a vida em eleições, porque temos um Presidente da República que não se contém, que fala todo o dia, a qualquer hora, sobre tudo", considerou.
"Foi um erro nós termos indiretamente apoiado o professor Marcelo Rebelo de Sousa na sua reeleição presidencial", concluiu Ascenso Simões.
O socialista responsabilizou também o sistema judicial pela atual crise política: "Nós também estamos aqui porque há um problema com o sistema judicial".
Segundo Ascenso Simões, há magistrados "que não conseguem perceber o país, que não conseguem saber o que é a ação governativa, que não conseguem conhecer a atividade autárquica" e há que "ajudar as magistraturas a cumprirem cabalmente o seu papel".
"Levam em processo a presidente da Câmara de Matosinhos, em processo a presidente da Câmara de Portimão, em processo o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia e lançam sobre os autarcas portugueses um manto de suspeição que é insustentável na nossa democracia", apontou.
Ascenso Simões referiu-se ao novo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, como "uma inspiração" e anteviu que será "um grande primeiro-ministro", representante de "uma nova geração, a geração de Abril, com outra perspetiva, com outra leitura do mundo, com outra forma de ver os problemas do país", e apelou ao partido para que se apresente unido às eleições.
O 24.º Congresso Nacional do PS marca a transição da liderança do partido de António Costa para Pedro Nuno Santos, que foi eleito secretário-geral nas diretas de 15 e 16 de dezembro, com 61% dos votos, contra José Luís Carneiro, que teve 37%, e Daniel Adrião, que teve 1%.
Este processo eleitoral no PS foi aberto com a demissão de António Costa do cargo primeiro-ministro em 07 de novembro, após ter sido tornado público que era alvo de um inquérito judicial instaurado pelo Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça a partir da Operação Influencer.
O Presidente da República aceitou de imediato a demissão do primeiro-ministro e dois dias depois anunciou ao país a dissolução do parlamento e a convocação de eleições legislativas antecipadas para 10 de março.
Marcelo Rebelo de Sousa, que é Presidente desde 2016, foi reeleito nas presidenciais de 2021, em que o PS optou por não dar apoio a nenhum candidato, mas aprovou uma moção com "avaliação positiva" do seu primeiro mandato.
Em segundo lugar ficou a militante socialista e diplomata Ana Gomes, que apenas recebeu do seu partido uma saudação à sua candidatura.
Ainda antes de Marcelo Rebelo de Sousa anunciar a sua recandidatura, em 13 de maio de 2020, numa visita conjunta à Volkswagen Autoeuropa, o primeiro-ministro, António Costa, manifestou a expectativa de esperar regressar àquela fábrica no seu segundo mandato como Presidente da República, contando, portanto, com a sua recandidatura e reeleição.
"Cá estaremos todos, porque isto é um espírito de equipa que se formou e que nada vai quebrar. Cá estaremos este ano e nos próximos anos a construir um Portugal melhor", respondeu na altura o chefe de Estado.
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