"Uma gestão do 'dossier' TAP com uma maioria de esquerda é uma gestão que deve ser bastante mais exigente", defendeu Rui Tavares, em declarações à agência Lusa, à margem de uma visita à associação APOIAR - Associação de Apoio aos Ex-combatentes Vítimas do Stress de Guerra, em Lisboa.
O jornal de Negócios avançou na quinta-feira que o contrato da ex-presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, previa acumulação de cargos de administradora em duas empresas, e o jornal SOL escreve hoje que Pedro Nuno Santos, à data ministro das Infraestruturas, aceitou estas condições.
Questionado sobre o tema, Rui Tavares considerou que na discussão dos "casos do dia" perde-se o foco da "questão central acerca da TAP", que é o debate sobre a privatização ou controlo público da companhia aérea.
Para o Livre, o Estado deve controlar maioritariamente a TAP, permitindo que esta seja "uma companhia de futuro", sublinhando o seu papel na ligação do país com o mundo e a possibilidade de esta ser "ponta de lança de Portugal nas mudanças tecnológicas por que está a passar o setor da aviação".
"Achamos que a TAP pode dar mais a Portugal direta e indiretamente, pelo serviço que presta, pelos lucros que pode ter e que podem entrar no Orçamento do Estado", defendeu.
Este tema, adiantou, será colocado em cima da mesa pelo Livre nas negociações de uma eventual maioria parlamentar de esquerda, após as eleições legislativas antecipadas de 10 de março.
"Se fizermos uma discussão sobre a TAP que seja virada para o futuro e com aquilo que Portugal pode ganhar com uma TAP maioritariamente pública, como o Livre quer e como certamente estará na mesa de negociações da constituição dessa maioria de esquerda, acho que só temos a ganhar em termos daquilo que podemos oferecer às pessoas e que pode mobilizar as pessoas nestas eleições", defendeu.
Questionado sobre se o tema TAP pode afetar uma eventual maioria de esquerda com o PS, Tavares respondeu que o 'dossier' "afeta a credibilidade da maioria absoluta" socialista.
O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, assumiu hoje, no Porto, toda a responsabilidade política do que se passou na TAP, dossier que geriu enquanto ministro das Infraestruturas e vincou que o contrato foi feito com equipas jurídicas tanto da anterior CEO como da TAP.
"O contrato foi redigido por equipas jurídicas, o que quer dizer que diferentes equipas jurídicas têm interpretações também diferentes sobre o que ali foi feito e, portanto, estão todos a partir do pressuposto de que a acumulação daqueles cargos é ilegal, eu não tenho essa certeza", sublinhou.
A ex-presidente executiva da TAP foi exonerada por justa causa, em abril de 2023, no seguimento da polémica indemnização de meio milhão de euros à antiga administradora Alexandra Reis, que levou à demissão do então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e do seu secretário de Estado Hugo Mendes, e à constituição de uma comissão parlamentar de inquérito à gestão da companhia aérea.
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