O Partido Socialista (PS) ganhou, no domingo, as eleições europeias com mais 40 mil votos que a Aliança Democrática (AD), a única troca de lugar na lista dos partidos mais votados em relação às eleições legislativas de março.
Em seguida, mantêm-se Chega, IL, BE, CDU e Livre, embora com diferenças percentuais relevantes. Só no 7.º lugar é que surge mais uma troca de posição, com o PAN a ceder o posto para o ADN.
Por sua vez, as eleições para o Parlamento Europeu registaram uma taxa de abstenção de 62,94%, de acordo com os dados provisórios. Há cinco anos, a taxa de abstenção em eleições europeias atingiu quase 70%, uma participação eleitoral que registou mínimos históricos desde as primeiras eleições para o Parlamento, em 1987.
PS
O PS conseguiu a primeira vitória desde que Pedro Nuno Santos é líder, na sexta conquista dos socialistas em corridas eleitorais para o Parlamento Europeu, mas com a perda de um eurodeputado. O partido arrecadou 32,10 por cento dos votos, elegendo oito deputados.
A noite no quartel-general do PS foi de festa para os socialistas já que, três meses depois de terem perdido para a AD as legislativas antecipadas, conseguiram uma vitória sobre esta coligação que junta PSD, CDS-PP e PPM.
A cabeça de lista do PS às europeias, Marta Temido, afirmou que o resultado destas eleições mostra que os portugueses "confiam no PS" e prometeu começar a trabalhar "a partir de amanhã".
Na primeira reação aos resultados, o secretário-geral do partidos, Pedro Nuno Santos destacou que "o PS venceu estas eleições e é hoje a primeira força política em Portugal".
"Derrotámos uma coligação de três partidos que governam Portugal, tivemos mais votos e mais mandatos", enfatizou, agradecendo à cabeça de lista do PS a campanha que fez.
Pedro Nuno Santos considerou ainda, no discurso da vitória, que "apesar de o Governo ter nacionalizado estas eleições, elas são umas eleições europeias".
AD
A AD perdeu as europeias para o PS por uma margem de 38 mil votos, mas subiu em percentagem e votos em relação a 2019 e 2014, numa eleição que o PSD não vence desde 2009.
O partido do Governo conseguiu 31,12 por cento e, em mandatos, a AD manteve os sete eurodeputados que, há cinco anos, PSD e CDS-PP tinham conseguido em separado (seis e um, respetivamente) e há dez, nessa altura também numa coligação entre sociais-democratas e democratas-cristãos.
O cabeça de lista da AD às eleições europeias admitiu que, em democracia, "ganha-se e perde-se por um voto" e que lhe faltaram cerca de 0,8% de votos para ficar à frente da adversária socialista Marta Temido.
Sebastião Bugalho disse que, no mesmo espírito de cultura democrática que considera ter definido a candidatura da AD, felicitou a cabeça de lista do PS "de viva voz".
Por seu turno, o presidente do PSD assumiu a derrota e disse já ter felicitado o secretário-geral do PS, mas assegurou que o resultado da AD lhe dá "muito alento" para prosseguir o caminho dos últimos dois anos.
Na reação aos resultados, Luís Montenegro assumiu que a AD não conseguiu o seu primeiro objetivo: ter mais um voto que o PS.
Chega
O Chega estreou-se em eleições europeias recolhendo 9,79 por cento dos votos, conseguindo dois eurodeputados, mas falhou o objetivo da vitória estabelecido pelo presidente do partido, André Ventura, que assumiu a responsabilidade.
André Ventura reconheceu que o Chega "não atingiu nestas eleições os seus objetivos" e assumiu a responsabilidade pelo resultado. "Sou eu o único responsável desse resultado", salientou, no discurso no final da noite eleitoral, num hotel em Lisboa, depois de conhecidos os resultados.
O cabeça de lista pelo partido às europeias, Tânger Corrêa, considerou que o domingo "não foi um dia bom" para o partido e e comprometeu-se a "representar Portugal e os portugueses". "Há perder e ganhar, ganhar e perder, estou muito habituado a isso na vida", afirmou ainda.
IL
A Iniciativa Liberal (IL) estreia-se no Parlamento Europeu com 9,07 por cento e também dois eurodeputados, e foi a quarta força política mais votada nas eleições europeias, pouco atrás do Chega.
João Cotrim de Figueiredo foi o primeiro deputado do partido na Assembleia da República, em 2019, e repetiu agora o feito para o Parlamento Europeu.
O cabeça de lista da IL às eleições europeias afirmou que a eleição de dois eurodeputados foi uma "grande vitória" e que o "liberalismo veio para ficar". "Eu vou medir bem as palavras: que grande vitória da Iniciativa Liberal, 9,1% dos votos e dois eurodeputados", denotou João Cotrim de Figueiredo.
Também o presidente do partido, Rui Rocha, lamentou ter ficado atrás do Chega "por poucochinho". "Foi mesmo por poucochinho, foi mesmo por pouco", frisou.
BE
Com 4,24 por cento dos votos e um eurodeputado eleito, o BE perdeu um lugar no Parlamento Europeu face a 2019 e falhou o objetivo de manter a dupla representação, mas a eleição de Catarina Martins foi suficiente para o partido cantar vitória e dizer que "resistiu".
A cabeça de lista do BE às europeias assinalou que o partido mantém representação no Parlamento Europeu após umas eleições "muito difíceis" e garantiu um "mandato de luta" contra a extrema-direita.
"Estaremos com os nossos camaradas da Esquerda por toda a Europa a tentar contrariar isso, sabíamos que estas eleições tinham esse risco, este é o momento de luta, é para isso que aqui estamos", assegurou.
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, considerou, de seguida, que "tal como nas legislativas" de março, o partido resiste ao eleger Catarina Martins para o Parlamento Europeu, assinalando a "derrota da extrema-direita como um dos grandes dados da noite".
CDU
A CDU conseguiu manter a representação no Parlamento Europeu, o que foi motivo de festejo para a coligação, que considerou a eleição positiva num quadro de "condições adversas", apesar de registar o pior resultado de sempre em europeias.
A coligação obteve 4,12% dos votos nestas eleições europeias, conseguindo eleger o seu cabeça de lista, João Oliveira, para o Parlamento Europeu. Esta é a primeira vez que a coligação só terá um representante.
O cabeça de lista do partido às europeias saudou quem "conseguiu ver para lá da cortina de fumo" e contrariou "o pensamento único" votando na coligação, e recusou pronunciar-se sobre resultados, considerando que os dados são "muito incertos".
João Oliveira agradeceu a quem fez a "opção corajosa" de votar na coligação, "contrariando o obscurantismo, o conformismo com que se procurava condicionar e aprisionar as consciências".
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, manifestou-se "muito satisfeito" com a eleição de um eurodeputado da CDU - alcançada apesar de uma "campanha de menorização" da sua candidatura -, mas reconheceu que "não corresponde ao necessário".
"Alguns hoje pensavam que hoje iam calcar o desaparecimento da CDU, enganaram-se porque o povo não permitiu que isso acontecesse", disse.
Livre
O Livre duplicou o número de votos face a 2019 e alcançou o melhor resultado de sempre numas eleições europeias, mas o crescimento não foi suficiente e o partido voltou a falhar a eleição de um eurodeputado.
Nestas eleições, o Livre obteve perto de 150 mil votos, 3,75% do total, ficando em 7.º lugar, atrás do PS, AD, Chega, IL, BE e CDU, e sem conseguir alcançar um mandato.
Depois de conhecidos os resultados oficiais, o porta-voz do Livre assumiu a derrota e, apesar de sublinhar o crescimento em relação às anteriores eleições europeias, considerou ser uma "noite triste".
"É o tipo de resultado que, em qualquer cenário normal, nos permitiria estar aqui a fazer a festa. Infelizmente não estamos. É uma noite em que o Livre perde as eleições e eu quero assumir essa derrota", lamentou Rui Tavares.
No entanto, o cabeça de lista do Livre sublinhou o crescimento do partido em relação às europeias anteriores e disse olhar já para 2029, sublinhando que "nada acaba aqui".
"Apesar de o Livre não estar no Parlamento Europeu, vai continuar a falar da Europa nos próximos cinco anos, vai apresentar propostas para a Europa nos próximos cinco anos", afirmou Francisco Paupério, num discurso após serem conhecidos os resultados oficiais das eleições europeias de domingo.
ADN
A Alternativa Democrática Nacional (ADN) arrecadou 1,37 por cento dos votos, sem mandatos eleitos, com o presidente a afirmar que, apesar do partido não ter alcançado os objetivos a que se propôs, o resultado "foi positivo", sobretudo por ter conseguido mais votos que o PAN, que tem representação parlamentar.
Bruno Fialho salientou que os resultados destas eleições demonstram que a ADN, que tinha Joana Amaral Dias como cabeça de lista, "impôs-se como partido com credibilidade absoluta".
PAN
Com 1,21 por cento dos votos, o PAN também falhou no domingo a eleição de qualquer eurodeputado para o Parlamento Europeu, ficando atrás do ADN, depois de em 2019 ter elegido Francisco Guerreiro, que abandonou o partido no ano seguinte.
No final da noite eleitoral, a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, considerou que o Parlamento Europeu "fica mais pobre" sem a representação do seu partido.
O cabeça de lista do PAN às eleições europeias, Pedro Fidalgo Marques, admitiu a derrota nas eleições para Parlamento Europeu, afirmando que o partido já tinha perdido o seu mandato em 2020, depois da renúncia de Francisco Guerreiro.
"Gostávamos de ter conseguido eleger para podermos continuar a trabalhar em conjunto com o parlamento nacional, com os parlamentos regionais, assim como os nossos autarcas locais que diariamente trabalham para defender as causas que mais ninguém defende", referiu ainda.
Leia Também: Extrema-direita antecipa legislativas em França, mas centro resiste