Acusações sobre SNS adensam-se. O que dizem os partidos? (E as respostas)

As acusações entre o Governo e a Oposição sobre o estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS) intensificaram-se nos últimos dias devido ao encerramento de vários serviços de urgência de Ginecologia/Obstetrícia e de Pediatria e ao caso de uma mulher que sofreu um aborto espontâneo e não foi atendida no hospital das Caldas da Rainha.

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Notícias ao Minuto com Lusa
07/08/2024 08:59 ‧ 07/08/2024 por Notícias ao Minuto com Lusa

Política

Saúde

O caso de uma mulher que sofreu um aborto espontâneo e a quem terá sido recusada assistência no hospital das Caldas da Rainha, na segunda-feira, espoletou (novas) acusações entre o Governo e a Oposição em relação ao estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

 

O incidente, sublinhe-se, ocorreu num dia em que a urgência obstétrica do hospital das Caldas da Rainha, no distrito de Leiria, se encontrava encerrada e a mulher, que estava a sofrer hemorragias, só foi atendida após insistência do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) e dos bombeiros. 

No entanto, as críticas da oposição ao Governo sobre a situação do SNS intensificaram-se um dia antes, num fim de semana em que dez urgências de Ginecologia/Obstetrícia e de Pediatria se encontravam encerradas.

No domingo, o Partido Socialista (PS) anunciou que irá pedir reuniões com os hospitais que estão com urgências encerradas e apelou ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, para que apresentasse medidas "face à gravidade dos problemas" que o SNS está a enfrentar.

Na terça-feira, o líder parlamentar do Partido Social Democrata (PSD), Hugo Soares, respondeu, desafiando o partido liderado por Pedro Nuno Santos a "meter a mão na consciência" e a aceitar que é preciso unidade para recuperar o SNS do "colapso que resultou dos últimos oito anos" de governação.

"O PS tem de meter a mão na consciência. O desafio de recuperar o SNS do colapso que resultou dos últimos oito anos é enorme e precisa da ajuda de todos", defendeu, reiterando que o PS, "em vez de se aproveitar dos problemas que deixou, tem de meter a mão na consciência" e "mesmo o PCP e o BE não estão inocentes".

"Colapso" do SNS? PSD desafia PS a "meter a mão na consciência"

O líder parlamentar do PSD desafiou hoje o PS a "meter a mão na consciência" e a aceitar que é preciso unidade para recuperar o Serviço Nacional de Saúde do "colapso que resultou dos últimos oito anos" de governação.

Lusa | 08:05 - 06/08/2024

Por sua vez, o PS acusou, já na terça-feira, o Governo de trazer "instabilidade ao Serviço Nacional de Saúde" ao ter interrompido a reforma que a anterior direção executiva tinha em curso, e recusou "lições de moral do PSD".

"Ao longo dos últimos meses, aquilo que nós temos visto é o Governo trazer instabilidade para o SNS, em vez de cuidar de ultrapassar as dificuldades e, quando no início deste mandato, o Governo procurou questionar as funções da direção executiva, mudar a direção executiva e a sua forma de trabalhar, criou uma pressão adicional sobre o verão, que é agora hoje visível, com muito pouca transparência no funcionamento das urgências e muita instabilidade na resposta aos cidadãos", defendeu a deputada socialista Mariana Vieira da Silva.

Também pelo PS, a líder parlamentar Alexandra Leitão acusou a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, de ter interrompido a "reforma do SNS em curso" e questionou até quando o Governo vai "enjeitar responsabilidades".

"Depois de atirar culpa para o anterior Governo, AD e ministra da Saúde culpam administrações e profissionais de saúde", escreveu Alexandra Leitão numa publicação na rede social X. "O plano de emergência é da ministra, foi sua a opção de interromper a reforma do SNS em curso. Até quando vão enjeitar responsabilidades?", questionou.

Já o presidente do Chega considerou que o plano do Governo para a saúde falhou e que o setor atravessa um momento explosivo com "notícias perturbadoras". "O que temos na Saúde é explosivo. Não houve reorganização dos serviços, não houve acordos com os profissionais que os satisfaçam e estamos com uma afluência turística grande a juntar à afluência de imigrantes", sustentou.

"Todos os dias tivemos notícias perturbadoras do funcionamento do sistema de saúde, desde grávidas a quem é negada assistência nas Caldas da Rainha a pessoas que esperam horas e horas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. É momento para dizer que este plano falhou", acrescentou.

Mais à Esquerda, Bernardino Soares, membro do Comité Central do PCP, afirmou que o Governo optou por "assistir impavidamente à degradação da condição de atendimento" às grávidas. 

"Já há um pacto de regime entre o PS, PSD e CDS que é deixar cair a obstetrícia e a ginecologia no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Foi isso que fizeram no Governo anterior, é isso que este Governo está a fazer", acusou Bernardino Soares, em conferência de imprensa.

Já na noite de terça-feira, Hugo Soares, do PSD, voltou a rejeitar as críticas dos partidos da Oposição e atirou: "Não tenho qualquer tipo de dúvida que o senhor primeiro-ministro e a senhora ministra da Saúde quando entenderem que devem falar ao país fá-lo-ão e darão as respostas todas".

O deputado afirmou ainda que a situação do SNS é "simples" de explicar e que o problema é que "não há médicos suficientes para manter os serviços de obstetrícia e ginecologia de urgência abertos todos os fins de semana, porque uns estão de fim de semana e outros estão de férias". 

Afinal, o que se passou na urgência das Caldas da Rainha?

Na segunda-feira, uma mulher, com hemorragias após sofrer um aborto espontâneo, viu negada a assistência no hospital de Caldas da Rainha, cuja urgência obstétrica estava encerrada. Segundo o comandante dos bombeiros das Caldas da Rainha, a vítima foi apenas foi atendida após insistência do CODU e dos bombeiros.

A notícia foi avançada pela CNN Portugal e confirmada pelo Notícias ao Minuto junto do comandante dos bombeiros das Caldas da Rainha, que revelou que a mulher chegou ao hospital pelos próprios meios, onde lhe disseram que não a podiam admitir. 

À porta do hospital, a perder sangue e com o feto num saco, a mulher teve de ligar para o 112, que acionou os bombeiros. O pedido de ajuda foi feito ao CODU e pelas  07h21 uma ambulância da corporação foi acionada. "À chegada deparámo-nos com a mulher suada, a chorar, com muitas dores e uma forte hemorragia", revela o comandante, explicando que os bombeiros disseram ao marido para ir pedir ajuda dentro do hospital, embora o homem já o tivesse feito assim que chegaram.

A mulher de 31 anos, que estava grávida de 3 meses, só foi atendida depois de os bombeiros insistirem que levá-la para Coimbra, numa viagem que demoraria mais de uma hora, seria impossível. 

Grávida com feto morto vê assistência negada no hospital das Caldas

Grávida com feto morto vê assistência negada no hospital das Caldas

A mulher de 31 anos só foi atendida depois de os bombeiros insistirem que levá-la para Coimbra, numa viagem que demoraria mais de uma hora, seria impossível.

Marta Amorim | 13:38 - 05/08/2024

Em comunicado, a ULS Oeste confirmou que a urgência de ginecologia e obstetrícia de Caldas da Rainha "não estava a funcionar", mas negou que a unidade hospitalar tenha recusado atender a utente.

Confrontado com este esclarecimento, o comandante da corporação dos bombeiros de Caldas da Rainha acusou a ULS Oeste de "faltar à verdade", argumentando que "se a urgência estava fechada, não há registo na admissão de doentes".

Na terça-feira, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) anunciou que "o quadro das suas atribuições instaurou um processo de avaliação a este caso", acrescentando que irá "cooperar na investigação" com a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).

Também em comunicado, a IGAS confirmou que abriu um "processo de inquérito aos factos relacionados com a assistência prestada a uma utente grávida na manhã do dia 05 de agosto de 2024, na unidade hospitalar de Caldas da Rainha, integrado na Unidade Local de Saúde [ULS] do Oeste".

Leia Também: "Enorme preocupação". OE alerta para "grave situação" nas urgências

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