"Uma pessoa pergunta se Mário Soares alguma vez teria deixado fazer este discurso sobre imigrantes e ir atrás sem ter, a certa altura, um estado de alma, um grito de alma a dizer: Os outros receberam-nos bem quando fomos exilados. Receberam-nos bem quando passamos a salto", questionou.
Rui Tavares falava aos jornalistas no final da cerimónia comemorativa do 114.º aniversário da Implantação da República, que decorreu na Praça do Município, em Lisboa, e na qual intervieram o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
No seu discurso, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, defendeu que o país não pode "aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem".
"Hoje assistimos a manifestações de um drama humanitário que nos envergonha a todos como país. Nós precisamos de imigração, mas não podemos aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem, dá espaço a redes criminosas e multiplica casos de escravatura moderna", disse o autarca, anfitrião das cerimónias oficiais do 05 de Outubro.
Este discurso foi criticado pelo porta-voz do Livre, que acusou Carlos Moedas de "ir atrás da extrema-direita" e de citar o poeta Luís de Camões, "desconhecendo a história.
"É bonito citar Camões, mas é mais bonito não passar o mandato inteiro. Já lá vão três anos do presidente da Câmara a chamar a tudo aquilo que inaugura, às vezes de mandatos precedentes, 'factory' não sei quê, 'hub' não sei que mais. A língua portuguesa existe, mas se não cuidarmos dela vai definhando", observou.
Rui Tavares negou ainda que a Câmara de Lisboa tenha resolvido a situação dos imigrantes que estão há meses a viver em tendas junto à igreja dos Anjos, ao contrário do que foi anunciado por Carlos Moedas durante o seu discurso.
"O largo dos Anjos não apresentava nenhuma diferença sensível nesta manhã. A situação dos sem-abrigo não é de um largo. É de uma cidade inteira, na qual o presidente Carlos Moedas pouco ou nada fez para resolver esta situação", apontou.
Questionado sobre a contraproposta apresentada na sexta-feira pelo PS ao Governo, no âmbito do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), o porta-voz do Livre defendeu que "esta não é a forma de negociar um orçamento" e que deveria "ser negociado de outra forma".
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