"Com este Orçamento, o Governo procurou com sucesso amarrar o PS. E este é um orçamento que a extrema-direita poderia votar, mas é o PS quem vai viabilizar [através da abstenção]", criticou Marisa Matias, que falava na 5.ª Conferência Nacional do BE, que termina hoje no Porto.
A dirigente bloquista acusou o executivo minoritário PSD/CDS-PP de absorver e normalizar a agenda e discurso da extrema-direita e aprofundar "a agenda conservadora".
"A rampa deslizante só agora está a começar. O não é não, que seria a suposta barreira sanitária do Governo à extrema-direita, não é, nem nunca foi, por uma demarcação política ou ideológica, mas por mero taticismo. Uma disputa de poder não é necessariamente uma disputa política e este Governo demonstra-o", advogou.
Na ótica de Marisa Matias, o Governo PSD/CDS-PP quer ocupar o espaço da extrema-direita pela forma como aborda temas como as migrações, direitos humanos, racismo, educação sexual, saúde reprodutiva, direito à morte assistida.
"Não existe nenhum campo em que o Governo não esteja a tentar entrar para fazer deles um campo de recuo", avisou.
Neste contexto, Marisa Matias reclamou para o BE o papel da força política "que faz frente à extrema-direita e às suas ideias, que combate o governo da direita e das contrarreformas e que é, como sempre foi, a alternativa ao rotativismo ao centro".
Momentos depois, o antigo deputado José Manuel Pureza fez uma intervenção com fortes críticas ao Chega e à extrema-direita, utilizando uma frase de um general franquista, em 1936, "Viva a morte, abaixo a inteligência".
Fazendo a ponte com os acontecimentos que levaram à morte de Odair Moniz, cidadão baleado por um agente da PSP esta semana, Pureza lembrou as declarações de dirigentes do Chega, nomeadamente do líder parlamentar, Pedro Pinto, que afirmou que se os polícias "disparassem mais a matar, o país estava mais na ordem".
"Como os republicanos espanhóis em 1936 contra Franco, aqui está hoje o Bloco a dizer que a inteligência é mais forte que todas as prepotências. Somos essa força da inteligência contra a barbárie. E fazemos desse combate o nosso combate", defendeu.
Pureza deixou ainda avisos ao Governo liderado por Luís Montenegro.
"De cada vez que o Governo e a direita tradicional assumem as bandeiras da extrema-direita, a extrema-direita não fica com menos espaço. Pelo contrário, ganha espaço e ganha poder social. A esse bloco político das direitas, que tem como política o 'cocktail' de duas doses de liberalização, com duas doses de securitização, responde a esquerda com uma política de paz feita de justiça", salientou.
Durante a manhã de intervenções, a ex-deputada Maria Manuel Rola considerou que "a política está numa espécie de 'overdose' de chavões" e que "expira o passado, expira o ódio, o ressentimento másculo e tonitruante contra o qual o Bloco nasceu", deixando um aviso.
"Fala-se assim nos cafés, nas redes, na televisão, no parlamento e lamento até por vezes no Bloco. O regresso ao passado e à exclusão, à lei do mais forte e do que fala mais alto, não nos faz sair deste ciclo nem voltar a ganhar a política que faz a diferença, que nos reabilita e que constrói futuro", advogou.
[Notícia atualizada às 15h07]
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