O ex-presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, criticou, esta sexta-feira, a convocação de uma nova greve dos maquinistas da Comboios de Portugal - CP devido às declarações do ministro da Presidência, António Leitão Amaro, e questionou "porque é que têm de ser os passageiros a pagar".
"Está visto que esta é a semana de a minha pobre pessoa ser sacudida por vários e genuínos espantos. Agora é a notícia de que um sindicato de maquinistas da CP se declara ofendido com umas (infelizes) declarações de um ministro, associando alcoolismo e insegurança, e, para lavar a honra da classe, faz este ultimato ao Governo: ou o ministro se retrata, ou há greve a 7 de dezembro", começou por escrever na rede social Facebook.
Em causa está o facto de o Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses (SMAQ) ter convocado uma greve geral para 6 de dezembro, face à ausência de clarificação do Governo sobre relação entre sinistralidade ferroviária e taxa de álcool destes trabalhadores e para exigir condições de segurança adequadas. A greve terá também impactos nos dias 5 e 7.
"E eu não percebo: Porque é que têm de ser os passageiros a pagar pelo ministro? E a empresa? Não bastam o protesto, uma carta aberta, uma concentração, um boicote ao dito ministro?", acrescentou Santos Silva.
Frisando que é socialista e que não se esquece que "o direito à greve é um direito básico, só respeitado em democracia" e "que custou muito a ganhar", Santos Silva disse ficar "espantado com a crescente banalização e adulteração" dessa forma de luta.
"A verdade é que me fazem muita impressão as greves porque sim", atirou.
Em causa estão as declarações do ministro da Presidência, António Leitão Amaro, em conferência de imprensa após o Conselho de Ministros, na qual afirmou que "não é muito conhecido, mas Portugal tem o segundo pior desempenho ao nível do número por quilómetro de ferrovia de acidentes que ocorrem" e que tem "um desempenho cerca de sete vezes pior do que a primeira metade dos países europeus", explicando que o Governo aprovou uma proposta de lei que reforça "as medidas de contraordenação para os maquinistas deste transporte ferroviário, criando uma proibição de condução sob o efeito de álcool".
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