No final da cimeira de dois dias, 58 países, entre os quais a China, a França e a Índia (os dois coorganizadores), bem como a União Europeia e a Comissão da União Africana, pronunciaram-se a favor de uma maior coordenação da governação da IA, exigindo um "diálogo global", e apelaram para que se evite a "concentração do mercado" para tornar esta tecnologia mais acessível.
A visão desses 58 países é distante do entendimento dos Estados Unidos da América (EUA), representados pelo vice-presidente J.D. Vance, que, tal como o Reino Unido, não assinaram a declaração pedida pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, que reúne os princípios partilhados de regulamentação entre líderes políticos e patrões tecnológicos.
Na primeira viagem internacional do vice-presidente dos EUA desde a tomada de posse de Donald Trump, J.D. Vance proferiu um discurso ofensivo, em que apelou a uma regulamentação limitada para "não matar uma indústria em expansão" que o seu país domina e anunciou um plano para investir 500 mil milhões de dólares em IA americana, o programa "Stargate".
"Os Estados Unidos são o líder da IA e a nossa administração tenciona mantê-lo assim", sublinhou o vice-presidente dos EUA.
O Governo britânico deixou claro que só pretende aderir a "iniciativas que sejam do interesse nacional do Reino Unido".
Poucas horas antes, foi divulgada uma oferta não solicitada pelo empresário Elon Musk, o homem mais rico do mundo e membro da administração Trump, para a compra da 'start-up' OpenAI, criadora do ChatGPT.
Segundo o Wall Street Journal, o bilionário, juntamente com um grupo de investidores, quer comprar a organização sem fins lucrativos que controla a OpenAI por 97,4 mil milhões de dólares.
A empresa "não está à venda", respondeu o vice-presidente da OpenAI, Chris Lehane, que se encontrava em Paris para um evento ligado à cimeira.
Antes de almoçar com Macron no Palácio do Eliseu, J.D. Vance alertou para o risco de estabelecer parcerias com "regimes autoritários", numa referência pouco velada à China.
"A parceria com eles (regimes autoritários) equivale a algemar a vossa nação a um mestre autoritário que procura infiltrar-se, instalar e apoderar-se da vossa infraestrutura de informação", disse o vice-presidente norte-americano.
Em resposta às ambições americanas, o Presidente francês insistiu na "necessidade de regras" e de um "quadro de confiança" para acompanhar o desenvolvimento da IA "ao serviço da humanidade", estando previsto que se encontre durante a tarde com empresários.
"Temos de continuar a fazer avançar a governação internacional da IA", afirmou Macron no final da cimeira, que para a França resultou numa série de anúncios significativos, incluindo um plano de investimento privado no valor de 109 mil milhões de euros.
Para o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, que será o anfitrião da próxima cimeira, o desafio é não deixar "o sul global", incluindo o seu país e os seus 1,4 mil milhões de habitantes, para trás numa revolução tecnológica em expansão.
A União Europeia (UE) está a tentar antecipar-se à corrida da IA, tendo revelado um plano de investimento de 200 mil milhões de euros, incluindo 150 mil milhões de euros de grandes grupos.
"Chegou o momento de formular uma visão: para onde queremos ir com a IA?", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Esta é a "maior parceria público-privada do mundo para o desenvolvimento de uma IA fiável", no âmbito da aliança "Iniciativa Campeões da IA da UE", que reúne mais de 60 empresas, disse Ursula Von der Leyen, referindo que "a liderança mundial ainda está em aberto".
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