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"Gastamos um milhão em apoios. Conseguimos com a ajuda da população"

Presente na vida dos pacientes oncológicos e cuidadores há 76 anos, a Liga Portuguesa Contra o Cancro continua a contar com o apoio dos portugueses, que não poupam nos donativos e no voluntariado. Ao Notícias ao Minuto, o atual presidente da instituição, Vítor Veloso, fala do papel do organismo e dos objetivos para o futuro.

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Daniela Costa Teixeira
03/02/2017 12:00 ‧ 03/02/2017 por Daniela Costa Teixeira

País

Vítor Veloso

Batalhar, batalhar, batalhar. A luta contra o cancro “é uma batalha diária em todas as frentes”. Vítor Veloso tem dedicado grande parte da sua carreira a esta luta e assume a presidência da Liga Portuguesa Contra o Cancro, organismo que se destaca pela “notoriedade” e pelos apoios que presta a pacientes e cuidadores.

Em entrevista ao Vozes ao Minuto, a propósito do Dia Mundial da Luta contra o cancro, que se celebra este sábado, o também médico oncológico revela quais as principais linhas de atuação da Liga, além dos gastos e de como a população tem sido fundamental para leva a cabo esta luta cada vez mais difícil de travar.

 

A sua carreira tem sido maioritariamente dedicada à luta contra o cancro. Porque é que continua a ser uma batalha difícil de vencer?

É uma batalha difícil de vencer porque a incidência do cancro tem aumentado de um modo substancial, neste momento poderemos dizer que é o principal problema de saúde pública no nosso país e não só, é também em outros países da Europa. Há um aumento de casos, mas a mortalidade tem vindo a diminuir.

Penso que é uma batalha diária em todas as frentes, não só na ajuda dos doentes oncológicos em todos os seus aspetos, em todas as suas vertentes, nomeadamente, a nível económico. A Liga gasta praticamente um milhão de euros por ano para possibilitar que esses doentes tenham transporte, alimentação, comparticipação dos medicamentos e também suporte do ponto de vista emocional.

Por outro lado, batalhamos na prevenção primária, portanto, estilos de vida saudáveis, que são fundamentais para travar o aparecimento precoce de um sem número de cancros. Temos também cuidados especiais, paliativos, de que fomos iniciadores em Portugal.

Muitas vezes, as entidades não sabem ou não querem saber ou atropelam esses direitos. Os seguros são outro cavalo-de-batalhaTambém investimos muito na formação e na parte de investigação e, finalmente, agora temos também algo que é muito importante que é uma linha, que já é antiga, mas que agora mudou, que é o 800 100 100. Uma linha do cancro que, quanto a mim, tem utilidade pública e devia ser subsidiada pelo Estado e não é, mas que tem um apoio jurídico permanente.

Neste momento, os nossos doentes podem encontrar um apoio jurídico no que diz respeito aos problemas que estes têm, mas não só, também ao nível hospitalar, isto é, no que diz respeito à parte administrativa, como o atestado multiusos, as taxas moderadoras que, muitas vezes, as entidades não sabem ou não querem saber ou atropelam esses direitos, relativos também a capacidades, relativos aos problemas bancários que têm e relativos aos financiamentos e, por outro lado, também aos seguros, que é outro cavalo-de-batalha. Verifica-se que as companhias ou não seguram ou se seguram um doente oncológico é por quantias verdadeiramente exorbitantes e incapacitam uma pessoa de os pagar. E há também as entidades empregadoras que são entidades que muitas vezes se recusam a receber doentes oncológicos que podem perfeitamente trabalhar.

A Liga Portuguesa Contra o Cancro faz este ano 76 anos. O que mudou desde então?

A Liga teve de se adaptar a tudo o que é inovação. Tivemos de nos adaptar aos doentes, os de há dez anos, ou de há vinte ou de há cinco não são os mesmos, ou seja, houve adaptação. Também nos adaptamos às nossas situações mundiais, como fazer marketing, como fazer lobby, enfim, situações que fomos criando e que fazem com que a Liga, no que diz respeito a notoriedade, seja a organização não-governamental com mais notoriedade, cerca de 80%, e, por outro lado também, fortalecendo-se com as dádivas unicamente da população, que compreendem o trabalho que a Liga Portuguesa Contra o Cancro tem tido e que tem sido extremamente generosa nas suas dádivas e nos seus peditórios.

A Liga ajuda os pacientes mais carenciados, especialmente a nível económico. É caro para a pessoa diagnosticada tratar a doença?

Isso é muito difícil de saber, tenho alguns números, mas isso daria para uma entrevista sozinha. É por isso que a prevenção é boa, é muito diferente tratar um cancro inicial e tratar um cancro avançado. Tratar um cancro inicial fica por um décimo de tratar um cancro mais avançado e sobretudo por causa dos resultados, que no primeiro caso são a cura na maioria das vezes, ou uma sobrevivência muito longa com uma qualidade de vida extraordinária. Quando são cancros muito avançados, são tratamentos que normalmente não têm sucesso e ainda por cima com uma qualidade de vida muito deficiente.

E para a Liga, fica caro suportar esses custos de apoio? Como consegue?

Conseguimos com a ajuda da população, é evidente. Mas como já disse, gastamos um milhão de euros em apoios, que são apoios em alimentação, transportes, medicamentos que não são comparticipados. Muitas vezes pagamos a renda do agregado familiar, a luz ou a água quando a situação social é mais precária. Há muitas situações em que somos solicitados e que devem ser devidamente estudadas, pois obviamente damos este dinheiro a pessoas que necessitam. E para isso tem de haver sempre dinheiro, é como eu digo, podemos falhar noutra atividade, mas aí não podemos falhar. 

Tratar um cancro inicial fica por um décimo de tratar um cancro mais avançado e sobretudo por causa dos resultados

Além da linha de apoio de que falou há pouco, o que é que os pacientes precisam de fazer para conseguir ajuda, seja a nível financeiro ou emocional?

Pode dirigir-se aos nossos serviços por carta, por email, por telefone e pela linha, o 800 100 100, que é uma linha que lhe dá resposta a tudo e mais alguma coisa ou encaminha devidamente para a entidade que pode dar essa resposta. 

O doutor vai presidir a Liga Portuguesa Contra o Cancro nos próximos dois anos. Que objetivos traçou e quais são as principais prioridades?

A Liga, nos últimos dez anos, transformou-se completamente, no sentido certo e sempre com uma ideia fundamental. A Liga existe porque há doentes oncológicos, portanto, o mote destes três anos é estar mais perto do doente oncológico e das famílias.

*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui.

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