"Estamos há anos à espera do disco que corra mal"

Os PAUS começam esta quinta-feira a digressão por Portugal para apresentar o novo ábum, 'Yess', mas o baterista Hélio Morais ainda teve tempo para conversar com o Notícias ao Minuto.

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© Ângelo Lourenço

Sara Gouveia
16/01/2020 09:15 ‧ 16/01/2020 por Sara Gouveia

Cultura

Paus

São 10 anos, quatro discos, três EP’s e muitos concertos por vários continentes. Regressados de uma digressão brasileira em dezembro, onde acabaram por mostrar algumas músicas do novo trabalho, os PAUS vão começar esta quinta-feira a apresentação de 'Yess' ao vivo, pela primeira vez pelos caminhos de Portugal.

Neste álbum, que chegou às lojas em outubro do ano passado, a Fábio Jevelim, Hélio Morais, Makoto Yagyu e Quim Albergaria juntou-se o baterista, DJ e produtor Grassmass (Ricardo Coelho). O resultado foi um disco que descrevem como tendo saído “das pistas de dança de Lisboa aos escuros clubes de punk rock, das rodas de batuque das ruas de São Paulo às raves de Berlim”.

Durante o mês de janeiro, a banda vai atuar esta noite, dia 16 de janeiro, na discoteca B.Leza, em Lisboa, no dia 24, no Salão Brazil, em Coimbra, e dia 25, no Hard Club, no Porto. 

Na véspera do primeiro concerto e por entre ensaios, o baterista Hélio Morais esteve à conversa com o Notícias ao Minuto, recordando os últimos desafios da banda, a passagem pelo outro lado do Atlântico e fazendo ainda um balanço desta década de quarteto depois do primeiro lançamento ('É Uma Água', editado em 2010).

Em julho saiu o EP 'LXSP' e no final do ano - três meses depois - saiu o disco 'Yess'. Foi por estarem a comemorar 10 anos de carreira que escolheram lançar os dois trabalhos em tão pouco tempo?

Acho que foi um misto de duas coisas. Na verdade, só nos apercebemos que celebrávamos 10 anos no início deste ano quando estávamos prestes a lançar uma tour de clubes, ou seja, o EP já estava apalavrado e as coisas já estavam em fase de pré-produção. O EP não teve nada a ver com o nosso aniversário, fazia parte de uma parceria que tínhamos com a Red Bull. A nossa ideia inicial era aproveitarmos essa ida ao Brasil para fazer um álbum, mas pensámos que se fôssemos lá só para isso se calhar não nos íamos deixar influenciar pelos artistas de lá e queríamos muito que aquele disco fosse um disco de colaborações. Então, o que fizémos foi assumir a ida ao Brasil como se fosse um estágio para depois fazer um disco. E foi assim que aconteceu. Gravámos o EP lá, mas quando editámos já tínhamos praticamente o 'Yess' todo gravado. 

Claro que depois uma pessoa começa a pensar nas coisas: ‘Sim, fazemos 10 anos este ano, nada melhor que celebrar a vida de uma banda com edições’, porque são as músicas que trazem uma vida nova - que normalmente tem uma duração de dois anos - às bandas. No nosso caso o disco teve só duração de um ano porque editámos logo outro EP e um álbum no ano seguinte. Foi um misto de coincidências.

Até agora tem corrido bem. Estamos há anos à espera do disco que corra malComo é que é o vosso processo de produção?

É muito rápido para produzir e chegamos ao estúdio sem nada. Todos já tivemos ou ainda temos outras bandas em que fazemos aquele processo normal de ir para uma sala de ensaio e juntar todos os membros, alguém pode vir com uma ideia de casa mas depois a ideia acaba por se cristalizar ali com os vários elementos da banda. Já estávamos um bocadinho cansados desse processo e já não era uma coisa que nos motivasse muito fazer. Não que nos canse nos outros projetos, mas é muito fácil, numa banda que tem esse tipo de processo mais tradicional, as pessoas não se ouvirem bem às vezes, porque acham que o que tinham feito para aquela parte da música vai muito bem com outra, mas depois quando ouvem o que fizeram se calhar não joga tão bem com os outros.

Então com o tipo de criação que usamos nos PAUS isso não acontece, porque chegamos ao estúdio, montamos as coisas todas, montamos os instrumentos todos e a primeira pessoa a surgir com uma ideia grava - seja um beat meu, seja um beat do Quim [Albergaria], seja uma linha de baixo do Makoto [Yagyu], seja um teclado do Fábio [Jevelim]. A primeira pessoa a surgir com uma ideia grava e normalmente chamamos a essa primeira parte um 'A' e depois todos os outros elementos compõem por cima do 'A'. A seguir o 'B' pode já não vir da mesma pessoa que fez o 'A', pode vir como resposta de outro membro e vamos construindo assim. Um bocadinho como a música eletrónica, primeiro compomos ali todos no estúdio, gravamos, cortamos, colamos, etc. Por isso, muitas vezes aquilo que depois é ouvido nos discos é a primeira ideia que se gravou de cada um.

Sentem que a vossa sonoridade é mais pura assim?

Por um lado sim, é mais imediato porque é composto ali na hora e não vamos para casa maturar. Por outro, é mais arriscado porque podemos arrepender-nos mais tarde. Mas também tem outro lado que é engraçado que é o facto de toda a gente estar ali a compor a mesma parte ao mesmo tempo, porque se estiver a gravar uma bateria os outros três estão a opinar na régie sobre essa bateria e assim sucessivamente. É quase como se cada peça de cada instrumentista fosse de todos.

Apesar de termos muitos sintetizadores, sempre fomos muito orgânicos, é tocado no momento, etc., não é uma coisa programadaAcham que é esse o segredo destes dez anos?

Não sei [risos]. Até agora tem corrido bem. Estamos há anos à espera do disco que corra mal, porque marcamos, normalmente, duas semanas de estúdio e nessas duas semanas gravamos o instrumental - sejam oito ou dez músicas dependendo de cada disco -  e até agora conseguimos, com alguma exceção ou outra de resvalar uns dois ou três dias, mas normalmente a nossa janela é duas semanas para gravar e compor o instrumental. E conseguimos fazer todos os discos em cerca de um mês - duas semanas para o instrumental, uma semana para a voz e uma semana de mistura e masterização - e até ver tem corrido bem.

Pelo facto de terem sido tão próximos, este novo álbum continua a ter influências brasileiras como EP?

Até conta com a presença com a presença do Rodrigo Coelho que é um multi-instrumentista pernambucano [Brasil], que normalmente usa o nome artístico ‘Grassmass’ mas que como tem estado a fazer coisas muito diferentes tem usado mais o nome verdadeiro como forma de separar as coisas.

Quando estivemos em São Paulo a gravar o 'LXSP' acabámos por ir ver um concerto dele e ficámos muito surpreendidos com o concerto, porque apesar de ter uma vertente eletrónica super forte, especializou-se em modulares e esse espetáculo que apresentou tinha muitos instrumentistas, percussionistas, tinha um pianista, um trompetista, ou seja, ficámos muito admirados com a forma tão natural com que misturava os instrumentos acústicos com os modulares e com algumas coisas disparadas de computador, então sentimos que era o tipo de influência que precisávamos para este novo trabalho.

Apesar de termos muitos sintetizadores, sempre fomos muito orgânicos, é tocado no momento, etc., não é uma coisa programada. Mas ao mesmo tempo sempre flirtamos com a eletrónica apesar de nunca termos tido, não sei se a coragem ou o engenho para ir mais fundo nisso. E quando o vimos, percebemos que era tão natural para ele que ficámos com a ‘pulga atrás da orelha’. Além disso tivemos imensa sorte porque ele ia estar em Portugal uma temporada em julho que foi quando fechamos o instrumental, então acabou por entrar em todas as músicas.

Os PAUS são uma banda que sempre foi muito dada ao disparate e de uma forma saudávelO vosso novo videoclipe do single que dá nome ao álbum, o ‘Yess’, tem um ar muito caseiro e despretensioso. Como é que surgiu a ideia? Queriam levantar a cortina da vossa intimidade enquanto banda?

Os PAUS são uma banda que sempre foi muito dada ao disparate [risos] e de uma forma saudável, até porque é muito fácil ao longo do percurso profissional passarmos por várias fases. Há àquela em que nos queremos levar a sério, porque também faz parte para mostrar que somos trabalhadores sérios com um trabalho válido. Mas a verdade é que sempre fomos muito despretensiosos nas coisas que fomos fazendo e na forma como fomos fazendo música. Sempre houve muito disparate, seja na carrinha, seja em estúdio. Desta vez quisemos mostrar um bocadinho disso em vídeo e convidámos o Tiago [Lopes] - que é vocalista de uma outra banda do Fábio [os Cancro] - que andou connosco num dia de concerto a filmar e depois fez uma edição ao jeito dele. Ficámos muito contentes com o resultado porque soou-nos tudo muito natural.

Como têm sido estes dez anos? Quem são os PAUS passado uma década?

Os PAUS são quatro músicos que já foram outros quatro. O João Pereira saiu no final de 2012, quando o Fábio entrou, que é mais conhecido por Shela, fez o primeiro EP e o primeiro álbum, a partir daí já foi sempre o Fábio. Mas são quatro pessoas que graças à banda já viajaram muito e já viveram muita coisa junta, conseguiram coisas que nunca imaginaram.

Lembro-me de termos de pensar a dada altura, ainda com o Shela na banda, quando o Makoto e o Shela foram ao Primavera Sound em Barcelona terem dito que apesar de ter sido muito bom só lá voltavam quando fosse para tocar. No ano seguinte fomos convidados para lá ir atuar. Nunca almejámos ser uma banda grande, nem conhecida, nunca pensámos nisso. Achávamos sinceramente que íamos ser uma banda tipo ‘bicho estranho’ e achamos que continuamos a ser, só não estávamos à espera que houvesse uma franja grande de pessoas que até gostasse disso.

Foi com surpresa que as coisas foram tomando o rumo que tomaram desde o início e temos estado a desfrutar disso tudo. Só a parte do poder viajar para os sítios para onde já fomos já é incrível, especialmente a fazer a música que fazemos. Claro que temos os nossos momentos, discutimos, temos as nossas divergências, choramos, rimos, somos humanos e fazemos isso tudo juntos. Tem sido um privilégio.

Achávamos sinceramente que íamos ser uma banda tipo ‘bicho estranho’ e achamos que continuamos a ser, só não estávamos à espera que houvesse uma franja grande de pessoas que até gostasse dissoEstiveram a apresentar o álbum no Brasil durante o mês de dezembro. Porque é que escolheram apresentar o novo trabalho primeiro lá?

Já estava marcado. A nossa intenção até era lançar o disco ainda em setembro e apresentá-lo em Portugal primeiro e depois no Brasil. Mas já tínhamos agendado a SIM de São Paulo - que é uma espécie de irmão do festival MIL, em Lisboa - e decidimos prolongar e fazer mais alguns espetáculos lá, uma vez que já lá íamos e que é dispendioso ir ao Brasil, assim aproveitávamos a viagem. Só que depois, como acabámos por não editar o disco na data prevista, os primeiros concertos onde tocámos mais músicas do 'Yess' acabaram por ser precisamente no Brasil.

Por outro lado, foi bom porque pudemos testar as músicas com um público ainda totalmente imparcial. Já tínhamos tocado em São Paulo mas, mas ainda não tinha sido para uma massa de público que tendencialmente seria o nosso tipo de público. Desta vez aconteceu e foi muito bom perceber a reação, porque foi ótima, foi incrível.

Agora vão andar por Portugal. O que esperam destes concertos?

O primeiro - hoje à noite - vai ser no B’leza, portanto escolhemos uma sala onde tendencialmente as pessoas dançam, espero que dancem, já ficava muito feliz. Espero que se divirtam, que gostem do concerto, as músicas novas estão a soar diferente das dos discos anteriores e estamos expectantes para perceber como é que soa tudo junto num concerto em ‘casa’, que ainda não aconteceu. Estamos muito ansiosos.

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