Contra a invisibilidade e o racismo, Lúcia Vicente escreveu para jovens

Nelson Mandela, Grada Kilomba, Naide Gomes e Basquiat são algumas das "pessoas negras admiráveis", que a autora Lúcia Vicente retrata no livro para jovens 'Raízes Negras', editado este mês.

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Lusa
10/07/2021 11:00 ‧ 10/07/2021 por Lusa

Cultura

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"O objetivo do livro é oferecer a possibilidade às crianças negras de se reverem nestas personagens. (...) E quis dar uma ferramenta aos pais de crianças brancas para iniciarem uma discussão" sobre desigualdade, racismo e invisibilidade da comunidade negra, afirmou a autora à agência Lusa.

"Raízes Negras - Pessoas negras admiráveis que lutaram pelos seus sonhos e mudaram o mundo", com selo da Nuvem de Tinta, é um livro informativo com pequenas biografias de cerca de 50 pessoas de várias épocas e contextos, dando visibilidade a escritores, ativistas, políticos, desportistas, artistas.

Cada pequena biografia é acompanhada por um retrato feito pela artista cabo-verdiana Gilda Barros e a sucessão de personalidades segue uma ordem cronológica, começando na história de Lucy, uma 'australopithecus afarensis' que viveu na Etiópia há cerca de três milhões de anos, até à ginasta e campeã olímpica norte-americana Simone Biles, nascida em 1997.

Lúcia Vicente recorda-se de ter tomado consciência da invibilidade crónica da comunidade negra no seu quotidiano, quando estava a preparar o livro "Portuguesas com M Grande", que saiu em 2018.

"Eu ,que sempre achei que era uma pessoa antirracista, quando apresentei a lista à editora, em 42 mulheres, nenhuma era negra. Nesse momento tomei consciência pela primeira vez de quão forte é o racismo estrutural na nossa sociedade", admitiu.

Foi a partir dessa tomada de consciência que a autora começou a pesquisar, a estar mais atenta à sua linguagem e a tudo o que a rodeia, e a estruturar o livro "Raízes Negras".

"Surpreendentemente, havia muitas coisas de racismo estrutural na minha linguagem, havia muita falta de reconhecimento perante a luta que as pessoas negras tiveram de fazer", disse.

"Raízes Negras - Pessoas negras admiráveis que lutaram pelos seus sonhos e mudaram o mundo" conta com prefácio da ativista e deputada Beatriz Gomes Dias, que considera que este livro "revela rostos frequentemente ocultos nos ângulos mortos da hegemonia branca. Não é um livro que dá voz, mas que confirma que as vozes sempre estiveram lá, ontem como hoje".

É nas últimas páginas, nos agradecimentos, que Lúcia Vicente afirma: "Não escrevi só um livro, reescrevi-me ao fazê-lo".

Pensado para os mais novos, com uma linguagem acessível, o livro introduz os leitores na vida de personalidades muito distintas: o escritor Alexandre Dumas, a política Alda do Espírito Santo, a artista portuguesa Grada Kilomba, a socióloga Marielle Franco, o futebolista Eusébio, o casal Michel e Barack Obama, a ativista Jaha Dukureh.

Lúcia Vicente considera que o livro pode dar um contributo de discussão, entre pais, educadores, crianças e jovens, sobre a invisibilidade e o preconceito em relação à pessoa negra.

É por isso que 'Raízes Negras' conta ainda com um glossário que explica, por exemplo, o que é branquitude, o que se entende por direitos civis, o que é uma pessoa racializada, o que foi o Apartheid, o que significa pan-africanismo.

Lúcia Vicente também aproveita para elucidar questões sobre discriminação de género, nomeadamente sobre homofobia, interseccionalidade e sobre a comunidade LBGTQIA+.

Lúcia Vicente, que nasceu em Faro, em 1979, licenciou-se em História e História Cultural e das Mentalidades e não chegou a concluir um mestrado em Estudos de Género, "por diferenças ideológicas e de pensamentos históricos inultrapassáveis", como se lê na nota biográfica no livro.

Foi cofundadora do coletivo feminista Mulheres Unidas Pela Igualdade (MUPI) e publicou o primeiro livro para os mais novos em 2018, quando saiu 'Portuguesas com M Grande', pela Nuvem de Tinta.

 

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