"Muito obrigada, povos indígenas", disse Gabriela de Matos, curadora do projeto "Terra", em conjunto com Paulo Tavares, fazendo o agradecimento em português quando subiu ao palco para receber o prémio.
O Leão de Ouro foi entregue pelo ministro da Cultura da Itália, Gennaro Sangiuliano, numa cerimónia que marcou a abertura da 18.ª Exposição Internacional de Arquitetura -- Bienal de Veneza, que decorre na cidade italiana sob o tema "O Laboratório do Futuro", com curadoria de Lesley Lokko, estando representados Portugal e Brasil como os únicos países lusófonos.
A atribuição do prémio Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional ao Brasil foi justificada "por uma exposição de pesquisa e intervenção arquitetónica que centraliza as filosofias e imaginários da população indígena e negra na procura de modos de reparação", informou o júri.
O júri internacional da 18.ª Exposição Internacional de Arquitetura -- Bienal de Veneza é composto por Ippolito Pestellini Laparelli (presidente, Itália), Nora Akawi (Palestina), Thelma Dourado (EUA); Tau Tavengwa (Zimbabué) e Izabela Wieczorek (Polónia).
Antes das palavras de agradecimento em português da curadora Gabriela de Matos, Paulo Tavares manifestou-se surpreendido com a atribuição do prémio Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional ao Pavilhão do Brasil, explicando em inglês que o projeto "Terra" reflete o que se passa no país, em particular com os povos indígenas, "num momento de reconstrução", porque "são eles que mantêm a terra unida".
"Trata-se de reparação, restituição, reconstrução. Trata-se de reconhecer outras formas de conhecimento, outras formas de arquitetura que, como dizemos no pavilhão, se tornaram centrais para enfrentar a crise climática global e podem-nos ensinar outra forma de relação com a terra. [...] Convidamos o público a pisar na terra, a senti-la, a cheirá-la, e ao pisar na terra é convidado a reconhecer o Brasil como um território ancestral e diaspórico", declarou Paulo Tavares, falando sobre o projeto "Terra", que tem como comissário José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
O Brasil é um dos três países latino-americanos que tem um pavilhão permanente na Bienal, ao lado da Venezuela e do Uruguai.
Na Participação Nacional, o júri decidiu atribuir uma menção especial à Grã Bretanha, com o projeto 'Dancing Before the Moon' ["Dançando Perante da Lua"].
O Leão de Ouro de Melhor Participante na Exposição Internacional "O Laboratório do Futuro" foi para o estúdio de arquitetura DAAR -- Decolonizing Architecture Art Research, projeto de Alessandro Petti e de Sandi Hilal, pelo "compromisso de longa data com um profundo envolvimento político com práticas arquitetónicas e de aprendizagem da descolonização na Palestina e na Europa".
O júri atribuiu o Leão de Prata para um jovem promissor participante a Olalekan Jeyifous (Brooklyn, Estados Unidos da América), tendo também distinguido outros três projetos com menções especiais, nomeadamente Sammy Baloji (Bruxelas, Bélgica), Ilze Wolff (Cidade do Cabo, África do Sul) e Heinrich Wolff (nascido em Joanesburgo, África do Sul), e Thandi Loewenson (Londres, Reino Unido).
Além disso, Demas Nwoko, artista, 'designer' e arquiteto nascido na Nigéria, recebeu o Leão de Ouro pela Realização Vitalícia da 18.ª Exposição Internacional de Arquitetura -- Bienal de Veneza. O reconhecimento foi proposto por Lesley Lokko, curadora da Bienal de Veneza, e aprovado pelo Conselho de Administração deste evento.
A 18.ª Bienal de Arquitetura de Veneza, que arrancou hoje e decorre até 26 de novembro, conta com representações oficiais de 63 países, sendo Portugal e Brasil os únicos lusófonos presentes, mas entre os 89 arquitetos e gabinetes de arquitetura, na maioria de África e da diáspora africana, estão o Banga Colectivo, gabinete de arquitetura de Luanda e Lisboa, e o ateliê brasileiro Cartografia Negra.
O Pavilhão de Portugal acolhe o projeto "Fertile Futures", com curadoria de Andreia Garcia, que foi inaugurado oficialmente na sexta-feira, segundo dia de pré-abertura desta iniciativa em Veneza.
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