FC Porto, Wolves e Jorge Mendes: "Nuno Espírito Santo foi a vítima"

Livro 'A orgia do poder' monta a cronologia da longa relação de Jorge Mendes com o treinador. E, em entrevista ao Desporto ao Minuto, o autor Pippo Russo explica como culminou com a saída do Dragão para a segunda divisão inglesa.

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Carlos Pereira Fernandes
30/06/2017 08:05 ‧ 30/06/2017 por Carlos Pereira Fernandes

Desporto

Pippo Russo

Rio Ave, Valência, FC Porto e Wolverhampton. Quatro clubes que, além do facto de terem sido – no caso do último, estar a ser – orientados por Nuno Espírito Santo, têm algo em comum.

Em 'A orgia do poder', livro do jornalista italiano Pippo Russo que, desde dia 7 deste mês, está à venda Portugal, estes quatro clubes são referenciados como estando ‘na mão’ de Jorge Mendes. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o autor assegura que os dois factos estão intrinsecamente ligados.

Mas vamos por partes.

Jorge Mendes e Nuno Espírito Santo. Como tudo começou

Formado no Vitória de Guimarães, o então guarda-redes de apenas 19 anos é cedido por duas épocas ao Vila Real, onda joga “com alguma regularidade”. Mas Nuno Espírito Santo queria mais. Mais propriamente, a titularidade da baliza vimaranense, na altura entregue a Neno.

“Vai ser difícil ganhar-lhe a posição e Nuno sabe isso. Quer mais, mas não sabe como o fazer, nem a quem dirigir-se. Uma noite, na discoteca, fala com o amigo Jorge. E o amigo Jorge diz-lhe para ficar tranquilo, que é possível encontrar uma solução. A carreira de Mendes enquanto agente de jogadores começa ali. E também a de Nuno, que a partir daquele momento atingiu patamares inimagináveis”, escreve Pippo Russo.

O agora treinador do Wolverhampton acabaria, então, por se tornar no primeiro cliente de Jorge Mendes, que não só ousou enfrentar o então presidente do Vitória de Guimarães, Pimenta Machado, “como encontra mesmo uma solução de topo: o FC Porto”.

“Pimenta Machado mantém péssimas relações com o presidente do FC Porto, Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa. Diz a Jorge Mendes que não faz negócio com ele. Já que estavam a falar, o presidente aproveita para acrescentar, em tom de desafio, que estaria disponível a deixar sair Nuno por uma oferta de um milhão de dólares”, refere. Uma missão impossível? Não para Jorge Mendes.

O empresário, que “tinha travado conhecimento com Augusto César Lendoiro, presidente do Deportivo da Corunha”, convence-o a tentar a contratação… sem êxito. Jorge Mendes traçou, então, nova estratégia: “Quando chega a altura de se apresentar para o estágio de pré-época, não só Nuno deserta, como desaparece mesmo do mapa”.

O “desaparecimento” dura semanas, até que Jorge Mendes “afirma saber o que fazer para encontrar o foragido”. Dias depois o empresário cumpre a missão e leva Pimenta Machado ao seu ‘esconderijo’, um apartamento “meticulosamente desarrumado e Nuno parece estar completamente embriagado”.

“O presidente vitoriano recomenda a Jorge Mendes que não submeta Nuno a análises que possam trazer ao de cima o seu alcoolismo” e acaba por aceitar vendê-lo ao Deportivo da Corunha, a troco de 2,5 milhões de euros.

Da má experiência espanhola à seleção nacional

No entanto, em Espanha, as coisas não correm como planeado. Das seis épocas em que se encontra contratualmente ligado ao Deportivo, Nuno passa três cedido: duas ao Mérida e uma ao Osasuna. Acaba por regressar ao FC Porto em 2002 e realiza 31 jogos em três épocas, antes de voltar a sair. Desta feita, para o Dínamo de Moscovo.

Em 2006, volta novamente a Portugal, para o Desportivo das Aves, que acaba por descer no final da temporada. Foi então que regressou para a terceira passagem pelo FC Porto, onde “passa as últimas três temporadas como jogador, participando num total de oito partidas”.

“Este último dado contrasta com o reconhecimento que o guarda-redes vê ser-lhe dado praticamente no final da sua trajetória, em junho de 2008. É o ano do Campeonato da Europa, disputado na Áustria e na Suíça, e Portugal encontra-se entre os participantes. No dia antes da partida inicial, o terceiro guarda-redes da seleção, Quim, lesiona-se numa mão. É necessário chamar um substituto e a lógica exigiria um guarda-redes que fosse titular no seu clube. Contudo, o selecionador Felipe Scolari decide convocar Nuno Espírito Santo, eterno suplente. Convém mencionar que, nos anos seguintes, também Felipe Scolari passará para a equipa Gestifute”, escreve Pippo Russo.

Rio Ave, o "FC Mendes"

Após pendurar as chuteiras, Nuno Espírito Santo tenta a sua sorte enquanto treinador, começando como elemento da equipa técnica de Jesualdo Ferreira, em 2010, no Málaga. Acaba por acompanhar o técnico até ao Panathinaikos, onde fica até 2012.

“No verão de 2012, chega para Nuno Espírito Santo o primeiro cargo de treinador . Qual é o clube que o chama? O Rio Ave, ou seja, o já mencionado FC Mendes”, atira o italiano. Nuno permanece em Vila do Conde por duas temporadas, onde chega às finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga e coloca o clube, pela primeira vez, nas competições europeias.

Os argumentos convenceram o Valência a avançar para a sua contratação, mas, tal como havia sucedido no Deportivo, a aventura espanhola não correu como esperado. Na primeira época, até conseguiu deixar o emblema che no quarto lugar da Liga espanhola. Na segunda, acaba por ser demitido à 13.ª jornada, deixando a equipa no nono posto.

"Nuno Espírito Santo é um treinador que, por milagre, tem sempre oportunidades"

É então que regressa a Portugal, pela quarta vez. E novamente para representar o FC Porto, desta feita enquanto treinador. Leva os dragões ao segundo lugar da I Liga, ficando a seis pontos do campeão Benfica.

Pinto da Costa, não convencido com os seus métodos, acaba por demiti-lo a 25 de maio. Seis dias depois é anunciado como treinador do Wolverhampton. Mas, afinal, o que explica que um técnico que, em 2016/17, lutou pelo título nacional, vá disputar a segunda divisão inglesa em 2017/18?

“Apenas se pode explicar pelo facto do Wolverhampton ser um clube ligado a Jorge Mendes. Nuno Espírito Santo é um treinador que, por milagre, tem sempre oportunidades. No geral, a experiência de Nuno Espírito Santo no FC Porto não me pareceu tão negativa. Penso que a razão pela qual foi despedido do FC Porto não foi apenas desportiva, mas também política. A nova relação entre FC Porto e Jorge Mendes não correu como o clube desejava. Nuno Espírito Santo foi a vítima deste falhanço nesta nova relação. Para mim, a contratação de Nuno Espírito Santo pelo Wolverhampton foi uma espécie de evolução natural da história”, explicou Pippo Russo, ao Desporto ao Minuto.

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