Mão de obra é cada vez mais qualificada com crescimento dos politécnicos
O crescimento recente do ensino politécnico tem-se traduzido em mão de obra cada vez mais qualificada, retrata o presidente do conselho coordenador dos politécnicos, sublinhando também o empenho das instituições em responder às necessidades do mercado de trabalho.
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Economia Ensino
Os números são reveladores da tendência crescente no ensino politécnico: entre os anos letivos 2014/2015 e 2019/2020, o número de alunos inscritos nestas instituições passou de 114 mil para 142 mil, segundo dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência.
"Os politécnicos cresceram muito acima daquilo que é o crescimento médio do ensino superior em Portugal, sobretudo nas licenciaturas e nos cursos técnicos superiores profissionais", retrata o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP).
Para o mercado de trabalho, esse crescimento tem tradução numa qualificação cada vez maior da mão de obra para a qual têm contribuído também os chamados cursos TeSP, lecionados exclusivamente no ensino superior politécnico, habitualmente de dois anos e orientados para uma atividade profissional.
O crescimento dessa oferta é ainda mais significativo, como revelam os dados da Direção-Geral do Ensino Superior: entre 2014 e 2020, o número de cursos TeSP passou de 93 em 44 localidades e com vagas para 2.869 alunos para 869 cursos, em 129 localidades e com disponibilidade para 26.789 alunos.
Em entrevista à agência Lusa, Pedro Dominguinhos explica que, no âmbito desses cursos, tem havido por parte das instituições uma aposta estratégica para reforçar a oferta formativa em estreita colaboração com as autarquias e com as empresas.
"[Os cursos TeSP] têm a particularidade de serem cocriados em estreita articulação com as empresas e outras organizações, e isso tem significado dar resposta de uma forma muito cabal a ecossistemas de inovação e empresariais em determinado tipo de regiões" refere.
O objetivo é contribuir, através do ensino e da formação, para resolver a falta de mão de obra qualificada em determinados setores ou, quando não está em causa uma carência generalizada, responder ao aumento da procura por parte das empresas em determinadas regiões.
"Temos hoje um conjunto significativo de formações que são desenhadas à medida das necessidades de um conjunto de empresas", aponta o representante dos politécnicos, sublinhando que atualmente estes cursos estão disponíveis por todo o país.
Por isso, a proximidade com o tecido empresarial vai muito além dos estágios curriculares e o cenário mais frequente é a integração dos estudantes nas empresas depois de concluírem o curso.
Um exemplo desse compromisso é o programa UPskill, que resulta de uma parceria entre o CCISP, o Instituto do Emprego e Formação Profissional e a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, com o objetivo de requalificar profissionais para que possam ser integrados nas empresas com necessidades nas áreas da programação.
"Há aqui uma estratégia consistente que está a dar frutos", sublinha, defendendo que esse tipo de estratégia é um passo para ajudar a resolver o problema da falta de mão de obra em determinadas áreas.
Por outro lado, Pedro Dominguinhos considera também que tem de haver uma disponibilidade da parte dos trabalhadores para se adaptarem às mudanças do mercado de trabalho, bem como das próprias empresas no sentido de reconhecerem os níveis cada vez maiores de qualificação.
Comentando notícias recentes que dão conta da escassez de mão de obra em setores de atividade que começam agora a recuperar, depois de mais de um ano e meio afetados pela pandemia de covid-19, o presidente do CCISP afirma que está em causa "um problema complexo" para o qual a solução não passa apenas pelo ensino.
"Na área de engenharia civil, por exemplo, tivemos durante muitos anos uma profunda regressão daquilo que eram os alunos colocados nesses cursos", recorda, sublinhando que, por outro lado, esse problema à saída do ensino superior não se verifica nas áreas do turismo e hotelaria.
"[Os dados] demonstram uma elevada procura, vários candidatos por vaga disponibilizada, e a elevada conclusão dos cursos. Desse ponto de vista, eu não acredito que seja um problema de falta de recursos humanos disponíveis e qualificados para trabalhar nessas áreas", justifica o também presidente do Politécnico de Setúbal, ressalvando que nessas áreas em concreto as funções em que há falta de mão de obra são, eventualmente, menos qualificadas.
Por isso, Pedro Dominguinhos defende que é importante procurar outras explicações, que se podem prender com a organização e com as condições de trabalho.
"É algo sobre o qual importa refletir e não apenas dizer que é uma questão de adequação entre oferta e procura, porque nós nunca tivemos tanto ensino superior como temos hoje", conclui, acrescentando: "Não podemos estar constantemente a preocuparmo-nos em ir à procura de salários mais baixos".
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