OE2017: Proposta é "o filho da geringonça que Bruxelas adora"

O membro da comissão executiva do Haitong Bank Christian Minzolini afirmou hoje que o orçamento de 2017 "é o filho da geringonça que Bruxelas adora", que agrada a Bruxelas e aos eleitores, mas que é "uma oportunidade perdida" para Portugal.

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Lusa
26/10/2016 14:03 ‧ 26/10/2016 por Lusa

Economia

Haitong

"Assumi que usar a palavra geringonça hoje era praticamente institucional em Portugal e, para mim, a melhor maneira de resumir o orçamento é [dizer que] este orçamento é o filho da geringonça que Bruxelas adora", disse Minzolini no encerramento de uma conferência organizada hoje em Lisboa pela RFF Advogados sobre as propostas fiscais da proposta de Orçamento do Estado para 2017 (OE2017).

Para Christian Minzolini, trata-se de "um orçamento em que o Governo quer mostrar que, de facto, há um alívio dos anos anteriores de dificuldade mas, de facto, é um orçamento de continuidade de austeridade formalizada de maneira distinta".

O responsável do Haintong Bank considera, no entanto, que a proposta orçamental formaliza a austeridade de uma outra forma "pelas piores razões": "Antes tínhamos a impressão de que estávamos todos em esforço para sair das dificuldades. Aqui a impressão que temos é que todos fazem esforços adicionais em favor de alguns", resumiu.

Christian Minzolini defendeu ainda que "para Portugal, é uma oportunidade perdida" e argumentou que "o discurso político recente tem sido baseado numa retoma da economia pelo crescimento do consumo", mas depois "prevê uma redução do consumo público e, ao mesmo tempo, o consumo privado dificilmente vai ser estimulado pelo aumento significativo dos impostos indiretos", até porque este aumento dos impostos indiretos "em vez de criar margem de manobra, é apenas suficiente para compensar retrocessões e compensações".

Já quanto à forma como Bruxelas verá este orçamento, o responsável do Haitong Bank considera que a proposta orçamental "tem o aspeto exterior que Bruxelas queria ver", porque inclui reduções do défice público, do défice estrutural (que exclui o efeito do ciclo económico e das medidas temporárias) e da dívida.

Isto "permite mostrar a Bruxelas que existe um compromisso firme do Governo português com as regras restritas do euro e, desta maneira, levanta dois grandes problemas que havia sobre Portugal: o tema das sanções possíveis e o tema da chegada dos fundos estruturais", acrescentou.

Christian Minzolini disse ainda que, "ao mesmo tempo que Bruxelas fica satisfeita, o Governo fala diretamente com os seus eleitores" porque está a "privilegiar os funcionários públicos, dá um empurrão adicional às pensões e cria uma nova prestação para deficientes", disse.

"Isto é geringonça no seu melhor, está toda a gente satisfeita. De facto, este exercício é um exercício científico político espetacular. Não sei se podemos dizer alguma coisa do ponto de vista económico", referiu Minzolini, concluindo que, "se isto se cumprir, Portugal não vai ficar muito melhor no final de 2017 do que está hoje".

 

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