Catalunha: Impasse com Madrid mantém-se um ano após referendo unilateral

Um ano depois da realização do referendo unilateral sobre a independência da Catalunha ilegalizado por Madrid, a situação continua num impasse, longe de estar resolvida, apesar dos esforços de diálogo feitos pelo novo Governo socialista espanhol.

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Lusa
29/09/2018 09:20 ‧ 29/09/2018 por Lusa

Mundo

Governo

Na segunda-feira, 1 de outubro, um ano depois do referendo, os independentistas manifestam-se, mais uma vez, pela criação de uma República independente de Espanha e pela libertação do que chamam "presos político".

"As coisas estão em ponto morto com Pedro Sánchez [o novo chefe do Governo espanhol] à procura de um caminho de diálogo", resume à agência Lusa o professor de Relações Internacionais da Universidade Europeia de Madrid Pablo Martín de Santa Olallia.

O Governo regional liderado por Carles Puigdemont, apoiado desde 2015 por uma maioria parlamentar de partidos separatistas, organizou e realizou um referendo a 01 de outubro de 2017, que foi considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional espanhol.

Essa votação teve uma taxa de participação de 43%, dos quais 92% votaram "sim" à pergunta "Quer que a Catalunha seja um estado independente em forma de república?".

Os "constitucionalistas" (defensores da união com Espanha) boicotaram a consulta, ficando em casa.

"Os independentistas sabem que não têm a maioria social na Catalunha, mas continuam a dizer que o referendo foi válido e a defender a separação", explica o professor universitário.

O anterior Governo de direita, liderado por Mariano Rajoy, decidiu a 27 de outubro do ano passado intervir diretamente na Catalunha e marcou eleições regionais para 21 de dezembro de 2017 que voltaram a ser ganhas por uma maioria de partidos independentistas, apesar de o partido mais votado ter sito o Cidadãos (direita liberal, unionista).

"Não creio que o problema catalão se vá resolver a curto prazo", vaticina Jordi Rodríguez Virgili, professor de Comunicação Política na Universidade de Navarra.

O catedrático aponta duas razões principais: a existência de políticos catalães presos e outros fugidos pelo seu envolvimento no processo independentista e a "debilidade" do atual Governo de Pedro Sánchez.

No final da fase de instrução, o Supremo espanhol, incriminou em junho último 25 pessoas por alegados delitos de rebelião, sedição e/ou peculato pelo seu envolvimento na tentativa falhada em 2017 de separar a Catalunha da Espanha através da criação de uma República independente.

Entre eles, nove dirigentes separatistas estão presos à espera de julgamento e o ex-presidente da Generalitat Carles Puigdemont vive exilado na Bélgica, depois de a Justiça espanhola não ter conseguido a sua extradição da Alemanha, para ser julgado.

"A atitude do PSOE [no Governo] é de quase sobrevivência", porque para ter a maioria dos deputados no parlamento precisa dos votos dos partidos independentistas, explica Jordi Rodríguez Virgili.

Pedro Sánchez tornou-se primeiro-ministro em 02 de junho, depois de o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) ter aprovado no parlamento, na véspera, uma moção de censura contra o executivo do Partido Popular (direita) com o apoio do Unidos Podemos (extrema-esquerda) e uma série de partidos mais pequenos, entre eles os nacionalistas bascos e os independentistas catalães.

"A única coisa positiva é que o executivo de Sánchez abriu uma via de diálogo entre as duas partes", defende por seu lado Alfredo Pastor, professor de Economia na Escola de Negócios IESE, acrescentando que "o resto é tudo negativo".

Acabado de chegar ao Governo, Pedro Sánchez recebeu o atual presidente do executivo regional, o independentista Quim Torra, e os dois decidiram reativar as negociações numa série de áreas entre Madrid e Barcelona.

Todos os observadores concordam que será impossível, no futuro, aprovar uma alteração constitucional que permita a realização de um referendo de autodeterminação e que uma possível solução para o conflito passa pela alteração do atual estatuto autonómico.

Segundo Alfredo Pastor, a saída da crise passa por um acordo que pode incluir "um melhor financiamento [da região], mais competências e o reconhecimento da Catalunha como uma nação dentro de outra nação".

Mas o professor está convencido de que isso não pode ser feito "com o ambiente de tensão atual" e "há que esperar ainda algum tempo".

"A curto prazo, temos de resolver o problema dos políticos catalães presos para que as pessoas se acalmem", afirmou Alfredo Pastor.

Nas várias concentrações previstas para segunda-feira, uma das palavras de ordem será o pedido de libertação dos políticos presos, que os independentistas consideram ser "prisioneiros políticos".

O Governo espanhol sublinha que não pode nem irá interferir com o poder jurídico, que deverá levar a julgamento os acusados no processo de independência, mas várias pessoas já falam na possibilidade de lhes ser atribuído um indulto depois de conhecida a sentença, uma questão de que a direita espanhola não quer ouvir falar.

 

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