Neil Ferguson, da universidade Imperial College de Londres, disse acreditar que a taxa de contágio esteja a decrescer há várias semanas, mas que ainda é incerto o ritmo a que o número de infeções, hospitalizações e mortes vão baixar.
"São notícias encorajadoras, mas ainda é muito cedo para relaxar", afirmou hoje, em declarações à BBC Radio 4.
O cientista faz parte do Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências (SAGE) que está a apoiar o governo na tomada de decisões para combater a pandemia covid-19.
Quinta-feira é o prazo legal para a decisão ser tomada sobre o regime de confinamento no Reino Unido, decretado a 23 de março e inicialmente previsto para durar três semanas.
As regras determinam que as pessoas só devem sair de casa para comprar bens essenciais, como alimentos ou medicamentos, para fazer exercício uma vez por dia, para ajudar pessoas vulneráveis ou para trabalhar se não o puderem fazer de casa.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, que substitui o primeiro-ministro, Boris Johnson, enquanto este recupera na sua residência de campo da infeção que levou ao internamento em cuidados intensivos, vai reunir esta manhã com outros ministros para debater a crise e os dados sobre o resultado do confinamento.
À tarde, além de uma cimeira por videoconferência com outros líderes do G7, vai conduzir uma reunião da comissão de crise com representantes das diferentes regiões autónomas, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, para ser tomada uma decisão a nível nacional.
Na quarta-feira, a chefe do governo da Irlanda do Norte, Arlene Foster, anunciou que a região, onde até agora foram registadas 160 mortes atribuídas ao novo coronavírus, vai estender o regime de confinamento por mais três semanas, até 09 de maio.
A região tem uma fronteira aberta com a República da Irlanda, que decidiu na semana passada estender o confinamento até 05 de maio.
Na entrevista hoje à BBC, Neil Ferguson defendeu a necessidade de aumentar a capacidade de realizar testes no país, que o governo espera passar de cerca de 18.000 para 100.000 no final deste mês, para identificar casos fora dos hospitais e limitar o contágio.
O sistema de saúde público (NHS) está a desenvolver uma aplicação móvel que vai poder alertar pessoas que tenham estado em contacto com uma pessoa infetada nos dias seguintes, mas o cientista afirma que também será preciso ter um "pequeno exército" de pessoas a fazer contactos manualmente.
"Sem isso, as nossas estimativas mostram que temos pouca margem. Se relaxarmos demasiado as medidas, vamos ver um reaparecimento da transmissão. O que precisamos mesmo é a capacidade de substituí-las com algo", acrescentou.
O epidemiólogo diz que vai ser necessário manter regras de distanciamento social para poder abrir escolas e abrir de novo postos de trabalho e manter a taxa de contágio sob controlo.
"Não vai ser um regresso à normalidade. Vamos ter de manter algum nível de distanciamento social, um nível significativo de distanciamento social, provavelmente indefinidamente até existir uma vacina disponível", vincou.
Ferguson sugeriu um centro de comando centralizado para coordenar o combate à pandemia no Reino Unido, lembrando como o governo criou um ministério para o 'Brexit' durante o processo de saída da União Europeia.
Mas o ministro da Saúde, Matt Hancock, recusou dar mais pormenores sobre os preparativos dentro do governo, receando que a população possa sentir que já não precisam de respeitar o confinamento.
"A forma como comunicamos enquanto governo, enquanto ministros, tem um impacto direto sobre o número de casos que temos e no número de pessoas que morrem", disse pouco depois à BBC.
A secretária de Estado da Saúde, Nadine Dorries, o primeiro membro do governo a ser infetado, expressou frustração com a insistência dos "jornalistas" sobre uma "estratégia de saída" para o confinamento.
"Só há uma maneira de 'sair' do confinamento e é quando tivermos uma vacina. Até lá, precisamos de encontrar maneiras de adaptar a sociedade e encontrar um equilíbrio entre a saúde da nação e a nossa economia", afirmou na rede social Twitter.
O Reino Unido registou 12.868 mortes desde o início da pandemia e identificou 98.476 casos de contágio, de acordo com os dados atualizados na quarta-feira pelo ministério da Saúde britânico.