O protesto aconteceu em 150 pontos do país, simbolicamente um para cada dia da quarentena.
Os pontos de referência incluíram ícones patrióticos, como o Monumento à Bandeira, na cidade de Rosario, a Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do Governo em Buenos Aires, e junto à residência oficial de Olivos, com o objetivo de que o Presidente Alberto Fernández escutasse o protesto.
"Basta de confinamento, precisamos de liberdade, precisamos de trabalho. Estão a destruir a economia. No início, a quarentena foi acertada, mas agora sufoca a liberdade e a economia", pediu Alberto Ortíz, de 59 anos.
Na principal avenida do país, a 9 de Julio, centenas de automóveis circularam ao longo de 3 quilómetros entre buzinas e bandeiras. A cena repetiu-se pelas principais avenidas do país. Nas praças, milhares de manifestantes ergueram cartazes, bateram panelas e gritaram "Liberdade" no dia de comemoração do libertador do país, o general José de San Martín.
"Continuam com essa quarentena que não tem nenhum sentido. As empresas estão a quebrar, as pessoas são despedidas, quem tenta trabalhar pode ir preso e os contágios aumentam a cada dia, prova de que a quarentena fracassou. Estamos num estado de sítio encoberto", critica Marcelo Laducci, de 25 anos.
Outro ponto dos protestos foi a residência particular da vice-presidente, Cristina Kirchner, a quem os manifestantes acusaram de promover uma Reforma Judiciária feita à medida com o único objetivo de salvá-la de uma condenação por corrupção.
"Enquanto o país vive urgências sanitárias, económicas e sociais, o governo aparece para boa parte da população com a estratégia de aproveitar a quarentena para acumular poder. Impõe uma agenda que prioriza uma reforma judiciária que significa o controlo da justiça, especialmente da Corte Suprema", observa o analista político Sergio Berensztein.
"Estou aqui para lutar pela sobrevivência da República. Se a reforma judiciária for aprovada, acaba a república neste país. Acaba a liberdade e a democracia. Querem controlar os poderes legislativo e judiciário. Se conseguirem controlar a Corte, acaba tudo", advertiu Antonio Cucciniello, de 64 anos.
Envolvido na bandeira do seu país, o imigrante venezuelano, Jaime Herrera, de 32 anos, fez uma advertência: "Eu vi isso acontecer no meu país, mas não vou permitir que aconteça aqui. Na Venezuela, começou assim até controlarem a justiça. E aqui a história repete-se. Nós, venezuelanos que escolhemos a Argentina, não podemos permitir", alertou.
"Eu acredito simplesmente que os manifestantes estão enganados. Não está em discussão a liberdade, mas a saúde. A História dirá a responsabilidade que cabe a cada um. Temos a tranquilidade de termos sempre pensado na Saúde da população", defendeu-se o presidente Alberto Fernández, que definiu os manifestantes como "anti-quarentena".
"Estamos num momento em que a responsabilidade está nas mãos de cada um de nós", advertiu Fernández.
"O governo definiu os manifestantes como anti-quarentena na tentativa de os culpar pelo aumento de contágios. Diz que a quarentena já não existe porque não a respeitam. O conceito de quarentena é tão incómodo hoje para a sociedade que o Governo tenta desembaraçar-se de uma estratégia na qual insistiu durante muitos meses e que mostra o seu esgotamento", concluiu o analista Sergio Berensztein.