A crise política que se sucedeu após a humilhante derrota de novembro face ao vizinho e rival Azerbaijão registou na quinta-feira um novo desenvolvimento após um apelo do estado-maior das Forças Armadas à demissão de Pachinian, que de imediato denunciou uma tentativa de golpe de Estado e reuniu cerca de 20.000 apoiantes na capital Erevan.
Em resposta, a oposição organizou uma contramanifestação que juntou pelo menos 10.000 pessoas, que ergueram barricadas, montaram tendas, bloquearam as ruas em redor do parlamento e prometeram permanecer no local até à saída de funções do primeiro-ministro.
Após terem acampado durante a noite, os opositores desfilaram hoje no centro de Erevan, agitando bandeiras arménias e ecoando palavras de ordem contra o Governo.
"O povo deve descer à rua e exprimir a sua vontade para que sejam evitados um banho de sangue e a crise", afirmou o ex-primeiro-ministro Vazguen Manoukian, que a oposição pretende na chefia do Executivo.
"Ou nos livramos deles [o Governo], ou então perderemos a Arménia", acrescentou.
Os manifestantes desfilaram frente à sede da presidência e de seguida do Governo, antes de um encontro previsto entre Pachinian e o Presidente Armen Sarkissian, com funções essencialmente protocolares.
Nikol Pachinian já manifestou disposição em iniciar "consultas" com a oposição para apaziguar as tensões, mas também ameaçou com prisão quem violar a lei.
Guegham Manoukian, um dirigente do partido da oposição Federação Revolucionária Arménia, insistiu hoje que apenas falará com Nikol Pachinian "sobre a sua demissão".
Em paralelo, o chefe da diplomacia francesa apelava em Paris ao "diálogo" entre os apoiantes do primeiro-ministro arménio e a oposição, para preservar a "democracia".
"A França deseja que o diálogo possa ser instaurado neste país apoiando-se na legitimidade do Presidente [Armen Sarkissian] e do primeiro-ministro arménios (...) para garantir uma situação mais serena num país que conheceu horas difíceis", declarou Jean-Yves Le Drian no decurso de uma conferência de imprensa comum com o seu homólogo ucraniano Dmytro Kuleba.
"Os elementos da democracia arménia devem prevalecer", insistiu Le Drian, ao manifestar inquietação dos "riscos de violências" no país e na sequência das manifestações de quinta-feira.
A oposição exige o afastamento do primeiro-ministro, no poder desde 2018 e assente numa estratégia de "revolução pacífica", após a derrota na guerra pelo controlo da região do Nagorno-Karabakh em novembro passado.
Na ocasião, e confrontado com o risco de colapso, o exército pediu ao chefe de Governo para aceitar as condições de um cessar-fogo negociado pelo Presidente russo Vladimir Putin, e que implicava importantes perdas territoriais para a Arménia.
Apesar de ter sido garantido o essencial da região separatista arménia do Nagorno-Karabakh, a Arménia perdeu a cidade simbólica de Shusha, e ainda diversos territórios azeris que circundavam a região. Em seis semanas, o conflito provocou perto de 6.000 mortos.
A hierarquia militar apoiava até ao momento o primeiro-ministro, mas retirou-lhe o apoio esta semana após o afastamento de um oficial superior que criticou as declarações de Pachinian, pelas quais a derrota foi devida em parte à ineficácia de um sistema de armamento russo, os lança-mísseis Iskander.
O estado-maior arménio exigiu a demissão de Pachinian, ao considerar "já não possuir condições para tomar as decisões que se impõem", e acusando-o de "ataques destinados a desacreditar as Forças Armadas".
No entanto, esta declaração não foi acompanhada por qualquer movimentação de tropas.
Na sequência da sua independência da URSS em 1991, a Arménia já registou uma série de crises e revoltas, à semelhança das restantes ex-repúblicas soviéticas do Cáucaso do Sul.