A declaração surge após acusações de que estaria a recusar a entrada dos birmaneses que tentam atravessar a fronteira.
Numa conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros tailandês Tanee Sangrat afirmou que as autoridades provinciais e as agências de segurança na fronteira têm experiência em acolher requerentes de asilo de Myanmar e de outros países vizinhos.
"Tomaram medidas para terem infraestruturas ao longo da fronteira. Mas até agora ninguém atravessou a fronteira para procurar asilo na Tailândia", disse Tanee, insistindo que, no passado, a Tailândia acolheu birmaneses em fuga do conflito por razões humanitárias.
A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) instou na quarta-feira as autoridades tailandesas a deixarem de bloquear a entrada de suspeitos de requerentes de asilo após os meios de comunicação locais terem noticiado que um grupo de pessoas, incluindo dois monges e duas mulheres, foram alegadamente deportadas após passarem a fronteira no domingo.
A HRW acusou as autoridades de Chiang Rai, no norte, de não terem verificado se algumas delas estavam a fugir da violenta repressão dos manifestantes pró-democracia por parte dos soldados e da polícia em Myanmar.
A ONG observou que as autoridades tailandesas fecharam as fronteiras devido à pandemia de covid-19, mas advertiu que isto não é uma desculpa para não acolher os requerentes de asilo.
Mais de 60 pessoas foram mortas na repressão militar e policial contra manifestantes em protestos pacíficos em Myanmar contra a junta militar, formada após um golpe de estado a 01 de fevereiro.
A Tailândia tem sido um dos países menos duros em relação à junta militar em Myanmar, limitando-se a expressar "preocupação e tristeza" com a perda de vidas, ao mesmo tempo que pediu "contenção e flexibilidade" de ambos os lados.
Uma posição que contrasta com as condenações mais explícitas dos Estados Unidos e da UE, mas que está em sintonia com o princípio de não interferência nos assuntos internos de outros países no seio da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
A Tailândia também não é signatária da convenção das ONU sobre refugiados e considera emigrantes ilegais os requerentes de asilo que não se encontram confinados em campos especiais.
Contudo, nas últimas décadas, o país acolheu muitos refugiados, dos quais cerca de 91 mil permanecem em nove campos ao longo da fronteira com Myanmar.
O exército, que governou Myanmar com mão de ferro entre 1962 e 2011, tem vindo a travar um conflito armado de décadas com várias guerrilhas de minorias étnicas ao longo da fronteira, com os militares a sereem acusados pela ONU de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.