"A arquitetura internacional de financiamento do desenvolvimento deve oferecer opções que vinculem a ação climática com a sustentabilidade da dívida", indicou António Guterres, durante a cimeira latino-americana do Clima, que decorreu na quarta-feira, em Buenos Aires.
"Contem com as Nações Unidas para a tríplice ameaça de covid-19, alteração climática e dívida", disse o secretário-geral da ONU, ao destacar ser "fundamental alinhar os pacotes de recuperação da covid-19 com o objetivo de 1,5 graus de temperatura e promover a resiliência perante as consequências das alterações climáticas".
Num discurso em espanhol e em inglês, António Guterres pediu que os bancos reservem metade dos fundos para a luta contra as alterações climáticas nos países em desenvolvimento.
"Precisamos de um avanço na resiliência. Apelo aos doadores e aos bancos de desenvolvimento para designarem pelo menos 50% [dos fundos] para apoiarem a transição das nações da América Latina e das Caraíbas para as energias renováveis", insistiu Guterres, salientando que esse nível está em apenas 20% do financiamento mínimo necessário.
"Os países em desenvolvimento precisam de 70 mil milhões de dólares [59 mil milhões de euros] por ano, montante que poderá quadruplicar até o final desta década", quantificou.
"Precisamos que os bancos de desenvolvimento incluam o objetivo de 1,5 grau nas suas carteiras de adaptação, que facilitem o acesso ao financiamento e que estejam dispostos a assumirem mais riscos", acrescentou o responsável, lembrando que a quantia comprometida há mais de uma década, durante a COP16, realizada no México em 2010, foi de 100 mil milhões de dólares [85 mil milhões de euros].
Antes do secretário-geral da ONU, o Presidente argentino, Alberto Fernández, tinha também associado a questão ambiental com a pandemia e a dívida dos países em desenvolvimento, propondo a troca de dívida por ações ambientais num "grande pacto de solidariedade ambiental".
"As lições aprendidas com as vacinas nesta pandemia têm de ser aplicadas à próxima pandemia da qual já padecemos: a das alterações climáticas", apontou Fernández.
"Precisamos aplicar a emissão dos Direitos Especiais de Giro do Fundo Monetário Internacional a um grande pacto de solidariedade ambiental que inclua essencialmente países de baixo e médio rendimento e que sirva para estender os prazos para atender aos pagamentos de dívida e à aplicação de menores taxas na atual situação de stress sanitário e ecológico", explicou.
Tal como Guterres, o Presidente argentino pediu também que "os organismos internacionais de desenvolvimento comprometessem, pelo menos, 50% das carteiras de empréstimos às ações climáticas".
"O sistema de governança global não demonstrou ser eficaz para movimentar recursos aos países em desenvolvimento. O desafio é o envolvimento comprometido e coordenado de quatro atores fundamentais: países devedores, países credores, instituições financeiras internacionais e o setor privado", resumiu Alberto Fernández, que intitulou essa 'arquitetura' de "justiça social ambiental".
O "Diálogo de Alto Nível sobre Ação Climática nas Américas" foi uma cimeira regional prévia à Conferência das Nações Unidas sobre Alteração Climática (COP26) que vai reunir, entre 31 de outubro e 12 de novembro, os líderes mundiais em Glasgow, na Escócia.
Além da Argentina, a reunião teve a coorganização de Barbados, Chile, Colômbia, Costa Rica, Panamá e República Dominicana e as participações do secretário-geral da ONU, António Guterres, e do enviado especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry.
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