Jamal Khashoggi não estaria numa lista de mil pessoas a assassinar
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, defendeu hoje a sua inocência relativamente ao assassinato de Jamal Khashoggi em 2018 e sustentou que se hipoteticamente existisse uma lista de mil pessoas para matar, o jornalista não constaria nela.
© Chris McGrath/Getty Images
Mundo Jamal Khashoggi
Numa entrevista publicada na revista norte-americana The Atlantic, Mohamed bin Salman acrescentou que é "óbvio" que não ordenou o assassínio do jornalista saudita em outubro de 2018, no consulado do reino em Istambul, Turquia.
"Prejudicou-me muito. Prejudicou-me e prejudicou a Arábia Saudita desde o ponto de vista dos sentimentos", sustentou o homem que 'puxa as cordas' no país árabe e o sétimo dos filhos do rei Salman bin Abdulaziz.
Questionado sobre esses sentimentos, Bin Salman explicou que entende a raiva, especialmente dos jornalistas, pela morte de Khashoggi.
"Respeito os seus sentimentos, mas também temos sentimentos aqui, dor aqui", afirmando que é capaz de encarar as críticas.
"Se não pudesse, não estaria sentado consigo hoje escutando a sua pergunta", disse.
Ao longo da conversa que o The Atlantic tee com Bin Salman na Arábia Saudita, o príncipe esforçou-se para defender a sua inocência e mostrar uma imagem moderna de si mesmo.
Chegou inclusivamente a lamentar que os seus próprios direitos tenham sido violados, segundo ele devido ao assassinato de Khashoggi.
"Sinto que a lei dos direitos humanos não me foi aplicada", disse, numa alusão à presunção de inocência.
Um dos argumentos que utilizou para demonstrar a sua inocência é de que Khashoggi não era alguém suficientemente importante para assassinar.
"Na minha vida li um artigo de Khashoggi", apontou o príncipe, que salientou que se o seu país assassinasse autores de editorais críticos do reino o jornalista que morreu não estaria, nem muito menos, numa lista dos mil primeiros para assassinar.
"Se vais fazer uma operação deste tipo, contra outra pessoa, tem que ser profissional e tem que ser contra uma das mil primeiras", sublinhou Bin Salman aos jornalistas do The Atlantic, que manifestaram a sua perplexidade perante estas declarações.
O príncipe acrescentou que o assassinato de Khashoggi foi "um erro enorme" e sublinhou que "com sorte" não se encontrarão mais esquadrões da morte, como o que assassinou o jornalista em Istambul: "Estou a tentar fazer o melhor que posso".
Khashoggi, dissidente que residia nos Estados Unidos e era colunista do diário The Washington Post, entrou no consulado saudita em Istambul em 02 de outubro para obter documentação necessária para poder casar-se com a sua noiva, Hatice Cengiz. Mas não voltou a sair do edifício, nem até agora há rastos dos restos do corpo.
Em 31 de outubro de 2018, o promotor-chefe de Istambul, Irfan Fidan, conclui que muito pouco depois de entrar no consulado, o jornalista foi assassinado por asfixia e o seu corpo desmembrado.
Riad admitiu que agentes do Governo saudita mataram Khashoggi no consulado e condenaram cinco pessoas envolvidas, sem oferecer detalhes concretos do julgamento, mas o príncipe Bin Salman negou sempre o seu envolvimento.
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