"O CICV não está a cumprir o seu mandato" em relação às pessoas "retiradas à força para a Rússia pelo exército russo", disse esta quarta-feira Lyudmyla Denissova, responsável pelos direitos humanos no Parlamento ucraniano, na televisão ucraniana.
"Suspeito que sejam cúmplices" da Rússia, continuou, depois de ter falado na quarta-feira com um responsável do escritório ucraniano do CICV.
"Há um mês que estou a tentar falar com o presidente do CICV, para discutir com ele a deportação dos nossos cidadãos para a Rússia. Estou a tentar fazer isso depois de o presidente do CICV ter dito que o CICV abriria uma representação em Rostov-on-Don (sul da Rússia, na fronteira com a Ucrânia) e incentivar a receção de ucranianos no território do Estado agressor", declarou Denissova.
A responsável pelos direitos humanos no Parlamento ucraniano citou números da ONU, segundo os quais 550.000 refugiados ucranianos estão na Rússia, incluindo 121.000 crianças.
"Onde estão eles? Em campos de filtração? Em lares temporários? Temos testemunhos de pessoas que foram levadas" para a Rússia, realçou.
Lyudmyla Denissova adiantou que pediu à sua colega russa Tatiana Moskalkova que lhe fornecesse as listas de refugiados ucranianos na Rússia, para poder trabalhar com a Cruz Vermelha na repatriação dos mesmos: "Resposta zero dela e do CICV".
Questionado pela AFP, o CICV "rejeitou firmemente essas falsas acusações", assegurando mais uma vez que não "realizaria evacuações forçadas" e lembrou que a organização "facilitou a passagem voluntária de civis e feridos em total segurança para outras cidades ucranianas".
A organização confirmou "ter explorado a possibilidade de abrir um escritório em Rostov-on-Don" para "aliviar o sofrimento das pessoas afetadas pelo conflito armado".
"Construir e manter um diálogo com as partes em conflito é essencial, para obter acesso a todos os afetados e obter as garantias de segurança necessárias para que as nossas equipas prestem assistência para salvar vidas", destacou o CICV.
O CICV também disse que teve "uma reunião positiva e construtiva" com a responsável pelos direitos humanos ucraniana na quarta-feira e "respondeu às preocupações das autoridades sobre essas questões de forma bilateral e confidencial".
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de 5 milhões das quais para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU -- a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
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